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domingo, 25 de agosto de 2013

PARADOXOS RELIGIOSOS: ADVENTISMO (parte 2)

PARADOXO DA PROFECIA

Salve gente! Dando continuidade à matéria sobre Paradoxos Religiosos, falando inicialmente do Adventismo, hoje nos deteremos no paradoxo do "espírito de profecia", (os adventistas que me perdoem o trocadilho).

É de conhecimento comum que uma das fundadora da IASD, a senhora Ellen White, teve um papel importantíssimo na formação dessa igreja e teve inúmeras publicações de sua autoria.

Antes de prosseguir em campo minado vou deixar claro três coisas:

1. Não posso assumir categoricamente nada sobre Ellen White enquanto não conhecer e analisar toda sua obra, embora tenha uma modesta opinião a respeito que sugeri na Matéria "A Controvérsia sobre Ellen White".

2. Naquilo que Ellen White disse que é verdadeiro eu creio, afinal toda verdade é verdade de Deus e é falacioso questionar o contéudo da mensagem apenas desqualificando o mensageiro, como já vimos na matéria "Diferenças Entre Falácias e Paradoxos". O mesmo vale pra Bispo Macedo, Bispa Sônia, RR Soares, Marylin Manson, Adolf Hitler, Ville Valo, Jeremias José do Nascimento, não importa! Uma verdade não deixa de ser verdade só porque não se confia no mensageiro ou em seu caráter.

3 - O reconhecimento da importância histórica de nossos fundadores, seja a nível familiar, institucional, religioso, etc não é idolatria, é exercício de memória. a atitude dos adventistas de se lembrar de onde surgiu seu movimento e a importância histórica que dão a tudo, não apenas a seus fundadores mas aos aspectos históricos da Bíblia (que se reflete até no seu modo particular historicista de estudo das profecias) é louvável. Rememorar o passado de seu movimento e não esquecer do trabalho dos que vieram antes de nós deveria ser imitado por outras denominações para reforçar a identidade e inclusive para permitir averiguar a procedência de nossas organizações e crenças com seus erros e acertos.

Onde reside o paradoxo da profecia?

Bom, o paradoxo reside em se considerar TODA a obra de Ellen White como sendo de inspiração divina negando qualquer porção humana ou falhas nos escritos da mesma. Eis meu exemplo: Eu acho C. S. Lewis sensacional, mas não acho que ele possa estar 100% certo em tudo o que disse nem atribuo a Deus toda sua literatura, mas considero que a maior parte do que escreveu quando convertido teve sua inspiração no Deus bíblico, afinal Lewis professava a fé cristã. Eu também jamais diria que Lewis é o único autor contemporâneo que teve influência ou inspiração divina nem que Lewis não cometeu erros no que escreveu, muito menos o usaria como base de doutrina ou formação de um segmento religioso.

Obs.: Vou abrir um pequeno "parêntese" aqui nessa observação porque alguém poderia concluir que o mesmo argumento pode ser usado para desqualificar certas passagens bíblicas por "falibilidade humana": ao cristão isso não é possível e há uma justificativa lógica pra dizer que a bíblia possui uma infalibilidade doutrinária que vai além dos erros humanos registrados ou mesmo de problemas de traduções. Da mesma forma como em lógica algo precisa ser verdade absoluta ou o conhecimento não seria possível (isso foi explicado na matéria "Infinito, Paradoxos de Zenão e a Criação"), o cristão depende de uma fonte primária de informação absoluta sobre sua crença que lhe diga em que crer e essa fonte é a Bíblia. Outros autores podem estar inspirados nas mesmas verdades bíblicas mas, por não serem daqueles primeiros que caracterizaram as bases da fé cristã, jamais poderiam estar em pé de igualdade com o texto bíblico já que o mesmo é o ponto de origem da fé cristã.

Segundo a Bíblia, o espírito de profecia vai e volta e não necessariamente o profeta é sempre "aprovado" por Deus. O diagrama bíblico sobre profecia é simples: a mensagem chega de Deus em alguém para ser entregue a outro alguém e o recebedor deve ficar de olho pra ver se a mensagem se cumpre (conforme 1.º Samuel 10 e também 1.º Samuel 19, além de Jeremias 28:9). Fim de história.

