Matérias

sábado, 7 de setembro de 2013

PARADOXOS RELIGIOSOS: ADVENTISMO (parte 4)

A LEI MORAL DE DEUS


Quem nunca viu um adventista argumentar a eternidade da lei moral de Deus que atire a primeira pedra. E ele está certo. O próprio Deus declara: Porque eu, o Senhor, não mudo em Malaquias 3:6. Logo, Deus não pode mudar seu caráter... mas pode mudar uma sentença e a Bíblia está repleta de passagens sobre Deus mudando de ideia diante do arrependimento das pessoas. O livro de Jonas inteiro é um exemplo, mas deixemos isso pra outro momento. Logo no que a lei de Deus depender do seu caráter ele não pode mudá-la e APENAS NESSE CASO. Mas QUAL seria a lei de Deus?

É comum observar variações judaizantes do cristianismo argumentarem a favor de interpretação subliminar de "princípios", o que, pra virar legalismo, falta um passo.

Vamos evitar extremos nessa matéria partindo de uma das mais claras definições bíblicas de pecado: na Bíblia "pecado" é a transgressão da lei de Deus, conforme 1 João 3:4. Nessa "clara" definição já teremos de abrir parênteses porque as traduções não apresentam consenso nesse versículo-chave usado pelos adventistas. Compare as traduções:

Tradução Almeida Corrigida Fiel:
"Qualquer que comete pecado, também comete iniquidade; porque o pecado é iniquidade".

Tradução Almeida Revista e Atualizada:
"Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei".

Nova Tradução na Linguagem de Hoje:
"Quem peca é culpado de quebrar a lei de Deus, porque o pecado é a quebra da lei".

Tradução Bíblia Viva:
"Mas aqueles que continuam a pecar estão contra Deus, porque todo pecado é feito contra a vontade de Deus".


E o que dizer nesse mesmo assunto de Tiago 4:17?, pois diz: Aquele que souber fazer o bem, e não o fazpeca.

A noção de pecado começa sim pela lei, conforme diz o apóstolo Paulo: "De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei". Isso está em Romanos 7:7. Mas ele não se restringe aos mandamentos, quer você considere toda a Torah quer você considere só o Decálogo! E eu vou tentar demonstrar esse ponto de vista.

Mesmo que se parta do princípio que pecado seja apenas transgressão de mandamentos, o que dizer de quando Deus manda alguém quebrar um dos 10 mandamentos? Como quando Deus sentencia à morte certos pecados (clique aqui para ler alguns exemplos) em aparente contradição a seu próprio mandamento de "não matarás", ou quando Deus ordena que Oséias se case com uma mulher adúltera/prostituta (outra vez o problema das traduções SEM CONSENSO, apesar de ser claro que seria uma mulher de vida imoral) em Oséias 1:2, sendo que tal atitude era considerada pecaminosa não só pela Torah, mas até mesmo por Cristo, conforme Levítico 19:29, Deuteronômio 5:18 e 24:1-5 no Antigo Testamento e Mateus 19:9 no novo (para não ser cansativo nas citações porque não são as únicas). O que dizer sobre essas passagens? Não importa que Deus tenha autoridade ou bons motivos para dar tais ordens, o FATO é que ele pragmaticamente ordena que, em certas situações, seus mandamentos "morais", conforme a visão adventista, sejam QUEBRADOS em nome de um bem maior. É realmente maquiavélico e maniqueísta... e é exatamente como está escrito. Não adianta apelar para o FATO de ser esta a concepção de mundo do judeu antigo porque foi o Deus judeu que assim a eles se revelou. Então, entramos em paradoxo quando Deus manda seus filhos, em situações específicas, desobedecerem sua lei moral em nome de algo maior... Ou será que a lei moral de Deus seria, apenas talvez, só um pouquinho diferente do que é exposto na visão adventista?

Sabemos que o pecado é auto-indulgente. Não fosse assim Paulo não diria que nos últimos tempos os homens seriam "mais amigos dos prazeres do que de Deus" (2 Timóteo 3:1-7). Esse é um ponto chave. Outro exemplo que se poderia usar é a história de Sansão, descrito como um herói escolhido por Deus para livrar a nação de Israel da opressão dos filisteus Sansão é o incrível Hulk da Bíblia. E Deus escolheu Sansão pra quê? Pra ser um HITMAN, um matador! Leia a história completa em Juízes capítulos 13 a 16. Outro exemplo, embora não indique aprovação de Deus, é quando as parteiras hebréias, após faraó ter ordenado que matassem os meninos hebreus ao nascer, tendo misericórdia dos filhos homens das escravas, mentem a faraó para não cometer pecado maior! Isso está em Êxodo capítulo 1.
E o que dizer da condenação do lesbianismo como pecado que consta explicitamente apenas em Romanos 1:26 e não está em nenhuma parte do decálogo nem da Torah? Admitir que o decálogo é o resumo da lei moral de Deus incorreria, entre outras coisas, em liberar o lesbianismo.

