Já sabemos que a
doutrina católica romana apresenta 21 rejeições à Sola Scriptura, que é um
princípio protestante de interpretação bíblica que admite apenas a bíblia como
regra de fé e prática do cristão. Teriam essas 21 rejeições embasamento lógico
coerente?
Antes de
abordá-las passo-a-passo é preciso dizer que a não-aceitação da Sola Scriptura
é algo paradoxal por uma pequena série de motivos:
a) A Bíblia não
afirma ser ela a ÚNICA fonte usada por Deus para revelar sua existência ao
homem (embora seja a principal);
b) As duas outra
forma de revelação que a Bíblia admite que Deus usou para se dar a conhecer ao
homem NÃO DEPENDEM DA AUTORIDADE ECLESIÁSTICA pois são: a complexidade da
natureza (conforme Romanos 1:20) e o Espírito Santo (1 Coríntios 2:12-16)
conferido a TODO CRISTÃO INDIVIDUALMENTE. Essas duas passagens já são
suficientes para derrubar qualquer "interpretação oficial" de um
representante religioso ou instituição, como o faz a igreja católica ao colocar
sobre si, sua tradição e sobre o papa a condição de intérprete oficial das
sagradas escrituras;
c) Os eventos
históricos que deram origem à fé cristã só chegaram a nosso conhecimento graças
à preservação da Bíblia, logo, rejeitar a Bíblia como base fundamental de fé e
prática, modificá-la ou contradizê-la em sua doutrina fundamental é
inconcebível e a própria Bíblia não dá bom prognóstico a quem assim o fizer:
“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos
escritos neste livro; e se alguém tirar qualquer cousa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa das
cousas que se acham escritas neste livro”.
Apocalipse 22, 18-19
d) Aceitar o uso
da Bíblia rejeitando a Sola Scriptura é paradoxo em looping: a bíblia é a base
histórica da fé, mas a tradição póstuma é considerada superior à base
histórica, todavia não se rejeita o texto-base da fé para formar uma religião à
parte (o que seria mais fé. Veja o caso dos muçulmanos: eles crêem nos profetas
e patriarcas do Antigo Testamento e até em alguns relatos dos Evangelhos, mas
não usam a Bíblia nem reconhecem YaHWeH como Deus, eles deixam muito claro que
sua divindade é Alá e MAOMÉ é seu profeta). Essa postura católica romana é
comparável ao paradoxo do tempo em que um jovem volta ao passado se casando com
sua própria bisavó se tornando, ele mesmo, seu ancestral e só tornando possível
sua existência graças a sua viagem temporal. Notaram o tamanho do problema?
Rejeitar o princípio de Sola Scriptura é criar um looping entre causa e efeito!
Enfim, vamos
tentar entender o ponto de vista da doutrina católica mesmo assim pra ver de
onde tiraram a ideia de que a tradição é superior à Escritura. Os 21 pontos de
rejeição foram extraídos do site bibliacatolica.com.br. Como são muitos, as refutações serão apresentadas parcialmente para não formar uma postagem gigante e cansativa. Hoje veremos as 2 primeiras refutações às rejeições da Sola Scriptura por parte do credo católico.
ARGUMENTOS DA IGREJA CATÓLICA PARA REJEITAR A SOLA SCRIPTURA
1. (A Sola
Scriptura) Não é ensinada em parte alguma da Bíblia
Nesse ponto será
fundamental explicar a argumentação católica para entender sua refutação.
Para justificar o
item 1, o católico diz:
"Os
protestantes comumente citam versículos tais como 2 Tm 3,16-17 ou Ap 22,18-19
em defesa da Sola Scriptura, mas um exame minucioso destas duas passagens
facilmente irá demonstrar que na verdade estas não suportam tal doutrina. Em 2
Tm 3,16-17 lemos: Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar,
refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito, qualificado para qualquer boa obra. (...)
A palavra grega
ophelimus utilizado no v.16 significa útil e não suficiente. Um exemplo desta
diferença seria dizer que a água é útil para nossa existência - mesmo
necessária - mas não é suficiente; isto é, ela não é o único componente que nos
manteria vivos. Também precisamos de alimentos, medicamentos, etc. Da mesma
forma, a Escritura é útil na vida do cristão, mas isto nunca quis dizer que ela
é a única fonte de ensino cristão e a única coisa que cada o necessita."
