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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PARADOXOS RELIGIOSOS: CATOLICISMO ROMANO (parte 1)

TRADIÇÃO X SOLA SCRIPTURA


O catolicismo romano é, sem sombra de dúvidas, uma religião sincrética. Esse é o primeiro ponto: não se trata de uma gradação de conceitos como se observa do judaísmo ao adventismo, nem mesmo uma mudança de paradigmas como quando comparamos budismo e islão - Catolicismo é mistura e nenhuma pessoa sincera que estude de história pode negar que o catolicismo não é, em si, uma religião, mas várias! Este é o primeiro paradoxo: o catolicismo admite o culto e orações direcionadas a entidades/"santos", assim como as religiões afro ou mesmo outras de base politeísta em que há "entidades" menores ou semi-deuses intermediários e menos poderosos que o deus-líder, não se diferenciando muito das mitologias greco-romanas que tinham um deus pra cada coisa, assim como cada santo é padroeiro de alguma coisa peculiar a cada região onde se instaura.

Além de o catolicismo romano não ser apenas uma religião, mas várias, ele também é, ainda por cima, um poder político e isso é muito arriscado...

Quando qualquer religião estabelece um estado político ou a instituição busca status político ela deixa de ser "fé" e se torna partido, reino, governo, ditadura, etc. O exemplo mais recente do fenômeno é a diferença do muçulmano ocidental para o muçulmano extremista dos países que adotam o Islão como religião do estado. Basta olhar a confusão do Afeganistão, Iraque, Egito e Síria de uns 15 anos pra cá e notar o que os jornais mostram hoje na TV e na internet.
Aspirações políticas são contraditórias a qualquer movimento religioso. Fé trata de tornar as pessoas indivíduos melhores e não massificá-los, fé é religar-se com a pessoa da divindade e deixar que ela assuma o controle da situação. Acho que a melhor metáfora pra ilustrar como a fé religiosa e os poderes governamentais são inconciliáveis num movimento religioso vem de Dave Mustaine na canção do Megadeth intitulada "Symphony of Destruction":

You take a mortal man,
And put him in control
 Watch him become a god,
Watch peoples heads a'roll...

Você pega um homem mortal 
E o coloca no comando 
Observa-o se tornar um "deus"
Assistindo a cabeça das pessoas rolarem...

Me permitam dizer que respeito a todos aqueles que confessam a fé católica, não pretendo me deter no aspecto político do catolicismo, há livros e documentários sobre isso. O que eu pretendo fazer aqui é mostrar que há alguns pontos que creio ser necessário um raciocínio mais profundo dessa confissão de fé. E, como diz o título, vamos começar pela questão da tradição dentro da fé católica.

Recentemente li um artigo católico muito interessante com 21 razões apresentadas pela igreja romana para rejeitar o princípio protestante da Sola Scriptura: frase em latim que significa "Somente a Escritura". Desde Lutero e da Reforma Protestante que os cristãos desligados do credo romano pregam que apenas a Bíblia deve ser nossa única regra base de fé e prática religiosa enquanto cristãos. Vale lembrar que Lutero nunca quis rachar a igreja católica, ele quis despolitizá-la, trazê-la de volta ao cristianismo puro e simples da época dos apóstolos e terminar de uma vez por todas com a comercialização da fé por meio da venda de indulgências. A ideia em si era boa e tinha uma motivação pura, nem Jesus recriminaria Lutero pelo que fez pois o próprio Jesus teve uma reação muito menos modesta que a Lutero na purificação do templo de Jerusalém ao expulsar usando de violência física aqueles que transformaram a fé de seus dias em motivo de comércio. Isso está em João 2:13-17. Não acho que nenhum católico sério se manifestaram contra esse argumento já que significaria:

a) admitir que Jesus estava errado, portanto, não poderia ser Filho de Deus porque Deus não erra;

b) reconhecer como falacioso o trecho bíblico concernente a essa história, o que equivaleria a chamar o apóstolo João de mentiroso;

c) creditar esse trecho bíblico a acréscimo de copistas póstumos e não ao apóstolo são João e comprar briga com historiadores e arqueólogos sérios (e nem todos cristãos) que defendem a autenticidade histórica do evangelho de João e a falta de evidências para corroborar a hipótese de acréscimos.

A igreja católica romana sempre deitou perigosamente sobre os ombros da entidade religiosa e seus representantes a única e válida forma de interpretação dos textos sagrados e ensinos religiosos por meio da tradição sendo que a própria igreja por muito tempo proibiu o acesso do leigo à leitura da bíblia (gostem os católicos atuais ou não aqui vai mais um paradoxo: foi graças ao protestante Martinho Lutero que hoje cada católico pode ter um exemplar da bíblia em casa para ler e tentar entender pois a instituição igreja era contrária a popularização da bíblia punindo até com pena de morte a posse do livro sagrado em dias da nada Santa INQUISIÇÃO).

Não me levem a mal, mas é perigoso esquecer o passado porque ele pode voltar! Que o lembrete histórico acima sirva para que nossos amigos católicos jamais permitam que tal aconteça novamente.

Deixando o lado histórico de lado e tentando entender apenas o lado da coerência lógica, será que existiria algum motivo racional para rejeitar o princípio da Sola Scriptura? Na próxima pastagem analisaremos juntos as 21 rejeições católicas ao princípio da Sola Scriptura. Por hora, vamos manter em mente o alerta de Symphony of Destruction:




Continua na Parte 2

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