Para entender o que João quis dizer em sua primeira carta é necessário ler o contexto que está nós versículos 23 e 24:

23 E este é o seu mandamento: Que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou.
24 Os que obedecem aos seus mandamentos nele permanecem, e ele neles. Do seguinte modo sabemos que ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu.

Para reforçar meu ponto que pecado é, em realidade, auto-indulgência, cabe citar Tiago 1:14 e 15: 

"Cada um é tentado, quando atraído e engodado pelo seu próprio desejo. Depois, havendo concebido o desejo, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte." 

Lembrem-nos que: "Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus".
(Romanos 3.23)

Complementando essa ideia, lemos em Romanos 7:1-4:

"Ou ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que ele vive? Porque a mulher casada está ligada pela lei a seu marido enquanto ele viver; mas, se ele morrer, ela está livre da lei do marido. De sorte que, enquanto viver o marido, será chamado adúltera, se for de outro homem; mas, se ele morrer, ela está livre da lei, e assim não será adúltera se for de outro marido. Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para Deus."

É óbvio que a Lei de Deus não foi anulada por Cristo, mas ampliada. O ato de adulterar passou por uma ampliação; visto que agora, só de cobiçar já adulterou. Não precisa mais fazer fisicamente! Também assassino é o que odeia a seu irmão, e; não precisa matá-lo para responder diante de Deus como assassino. E todos sabemos que o adultério atinge proporções gigantescas no Novo Pacto; ao ponto de muitos serem considerados adúlteros por estarem adulterando a Palavra de Deus, a Bíblia.
Creio que é desta ampliação de panorama da lei que trata a palavra de Deus ao afirmar em Jeremias 31:33:

"Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo."

A ampliação da lei feita por Cristo, ao mesmo tempo, se tornou numa simplificação da mesma quando Cristo disse:

"Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros." (João 13:34).


Ante esses textos só nos resta uma conclusão: A real lei moral de Deus tem apenas 2 mandamentos! Paradoxalmente para compreendê-los, precisamos de todo o resto da Bíblia para entender o que Jesus chamava de "amor" e seu oposto, o pecado.

C. S. Lewis falou sobre isso no livro "Os 4 amores". Existem 4 termos gregos de significados distintos que podem ser traduzidos por amor e todos sabemos que a maior parte do Novo Testamento foi escrito em grego. Por isso aqui deixo meus louvores para a tradução Almeida Revista e Corrigida, a única que conheço que traz o verdadeiro sentido de "amor" que Cristo trazia, que Paulo cita em 1 Coríntios 13 e que Lewis explica maravilhosamente bem em seu livro: o amor a que Jesus se referia não era sexual, romântico, nem tampouco de amizade, era a caridade, o desejo de diminuir o sofrimento do outro, nem que para isso custasse o nosso próprio. Isso é Cristianismo.

2 comentários:

  1. Eu só não entendi onde está a crítica ao adventismo. Sou adventista e sua conclusão não foi contra o que acreditamos... Será que seria uma espécie de "argumento do espantalho"?

    ResponderExcluir
  2. Obrigado por participar Roger.

    A série "Paradoxos Religiosos" busca expôr alguns posicionamentos que são, no mínimo, contra-sensos, em 4 ramos diferentes do cristianismo, a saber: o adventismo sabatista, o catolicismo, o pentecostalismo e o calvinismo. Não se trata (nessa matéria) de uso impróprio da palavra "paradoxo" já que há um paradoxo lógico real aqui que pretendo demonstrar com um trecho do próprio texto... Atente: "(...)entramos em paradoxo quando Deus manda seus filhos, em situações específicas, desobedecerem sua lei moral em nome de algo maior." Esse questionamento é puramente bíblico e notado nas referências citadas. O fato de termos usado esse termo em uma matéria falando do adventismo não é combatê-lo, assim como não é esse o objetivo ao questionar nenhum dos outros 3 ramos cristãos escolhidos. Apenas a ênfase que o adventismo dá ao que chama "lei moral de Deus" é o alvo de questionamento: A Bíblia induz o leitor a pensar que há exceções em que, até para promover um juízo de castigo, um princípio como o de "amor" entra em paradoxo com o de "justiça" e, mesmo assim tudo continua funcional, de um modo peculiarmente estranho. Cremos haver situações em que problemas reais só podem ser resolvidos por paradoxos lógicos (um exemplo clássico seria o "paradoxo do condenado" - uma das variantes do mesmo pode ser lida na definição do verbete "lógica" da wikipédia - é o segundo teste de lógica exposto lá, recomendo que você leia).

    Não entenda o uso do termo "paradoxo" como sinônimo de "coisa sem sentido", não é esse o objetivo. Não se trata "argumento do espantalho" pois a situação está mais perto de ser uma lógica paracompleta levando em conta o estilo literário dos trechos bíblicos citados e o maniqueísmo do pensamento judeu na fase pré-cativeiro babilônico.

    Espero ter sanado sua dúvida.

    Um abraço fraterno.

    ResponderExcluir

Comente, discorde, sugira e pergunte... mas com respeito.