PORQUE NÃO SOU
CALVINISTA
Pra quem
acompanhou a última matéria do Proibido Pensar (O Problema do Mal e do Livre-Arbítrio), fomos levados a questionar os motivos pelos quais, dentro da
cosmovisão cristã, Deus teria escolhido como preferível um universo com
livre-arbítrio (sendo que a existência do livre-arbítrio EXIGIRIA a existência do mal
como condição sine qua non) em comparação com um universo de inteligência
mecânica (sem livre-arbítrio) das criaturas inteligentes.
Qualquer
protestante sabe o que é Calvinismo: a crença na inexistência do
livre-arbítrio. Por essa vertente cristã, crê-se que Deus escolhe quem será mau
e quem será bom, quem será pecado e quem será santo, quem será feliz e quem
não será, quem será salvo e quem será condenado no juízo final, etc, dissipando
a responsabilidade humana por seus atos e cometendo o equívoco de encarar a
pré-ciência de Deus como causa das escolhas humanas. em outras palavras, trata-se de uma versão cristã do determinismo lógico (ou determinismo absoluto, como queiram), que é uma falácia.
Eu costumo usar
um exemplo simples para desmentir essa crença falaciosa: o pai ordena que o
filho peralta não suba na quina da pia para alcançar o armário e pegar o pote
de biscoitos pois pode cair e se machucar feio; eventualmente, o pimpolho sobe
na quina da pia, desobedecendo o pai que acaba de chegar em casa e vê o menino
caindo de costas e batendo a cabeça no chão direto da extremidade oposta da
cozinha sem tempo o bastante pra evitar a queda do filho. O pai SABIA que o
garoto ia cair, mas NÃO CAUSOU SUA QUEDA! Saber o que vai acontecer com
antecedência não torna uma pessoa a causa do evento. Ponto.
Muito embora o
Calvinismo seja uma crença bizarra que anula a responsabilidade humana,
satiriza a possibilidade de existência da justiça e torna o diabo um exemplo a
ser seguido (afinal, quem em sã consciência seguiria um Deus injusto como esse?
...a menos que estivesse programado pra isso) essa crença é parte da confissão de fé de várias vertentes protestantes como a Igreja Presbiteriana e a Igreja Evangélica Cristo
Vive (só pra citar dois exemplos conhecidos).
Na última matéria
do blog, quando questionamos em que um universo mecânico seria melhor que um
com livre-arbítrio, apresentamos 2 universos a partir de 2 possibilidades
opostas:
*Universo
A: um Deus onisciente e auto-suficiente (João 5:26 e Salmo
139) cria seres inteligentes, porém autômatos, que o amam porque foram
programados para amá-lo, não dando margem nem para o LIVRE-ARBÍTRIO nem para o
SURGIMENTO ou EXISTÊNCIA do MAL (que é uma condição para a existência do
livre-arbítrio).
*Universo
B: um Deus onisciente e auto-suficiente (João 5:26 e Salmo
139) cria seres inteligentes e deseja que eles o amem, porém, para que
esse "amor" seja "legítimo" é preciso que haja a
possibilidade de que essas pessoas o rejeitem, então Deus cria condições para
que sua criação possa tanto aceitá-lo como rejeitá-lo, permitindo todas as
condições propícias para o surgimento de algo que Ele NÃO DESEJA: o
MAL. Mas como há uma margem lógica nisso (Como saber se há bem sem o mal?
Como conhecer a luz sem as trevas? Como dar valor sem conhecer a ausência?),
sendo o Universo B uma criação muito estranha, porém coerente.
A oposição lógica correta entre situações não é algo devidamente dominado pela humanidade em geral... e isso inclui a cristandade. Basta olhar para exemplos como a crença em "morte eterna" como sinônimo de tortura. Morte é oposto de vida, é cessação, inexistência. Esse é apenas um exemplo de alguns absurdos cometidos que cabe para introduzir o seguinte caso: É comum vermos
pessoas argumentando que Calvinismo e Arminianismo¹ são pares de opostos.
Não são. O oposto correto ao Arminianismo é o "Universo
A" citado acima: ambos conceituam uma ideia complexa e completa de universo, um com e
um sem livre-arbítrio respeitando o princípio lógico da Não-Contradição, também
conhecida como "Lei do Terceiro Excluído". Lembrem-se: terceiro
EXCLUÍDO... E esse terceiro, no nosso caso, é o Calvinismo. Por estar embasado no "determinismo absoluto", que é uma crença ilógica, o Calvinismo se torna igualmente sem sentido. Ora, se não há livre-arbítrio então o mal não existe
porque a existência do mal pressupõe que eu tenha uma legítima capacidade de rejeitar o bem (Deus). O Calvinismo sequer foi eficiente em pintar autômatos. O mal precisa de nosso
livre-arbítrio para existir. O livre-arbítrio criou o mal.
Como seria
possível alguém chegar à conclusão de que o Calvinismo é verdadeiro se sua
mente pré-determinada não tem a capacidade de crer no contrário? Por que o
mandamento de Cristo de evangelização as nações (Marcos 16:15) foi dado se não temos condições
de escolha? Como ao homem poderia ser imputada culpa pelo pecado original ou
demais pecados (Gênesis 3 e Romanos 5:3) se Deus os determinou? Por que Cristo precisaria morrer pelos
pecados das pessoas (João 3:16 e Hebreus 10) se quem está salvo está pré-determinadamente salvo e quem está perdido está pré-determinadamente perdido?
Tanto o Cristianismo quanto qualquer forma de teísmo que caracteriza
Deus como "bom, justo, perfeito, lógico e mentalmente são" se torna
insustentável partindo de uma visão calvinista de mundo.
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