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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

PARADOXOS RELIGIOSOS: CATOLICISMO ROMANO (parte 2)

Já sabemos que a doutrina católica romana apresenta 21 rejeições à Sola Scriptura, que é um princípio protestante de interpretação bíblica que admite apenas a bíblia como regra de fé e prática do cristão. Teriam essas 21 rejeições embasamento lógico coerente?

Antes de abordá-las passo-a-passo é preciso dizer que a não-aceitação da Sola Scriptura é algo paradoxal por uma pequena série de motivos:


a) A Bíblia não afirma ser ela a ÚNICA fonte usada por Deus para revelar sua existência ao homem (embora seja a principal);

b) As duas outra forma de revelação que a Bíblia admite que Deus usou para se dar a conhecer ao homem NÃO DEPENDEM DA AUTORIDADE ECLESIÁSTICA pois são: a complexidade da natureza (conforme Romanos 1:20) e o Espírito Santo (1 Coríntios 2:12-16) conferido a TODO CRISTÃO INDIVIDUALMENTE. Essas duas passagens já são suficientes para derrubar qualquer "interpretação oficial" de um representante religioso ou instituição, como o faz a igreja católica ao colocar sobre si, sua tradição e sobre o papa a condição de intérprete oficial das sagradas escrituras;

c) Os eventos históricos que deram origem à fé cristã só chegaram a nosso conhecimento graças à preservação da Bíblia, logo, rejeitar a Bíblia como base fundamental de fé e prática, modificá-la ou contradizê-la em sua doutrina fundamental é inconcebível e a própria Bíblia não dá bom prognóstico a quem assim o fizer:

“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e se alguém tirar qualquer cousa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa das cousas que se acham escritas neste livro”.
Apocalipse 22, 18-19

d) Aceitar o uso da Bíblia rejeitando a Sola Scriptura é paradoxo em looping: a bíblia é a base histórica da fé, mas a tradição póstuma é considerada superior à base histórica, todavia não se rejeita o texto-base da fé para formar uma religião à parte (o que seria mais fé. Veja o caso dos muçulmanos: eles crêem nos profetas e patriarcas do Antigo Testamento e até em alguns relatos dos Evangelhos, mas não usam a Bíblia nem reconhecem YaHWeH como Deus, eles deixam muito claro que sua divindade é Alá e MAOMÉ é seu profeta). Essa postura católica romana é comparável ao paradoxo do tempo em que um jovem volta ao passado se casando com sua própria bisavó se tornando, ele mesmo, seu ancestral e só tornando possível sua existência graças a sua viagem temporal. Notaram o tamanho do problema? Rejeitar o princípio de Sola Scriptura é criar um looping entre causa e efeito!

Enfim, vamos tentar entender o ponto de vista da doutrina católica mesmo assim pra ver de onde tiraram a ideia de que a tradição é superior à Escritura. Os 21 pontos de rejeição foram extraídos do site bibliacatolica.com.br. Como são muitos, as refutações serão apresentadas parcialmente para não formar uma postagem gigante e cansativa. Hoje veremos as 2 primeiras refutações às rejeições da Sola Scriptura por parte do credo católico.



ARGUMENTOS DA IGREJA CATÓLICA PARA REJEITAR A SOLA SCRIPTURA


1. (A Sola Scriptura) Não é ensinada em parte alguma da Bíblia

Nesse ponto será fundamental explicar a argumentação católica para entender sua refutação.
Para justificar o item 1, o católico diz:

"Os protestantes comumente citam versículos tais como 2 Tm 3,16-17 ou Ap 22,18-19 em defesa da Sola Scriptura, mas um exame minucioso destas duas passagens facilmente irá demonstrar que na verdade estas não suportam tal doutrina. Em 2 Tm 3,16-17 lemos: Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para qualquer boa obra. (...)

A palavra grega ophelimus utilizado no v.16 significa útil e não suficiente. Um exemplo desta diferença seria dizer que a água é útil para nossa existência - mesmo necessária - mas não é suficiente; isto é, ela não é o único componente que nos manteria vivos. Também precisamos de alimentos, medicamentos, etc. Da mesma forma, a Escritura é útil na vida do cristão, mas isto nunca quis dizer que ela é a única fonte de ensino cristão e a única coisa que cada o necessita."

