TRADIÇÃO X SOLA
SCRIPTURA
O catolicismo
romano é, sem sombra de dúvidas, uma religião sincrética. Esse é o primeiro
ponto: não se trata de uma gradação de conceitos como se observa do judaísmo ao
adventismo, nem mesmo uma mudança de paradigmas como quando comparamos budismo
e islão - Catolicismo é mistura e nenhuma pessoa sincera que estude de história
pode negar que o catolicismo não é, em si, uma religião, mas várias! Este é o
primeiro paradoxo: o catolicismo admite o culto e orações direcionadas a
entidades/"santos", assim como as religiões afro ou mesmo
outras de base politeísta em que há "entidades" menores ou
semi-deuses intermediários e menos poderosos que o deus-líder, não se
diferenciando muito das mitologias greco-romanas que tinham um deus pra cada
coisa, assim como cada santo é padroeiro de alguma coisa peculiar a cada região
onde se instaura.
Além de o
catolicismo romano não ser apenas uma religião, mas várias, ele também é, ainda
por cima, um poder político e isso é muito arriscado...
Quando qualquer
religião estabelece um estado político ou a instituição busca status político
ela deixa de ser "fé" e se torna partido, reino, governo, ditadura,
etc. O exemplo mais recente do fenômeno é a diferença do muçulmano ocidental
para o muçulmano extremista dos países que adotam o Islão como religião do estado.
Basta olhar a confusão do Afeganistão, Iraque, Egito e Síria de uns 15 anos pra
cá e notar o que os jornais mostram hoje na TV e na internet.
Aspirações
políticas são contraditórias a qualquer movimento religioso. Fé trata de tornar
as pessoas indivíduos melhores e não massificá-los, fé é religar-se com a
pessoa da divindade e deixar que ela assuma o controle da situação. Acho que a
melhor metáfora pra ilustrar como a fé religiosa e os poderes governamentais
são inconciliáveis num movimento religioso vem de Dave Mustaine na canção do
Megadeth intitulada "Symphony of Destruction":
You take a mortal man,
And put him in control
Watch him
become a god,
Watch peoples
heads a'roll...
Você pega um
homem mortal
E o coloca no comando
Observa-o se tornar um "deus"
Assistindo a
cabeça das pessoas rolarem...
Me permitam dizer
que respeito a todos aqueles que confessam a fé católica, não pretendo me deter
no aspecto político do catolicismo, há livros e documentários sobre isso. O que
eu pretendo fazer aqui é mostrar que há alguns pontos que creio ser necessário
um raciocínio mais profundo dessa confissão de fé. E, como diz o título, vamos
começar pela questão da tradição dentro da fé católica.
Recentemente li
um artigo católico muito interessante com 21 razões apresentadas pela igreja
romana para rejeitar o princípio protestante da Sola Scriptura: frase em latim
que significa "Somente a Escritura". Desde Lutero e da Reforma
Protestante que os cristãos desligados do credo romano pregam que apenas a Bíblia
deve ser nossa única regra base de fé e prática religiosa enquanto cristãos.
Vale lembrar que Lutero nunca quis rachar a igreja católica, ele quis
despolitizá-la, trazê-la de volta ao cristianismo puro e simples da época dos
apóstolos e terminar de uma vez por todas com a comercialização da fé por meio
da venda de indulgências. A ideia em si era boa e tinha uma motivação pura, nem
Jesus recriminaria Lutero pelo que fez pois o próprio Jesus teve uma reação
muito menos modesta que a Lutero na purificação do templo de Jerusalém ao
expulsar usando de violência física aqueles que transformaram a fé de seus dias
em motivo de comércio. Isso está em João 2:13-17. Não acho que nenhum católico
sério se manifestaram contra esse argumento já que significaria:
a) admitir que
Jesus estava errado, portanto, não poderia ser Filho de Deus porque Deus não
erra;
b) reconhecer
como falacioso o trecho bíblico concernente a essa história, o que equivaleria
a chamar o apóstolo João de mentiroso;
c) creditar esse
trecho bíblico a acréscimo de copistas póstumos e não ao apóstolo são João e
comprar briga com historiadores e arqueólogos sérios (e nem todos cristãos) que
defendem a autenticidade histórica do evangelho de João e a falta de evidências
para corroborar a hipótese de acréscimos.
A igreja católica
romana sempre deitou perigosamente sobre os ombros da entidade religiosa e seus
representantes a única e válida forma de interpretação dos textos sagrados e
ensinos religiosos por meio da tradição sendo que a própria igreja por muito
tempo proibiu o acesso do leigo à leitura da bíblia (gostem os católicos atuais
ou não aqui vai mais um paradoxo: foi graças ao protestante Martinho Lutero que
hoje cada católico pode ter um exemplar da bíblia em casa para ler e tentar
entender pois a instituição igreja era contrária a popularização da bíblia
punindo até com pena de morte a posse do livro sagrado em dias da nada Santa
INQUISIÇÃO).
Não me levem a
mal, mas é perigoso esquecer o passado porque ele pode voltar! Que o lembrete
histórico acima sirva para que nossos amigos católicos jamais permitam que tal
aconteça novamente.
Deixando o lado
histórico de lado e tentando entender apenas o lado da coerência lógica, será
que existiria algum motivo racional para rejeitar o princípio da Sola
Scriptura? Na próxima
pastagem analisaremos juntos as 21 rejeições católicas ao princípio da Sola
Scriptura. Por hora, vamos manter em mente o alerta de Symphony of Destruction:
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