Exemplo? Balaão. Não sabemos o que ele profetizava antes nem depois do episódio de abençoar a Israel, mas o caráter de Balaão não era dos melhores¹. No entanto foi usado para promulgar o desejo de Deus.

Outro exemplo? Saul. Saul não era flor que se cheire, mas profetizou. A vida e mesmo ações ou palavras verdadeiras de um profeta não necessariamente tem relação com uma suposta aprovação de Deus para a vida e o contexto geral do que essa pessoa diz ou faz. Na Bíblia o padrão é simplesmente Deus usar uma pessoa próxima para entregar uma mensagem (à semelhança do seu celular que puxa o sinal de outra empresa quando a sua não tem cobertura numa viagem). Confira 1 Reis 13.

Veja bem, não estou acusando a sra. Ellen White de coisa alguma, mas não há base bíblica para crer que tudo que um profeta faz ou escreve é inspirado por Deus, mesmo quando já houve profecia verdadeira transmitida pelo mesmo, isso está em Mateus 7:21-23 e é o próprio Jesus quem diz.

Nesse ponto alguém poderia argumentar: então por que crer nos profetas/profecias bíblicos?
Penso que há 3 motivos principais:

1 - A Bíblia não prega a infalibilidade da conduta dos profetas, na verdade ela não esconde os erros, falhas e até pecados que alguns deles cometeram.

2 - A Bíblia não espera crença cega na profecia e sim decreta que averiguemos se aquilo que foi profetizado se cumpre ou não.

3 - Diversas profecias bíblicas se cumpriram, como o clássico caso do cativeiro babilônico de Israel (predito por Jeremias, Ezequiel, etc); a sucessão dos impérios mundiais predita por Daniel, a própria vida e morte de Cristo vislumbradas por Isaías com aproximados 7 séculos de antecedência, etc. E isso aumenta a confiabilidade de cumprimento de promessas futuras.

É bom lembrarmos que, segundo a própria bíblia no livro de Números capítulo 22, mesmo uma jumenta profetizou...

2 comentários:

  1. Desculpa, não consegui perceber onde está a crítica ao adventismo (e qual é o paradoxo). Sou adventista e tenho as mesmas conclusões que você. Ou você não sabe o significado de paradoxo ou está usando o "argumento do espantalho".

    De fato, suas observações são válidas. Acredito na inspiração de Ellen White, mas algumas coisas sei que é sua opinião, como sei que a opinião de Samuel quando foi escolher o novo rei de Israel não era a opinião de Deus (Samuel palpitou que o novo rei seria forte e alto, enquanto Deus escolheu o franzino Davi). Falando sobre algumas coisas de saúde que Ellen White disse, por exemplo, ela acertava o conceito, mas sempre errava na explicação - hoje nossas explicações científicas se encaixam muito melhor nos seus conceitos. Há de se considerar também que a própria White disse que ela era uma luz menor diante da Bíblia e desafiou seus leitores a consultarem a Bíblia e tomá-la somente como verdade.

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    1. Olá novamente Roger.

      Me parece que você não leu as 4 postagens dos "Paradoxos Religiosos" no Adventismo em ordem, mas não tem problema, os textos são razoavelmente independentes.
      Já respondi a questão sobre a "falácia do espantalho" no seu comentário da parte 4 da série.

      Nesse post, o paradoxo está em não ter como afirmar com certeza qual a importância das palavras de um profeta baseado na falseabilidade de suas afirmações (uso falseabilidade aqui no mesmo sentido que Karl Popper).
      Nas palavras do próprio texto: "o paradoxo reside em se considerar TODA a obra de Ellen White como sendo de inspiração divina negando qualquer porção humana ou falhas nos escritos da mesma" porque, de fato, ela cometeu erros em suas explicações, como você mesmo admite.

      O texto é uma provocação e um alerta no intuito de que as pessoas não tenham por "infalível" a pessoa do profeta tal qual é o conceito da "infalibilidade papal", por exemplo, que os irmãos católicos tem. Pelas suas palavras sei que não é esse o seu caso, mas conheço certo número de adventistas que exageram a importância espiritual de Ellen White. Até porque ela não é o único nem principal ícone na história da IASD.

      Um abraço fraternal.

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