Refutação: Em primeiro lugar, realmente há um problema no que concerne às traduções bíblicas não expressarem 100% de concórdia, mas meditem comigo: se as traduções bíblicas não são confiáveis em aspectos primários de fé por que usá-las? Afinal, o mesmo Deus que gerou a divisão linguística na história bíblica da Torre de Babel (Gênesis 11:1-9) e que deu o dom de falar línguas de nações desconhecidas a plebeus para que pregassem aos estrangeiros a ponto de surpreender os estrangeiros ouvirem gente simples e bitolada da Galiléia lhes anunciando sobre Deus em suas próprias línguas maternas (Atos 2) não teria capacidade de preservar linguisticamente seus principais ensinamentos de modo que se perdesse no tempo? Se a escritura não é a base do Cristianismo o que é? Nações que não tiveram contato com a Bíblia não conhecem nem crêem (como poderiam?) em Jesus ou no Deus que protestantes e católicos crêem. Se não pode haver interpretação leiga da Bíblia a partir de traduções o mesmo princípio deve-se aplicará literatura, logo, caso eu leia um livro traduzido de um autor estrangeiro jamais poderei entender a história a menos que um falante nativo daquele idioma me explique? Não estamos falando de acréscimos ou adulteração de texto e sim de sinônimos. Eu até posso concordar que há um ou outro aspectos doutrinários que diferentes traduções compliquem (do contrário nunca teria começado a escrever uma série sobre paradoxos religiosos), mas não acho possível descartar a Sola Scriptura com base nesse argumento, mesmo reconhecendo que uma ajuda de um falante nativo seja útil, mas nesse caso as limitações do vocabulário dele em relação ao meu seriam as mesmas do meu em relação ao dele e entramos em paradoxo num looping de impossibilidade de comunicação. Portanto, não só esse como TODOS os argumentos baseados em dificuldades de tradução (ou seja, boa parte dos argumentos dos itens por vir na matéria católica) é invalidado. Portanto, vou me ater a outros aspectos ignorando os argumentos de que as traduções de 2 Timóteo 3,16-17 e Apocalipse 22,18-19 estariam dizendo outra coisa ao invés do que está na maioria das traduções, incluindo as traduções católicas.

Outro problema nesse argumento é justamente que o contexto aponta que Escritura a que Paulo se refere é o Antigo Testamento, um fato que é claramente referido pelo fato de as Escrituras serem conhecidas desde a tenra infância (v.15) por Timóteo.

Já sobre a argumentação em cima do termo "perfeito" não pode ser outra coisa além de figura de linguagem pois Paulo não cria na infalibilidade nem perfeição literais em HOMEM NENHUM! O mesmo apóstolo Paulo que escreveu a Timóteo também escreveu:

"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus." 
Romanos 3:23

Lembrando que essa afirmação é fortemente reiterada em Romanos 5:12! Ou Paulo perdeu o juízo ao escrever a Timóteo?

Quanto à passagem de Apocalipse é possível realmente admitir que o livro esteja tratando de si mesmo e não qualquer escritura bíblica, mas a julgar pelas palavras de Paulo em contraste com as profecias de Daniel capítulo 7 (ênfase no versículo 25) mudar as escrituras sagradas é alterar a "palavra/lei de Deus" sendo que quem está profetizado que o fizesse estaria indo contra Deus. Leiam por si mesmos.


2. A Bíblia indica que devemos aceitar a Tradição Oral

O católico argumenta que, baseado em 1 Coríntios 11:2 Paulo defende a tradição oral ignorando que o contexto do versículo 3 põe uma hierarquia entre a tradição e a obediência a Cristo:

"Ora, eu vos louvo, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais os preceitos assim como vo-los entreguei. Quero porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo." 
1 Coríntios 11:2-3

Ora, se Cristo é a cabeça e HOJE nossa única fonte de informações sobre Cristo são os 4 evangelhos, logo segue-se que Paulo argumenta primeiramente a favor da Escritura, logo segue-se também que a tradição não pode estar baseada em nada além de Cristo.

Já o argumento em favor da tradição ensinado em 2 Tessalonicenses 2:15, unicamente, seria mais coerente para ser usado para defender o ponto de vista da importância da tradição:

"Assim, pois, irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa."

Todavia, ele também não alega primazia da tradição em relação ao Antigo Testamento nem a Cristo como o faz a Igreja Católica Apostólica Romana. Vale lembrar que a ordem do raciocínio de Paulo é invertida no argumento católico: quem estiver firme conservará a tradição e não o oposto, isso em QUALQUER TRADUÇÃO, a partículas "E" indica sucessão entre o "estar firme/inabalável" de modo a "conservar as tradições".
Outro ponto é que a Igreja Católica endossa algumas crenças distintas e não bíblicas pela tradição. Citarei apenas um exemplo para não tornar a leitura cansativa: A virgindade perpétua de Maria. Se apenas um exemplo do ensino da tradição católica puder ser demonstrado falso é o suficiente para por em dúvida todo o resto, e é o acontece nesse ponto. Resolvi citar esse exemplo porque os evangelhos o DESMENTEM EXPLICITAMENTE em Mateus 12:46-50; 13:55-56; João 2:12; 7:3-10; Atos 1:14; 1 Coríntios 9:5; Gálatas 1:19



Leia a Parte 1 da matéria
Continua na Parte 3

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