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terça-feira, 2 de julho de 2019

A Abordagem Moral Prescritivista na Bíblia

Para quem não está familiarizado com o tema:

"O prescritivismo é a teoria ética que parte da ideia que as regras morais não são relativas à sociedade e nem ao individuo. Existem coisas que são certas ou erradas de se fazer em qualquer situação.
Os prescritivistas buscam resolver alguns desafios: (...) Ética (egoísmo psicológico e ideia de vida injusta como uma vida melhor); e problemas com a moral (muitas regras, conflitos entre regras e o que fazer em novos casos). Para tentar responder os desafios, Kant buscou encontrar um princípio ético a partir do qual se possa derivar todas as regras morais, este princípio é chamado Imperativo Categórico que defende que devemos agir segundo uma regra que possa ser universal."

A ideia de abordar algumas dificuldades bíblicas de acordo com a perspectiva Prescritivista me ocorreu depois de fazer a leitura (e escrever uma série de refutações) a alguns argumentos apresentados pelo progressista Ben Dupré no livro 50 Ideias de Filosofia.

A questão básica seria o fato que, apesar de os valores morais serem objetivos e universalizáveis na visão prescritivista, dilemas surgem quando há comandos conflitantes num dado momento, já que nem sempre se pode obedecer a várias injunções/comandos ao mesmo tempo.

Parte do problema dos cristãos com a verdade bíblica se deve a negação de que na Bíblia haja sim textos que são dirigidos a todos e em qualquer situação (primeiro mandamento), mas também há os textos que não servem para qualquer caso (mas só para alguns contextos, ex.: dar a outra face) e textos que só se aplicaram a uma situação específica e mais nada (o uso de véu na igreja pelas mulheres de Corinto). Não quero me delongar nas explicações, mas trouxe alguns exemplos:

"Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, não lhe negues também a túnica." (Lucas 6:29).

"E, havendo ele dito isso, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote? Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se bem, por que me feres?" (João 18:22-23).

Ou seja, Jesus não seguiu o próprio conselho. O que nos leva a apenas 2 explicações: Ou Jesus mentiu e não merece nosso crédito, ou sua palavra sobre "dar a outra face" estava em um contexto diferente. Podemos analisar isso facilmente já que dar a outra face pode romper antigas mágoas mas certamente seria um péssimo conselho a seguir ao sofrer um julgamento injusto ou caso você trabalhe como policial e precise resgatar vítimas civis de bandidos fortemente armados. O que nos leva à situação controversa (para alguns) sobre o cristão e as armas:

"Então Jesus lhe disse: Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão." (Mateus 26:52).

Todavia, mais adiante, na Bíblia lemos também:

"Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a ESPADA; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal." (Romanos 13:3-4).

Que dizer então da crença fortemente arraigada do "bom mocismo cristão" que diz que "o cristão a ninguém deve ofender"?

"Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem." (Efésios 4:29).

"Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno." (Mateus 5:22).

Todavia, em Mateus 23, Jesus ofende e MUITO algumas pessoas:

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós." (Mateus 23:15).

Caso se prossiga no capítulo, veremos Jesus proferir exatos 16 xingamentos VERDADEIROS. O que me faz lembrar algumas palavras do apóstolo Paulo:

"seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus." (1 Corintios 5:5).

Afinal, alguns castigos podem produzir arrependimento. E isso contradiz o relativismo do "não-verdade" já que até nisso ele nos brinda a cada ano com novas tendências pedagógicas falidas e fadadas ao fracasso por nos fazer esquecer a obviedade do antigo provérbio:

"Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho; mas quem o ama, a seu tempo o castiga." (Provérbios 13:24).

Creio já ter usado exemplos suficientes para respaldar minha abordagem prescritivista das Escrituras Sagradas: de FATO há  SIM na Bíblia textos que são dirigidos a todos e para qualquer situação, mas também há os textos morais/éticos que só servem para alguns contextos, e há os textos que só se aplicaram a uma situação específica e mais nada.

O grande problema é que estão em voga movimentos de cristãos pró-aborto, pró-casamento gay, contra a pena para certos indivíduos imorais e infratores (a depender do crime e da idade) e até cristãos que ousam votar em corruptos reconhecidos em clara oposição ao que Escritura ensina em Ezequiel 18:20: "A alma que pecar, essa morrerá".

Consigo entender que alguém, por ignorância, rejeite a fé em Deus ao notar que nem tudo na Bíblia poder ser aplicado por todos em qualquer situação, que há sim paradoxos e contradições a se resolver nas Escrituras; o que não entendo é quem deu aos cristãos de hoje a autoridade de escolher em quais partes da Bíblia crer, conforme seu gosto pessoal e SEM ANÁLISE de riscos (sejam para o indivíduo, família, sociedade, economia ou mesmo nosso status civilizacional), afinal, haveria algum lugar para a verdade onde coubesse a qualquer um sua própria interpretação? 

Se for deixado para a Bíblia dar resposta à essa minha pergunta, imagino que só nos restará reagir como as pessoas reagiam a Jesus, sem meio-termo, havia quem o amasse e quem procurasse sua morte, só isso... Para alguém que afirmou ser Ele mesmo a verdade, o que encontro é o testemunho de um de seus discípulos mais chegados fechando a questão das especulações relativistas sobre os textos bíblicos ao simplesmente nos dizer:

"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação." (2 Pedro 1:20). 

Que isso possa ajudar nossos irmãos cristãos a lembrar que nossa moral não está à venda!

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