Proibido Pensar,
novamente, lidando com algumas polêmicas ensinadas, volta e meia, a respeito da
Bíblia, resolveu dedicar um momento de estudo para lidar com um tema antigo
quanto controverso no meio cristão: o cristão deve ou pode fazer uso de bebida alcoólica?
Sumariamente, é
bom já advertir o leitor que toda a argumentação será pautada unicamente na
Bíblia, logo, opinião pessoal não vale. Então... o que realmente a Bíblia diz
a respeito de bebida fermentada?
Fermentada?! Sim! O álcool presente nas bebidas é o resultado da fermentação do açúcar por parte
das bactérias que proliferarem no líquido enquanto ele envelhece.¹
Algum de vocês já
ouviu o velho apelo ao "original grego" no qual muitos pastores afirmam
que o vinho consumido pelo judeu era o famoso "oinos", um termo grego
supostamente usado apenas para vinho não fermentado? Eu já... e várias vezes, tanto por pastores pentecostais quanto por pastores adventistas. Mas seria esse argumento
verdadeiro?
Um dos elementos
que ajuda a compreender melhor qualquer possível falha de tradução num texto é
seu contexto. Sabendo disso, separei algumas citações críticas em que a
alegação acima, a quem carinhosamente batizei de "argumento oinos",
não se aplica. Afinal, não se pode criar doutrina sobre qualquer tema bíblico
com base em apenas um versículo (excluindo-se talvez, teoricamente, em casos em
que haja apenas um versículo em toda Bíblia falando sobre certo tema em
questão, mas ainda não passei por essa situação nos meus anos de leitura
bíblica).
Vamos à Bíblia então! Analise:
"E começou
Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha. Bebeu do vinho, e
embriagou-se; e achava-se nu dentro da sua tenda."
(Gênesis
9:20-21).
Ok, se Noé bebeu o
suficiente pra se embriagar, logo tratava-se de vinho alcoólico. Desconheço bebidas não alcoólicas com capacidade de embebedar; caso você, leitor, conheça, por favor, comente e cite suas fontes e ficarei grato. Por ora, temos 1x0 para o vinho alcoólico.
"Não é dos
reis, ó Lemuel, não é dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida
forte; para que não bebam, e se esqueçam da lei, e pervertam o direito de
quem anda aflito. Dai bebida forte ao que está para perecer, e o vinho ao
que está em amargura de espírito. Bebam e se esqueçam da sua pobreza, e da
sua miséria não se lembrem mais." (Provérbios 31:4-7).
Esse ponto é bastante curioso, pois há quem desconheça que existe sim um versículo bíblico que estimula o consumo de bebida forte, especialmente se você tem uma "vida amargurada". Haverá quem defenda que há uma contraposição entre a ideia de que os reis não bebam - para que não tomem decisões estúpidas - em contraposição a uma justificativa aos que sofrem e tem na bebida uma das poucas válvulas de escape para "afogar suas mágoas". É certo que a Bíblia não aprova tudo que descreve, mas deixe-me tentar fazer entender a gravidade do problema que é termos um versículo desse calibre na Bíblia:
1 - Ainda que sendo exceção, fica demonstrado que há um provérbio (e podemos entender o provérbio como um conselho) bíblico que faz apologia da bebida e, se há ao menos um caso de apologia, não se pode condenar o ato em si de forma absoluta.
2 - Não há no provérbio a mesma conotação de de 1 Timóteo 5:23, em que Paulo diz para Timóteo beber água misturada com vinho para tratar de um problema de estômago; em Provérbios 31:4-7 a assertiva é clara quanto ao beber para "afogar as mágoas" e não há nada de medicinal nisso.
3 - É sabido que quando de embriaga no álcool a pessoa sofre um certo grau de intoxicação leve que pode produzir amnésia do que se fez ou disse enquanto se estava embriagado. Ora, mas é exatamente isso que o versículo diz para que se faça! A frase é: DAI BEBIDA FORTE ao que está para perecer, e o vinho AO QUE ESTÁ EM AMARGURA DE ESPÍRITO. BEBAM E SE ESQUEÇAM da sua pobreza, e da sua miséria NÃO SE LEMBREM MAIS." Alegar que o versículo diz outra coisa é distorcer o que a Bíblia está dizendo.