Refutação: Em
primeiro lugar, realmente há um problema no que concerne às traduções bíblicas
não expressarem 100% de concórdia, mas meditem comigo: se as traduções bíblicas
não são confiáveis em aspectos primários de fé por que usá-las? Afinal, o mesmo
Deus que gerou a divisão linguística na história bíblica da Torre de Babel
(Gênesis 11:1-9) e que deu o dom de falar línguas de nações desconhecidas a
plebeus para que pregassem aos estrangeiros a ponto de surpreender os
estrangeiros ouvirem gente simples e bitolada da Galiléia lhes anunciando sobre
Deus em suas próprias línguas maternas (Atos 2) não teria capacidade de
preservar linguisticamente seus principais ensinamentos de modo que se perdesse
no tempo? Se a escritura não é a base do Cristianismo o que é? Nações que não
tiveram contato com a Bíblia não conhecem nem crêem (como poderiam?) em Jesus
ou no Deus que protestantes e católicos crêem. Se não pode haver interpretação
leiga da Bíblia a partir de traduções o mesmo princípio deve-se aplicará literatura,
logo, caso eu leia um livro traduzido de um autor estrangeiro jamais poderei
entender a história a menos que um falante nativo daquele idioma me explique?
Não estamos falando de acréscimos ou adulteração de texto e sim de sinônimos.
Eu até posso concordar que há um ou outro aspectos doutrinários que diferentes
traduções compliquem (do contrário nunca teria começado a escrever uma série
sobre paradoxos religiosos), mas não acho possível descartar a Sola Scriptura
com base nesse argumento, mesmo reconhecendo que uma ajuda de um falante nativo
seja útil, mas nesse caso as limitações do vocabulário dele em relação ao meu
seriam as mesmas do meu em relação ao dele e entramos em paradoxo num looping
de impossibilidade de comunicação. Portanto, não só esse como TODOS os
argumentos baseados em dificuldades de tradução (ou seja, boa parte dos
argumentos dos itens por vir na matéria católica) é invalidado. Portanto, vou
me ater a outros aspectos ignorando os argumentos de que as traduções de 2 Timóteo 3,16-17 e Apocalipse 22,18-19 estariam dizendo outra coisa ao invés do que está na
maioria das traduções, incluindo as traduções católicas.
Outro problema
nesse argumento é justamente que o contexto aponta que Escritura a que Paulo se
refere é o Antigo Testamento, um fato que é claramente referido pelo fato de as
Escrituras serem conhecidas desde a tenra infância (v.15) por Timóteo.
Já sobre a
argumentação em cima do termo "perfeito" não pode ser outra coisa
além de figura de linguagem pois Paulo não cria na infalibilidade nem perfeição
literais em HOMEM NENHUM! O mesmo apóstolo Paulo que escreveu a Timóteo também
escreveu:
"Porque
todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus."
Romanos 3:23
Lembrando que
essa afirmação é fortemente reiterada em Romanos 5:12! Ou Paulo perdeu o juízo
ao escrever a Timóteo?
Quanto à passagem
de Apocalipse é possível realmente admitir que o livro esteja tratando de si
mesmo e não qualquer escritura bíblica, mas a julgar pelas palavras de Paulo em
contraste com as profecias de Daniel capítulo 7 (ênfase no versículo 25) mudar
as escrituras sagradas é alterar a "palavra/lei de Deus" sendo que
quem está profetizado que o fizesse estaria indo contra Deus. Leiam por si
mesmos.
2. A Bíblia
indica que devemos aceitar a Tradição Oral
O católico
argumenta que, baseado em 1 Coríntios 11:2 Paulo defende a tradição oral
ignorando que o contexto do versículo 3 põe uma hierarquia entre a tradição e a
obediência a Cristo:
"Ora, eu vos
louvo, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais os preceitos assim como
vo-los entreguei. Quero porém, que
saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus
a cabeça de Cristo."
1 Coríntios 11:2-3
Ora, se Cristo é
a cabeça e HOJE nossa única fonte de informações sobre Cristo são os 4
evangelhos, logo segue-se que Paulo argumenta primeiramente a favor da
Escritura, logo segue-se também que a tradição não pode estar baseada em nada
além de Cristo.
Já o argumento em
favor da tradição ensinado em 2 Tessalonicenses 2:15, unicamente, seria mais
coerente para ser usado para defender o ponto de vista da importância da
tradição:
"Assim,
pois, irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas,
seja por palavra, seja por epístola nossa."
Todavia, ele também
não alega primazia da tradição em relação ao Antigo Testamento nem a Cristo
como o faz a Igreja Católica Apostólica Romana. Vale lembrar que a ordem do
raciocínio de Paulo é invertida no argumento católico: quem estiver firme
conservará a tradição e não o oposto, isso em QUALQUER TRADUÇÃO, a partículas
"E" indica sucessão entre o "estar firme/inabalável" de
modo a "conservar as tradições".
Outro ponto é que
a Igreja Católica endossa algumas crenças distintas e não bíblicas pela
tradição. Citarei apenas um exemplo para não tornar a leitura cansativa: A
virgindade perpétua de Maria. Se apenas um exemplo do ensino da tradição
católica puder ser demonstrado falso é o suficiente para por em dúvida todo o
resto, e é o acontece nesse ponto. Resolvi citar esse exemplo porque os
evangelhos o DESMENTEM EXPLICITAMENTE em Mateus 12:46-50; 13:55-56; João
2:12; 7:3-10; Atos 1:14; 1 Coríntios 9:5; Gálatas 1:19
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