4 - Para se fazer uma defesa da abstinência total de bebida alcoólica ou permiti-la apenas a nível medicinal seria necessário BANIR esse trecho de provérbios da Bíblia como "texto não inspirado". A isso alguns rebatem como sendo uma questão cultural da época ou que "Deus estaria sendo paciente com seu povo para ensinar-lhes mais tarde a abstinência de bebida forte" pois deus não aprovaria o consumo da mesma. Vejamos se a Bíblia confirma isso:
"E ninguém
deita vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres,
e perder-se-á o vinho e também os odres; mas deita-se vinho novo em odres
novos."
(Marcos 2:22).
Ora, se as pessoas
conheciam os exemplos que Jesus citava, na pior das hipóteses, o judeu
manipulava vinho alcoólico, pois Jesus estava mencionando o rompimento dos odres
velhos justamente por causa dos gases produzidos pela fermentação que fariam o
odre velho, que já havia expandido no início de sua vida útil, se expandir
novamente, além da conta, pelo ganho de volume de seu interior, provocando o
rompimento do odre.
"E ninguém
deita vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres e
se derramará, e os odres se perderão; mas vinho novo deve ser deitado em
odres novos. E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: O velho
é bom."
(Lucas 5:37-39).
Nesse ponto já
fica claro que o judeu nos tempos de Cristo CONSUMIA vinho alcoólico, do contrário, como Jesus
poderia citar a reação costumeira da preferência do povo por vinho fermentado? a quem Jesus dedicou seu ministério? a gentios? ou sua pregação era direcionada aos judeus? Se quiser saber a resposta leia: Mateus 15:22-26, 23:37 e João 1:11. E não vamos parar por aqui...
"Três dias
depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de Jesus; e
foi também convidado Jesus com seus discípulos para o casamento. "E, tendo
acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho."
(João 2:1-3).
(...) Ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em
cima. Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o
fizeram. Quando o mestre-sala provou a água tornada em vinho, não sabendo donde
era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o
mestre-sala ao noivo (...)"
(João 2:7-9).
A situação se
complica cada vez mais quando vemos que o primeiro milagre de Jesus foi
PRODUZIR VINHO. Não há evidência alguma que nos permita conjecturar sobre a
composição do vinho do milagre. Logo, não pode ser usado como desculpa de que
seria um vinho nem com nem sem álcool, só o que sabemos é que o milagre parece
endossar a prática cultural do consumo de bebida forte em celebrações. Para que o sabor fosse reconhecido como vinho ele não teria de ser minimamente, com o perdão da expressão, "arretado"?
Eu sei que isso
pode parecer contra-intuitivo a cristãos puritanos, abstêmios, ou da geração
saúde ou mesmo pode incomodar alguns irmãos adventistas que investem pesado em desestimular o consumo de bebida alcoólica; ao mesmo tempo que
pode ser a alegria descarada de beberrões travestidos de cristãos que buscam
uma desculpa pra seu VÍCIO. De fato, a Bíblia possui reprimendas contra
qualquer tipo de vício e, mais especificamente, contra ser DOMINADO POR BEBIDA forte e exemplos não faltam: Levítico 10:9; Números 6:3;
Deuteronômio 14:26; 29:6; Juízes 13:4,7,14; I
Samuel 1:15; Provérbios 20:1; 31:4,6; Isaías 5:11,22;
24:9; 28:7; 29:9; 56:12; Miquéias 2:11; Lucas
1:15, por aí vai... mas daí a dizer que a abstinência de álcool faz parte da mensagem bíblica, aí já é desonestidade intelectual distorcendo o contexto e dizendo o que a Bíblia não diz. Seria mais honesto usar ciências como a economia, a medicina ou a psicologia para desestimular o uso de bebidas alcoólicas pois não falta material teórico para se embasar e descrever suas consequências a curto, médio e longo prazos.
Em verdade, em verdade te digo que a ciência faz uma propaganda muito melhor pelo abandono do álcool que a Bíblia.
E só pra constar:
eu NÃO BEBO.
Fontes:
arrasou no texto, ja sou fã desse blog!
ResponderExcluir