Iniciando a série "paradoxos religiosos" aqui no blog, resolvi começar pelo Adventismo do
7.º Dia. Quem acompanha o blog sabe que muito do material da Rede Novo Tempo de
Comunicação é de tamanha qualidade que é usada aqui no Proibido Pensar como
referência. Porém, isso não quer dizer que estejamos 100% em concordância.
A Rede Novo Tempo
preencheu uma lacuna de qualidade na TV Brasileira, ninguém pode tirar dos
adventistas a qualidade letrística de suas canções, seu empenho pelo criacionismo
científico e seu evangelismo gratuito... Mas, convenhamos, há problemas
doutrinários.
Há aspectos doutrinários da Igreja Adventista do Sétimo Dia que, apesar de eu
pessoalmente considerar interessantes numa experiência do dia-a-dia, não posso
ignorar o fato que SÃO PARADOXOS BÍBLICOS.
Falaremos de um
deles hoje. Vamos começar pelo...
PARADOXO DA REFORMA ALIMENTAR
Eu considero
bastante nobre a argumentação dos adventistas vegetarianos em dizer que o homem
originalmente foi feito para se alimentar de plantas (e isso está mesmo
em Gênesis 2:9 e 16, além de que as terapias hormonais para desenvolvimento do
gado em tempo recorde estão NOS afetando, ou você acha que as pessoas
amadurecem cada vez mais cedo porque a natureza assim o quis?). Todavia, o
vegetarianismo baseado na Bíblia é o primeiro paradoxo notável na doutrina da
reforma alimentar dos adventistas já que:
1 - O próprio
Deus é o primeiro a matar um animal, ainda que para confeccionar roupas ao
casal pecador (Gênesis 3:21);
2 - O próprio Deus nunca proibiu a
alimentação carnívora, apenas fez uma divisão em Levítico 11 dos tipos de
carnes a ser consumidos e evitados.
A esta segunda
argumentação, alguns defensores da "reforma de saúde" argumentam que o homem teria
"se viciado" na alimentação carnívora após o dilúvio por conta da
destruição vegetal da catástrofe. Mas o argumento não se sustenta pelo tempo de construção da arca e de preparação para prover alimentos não perecíveis de origem vegetal: em Gênesis 5:32 Noé tinha 500 anos quando começou a ter
filhos, no capítulo 7:6 Noé entra na arca com sua família, dessa vez com 600
anos. Supondo que demorou algo em torno de 50 anos pros 3 filhos de Noé se
casarem (deve ter demorado menos) vemos no capítulo 6:18 que Deus anuncia que trará o
dilúvio mas dará a Noé e sua família um meio de sobreviverem. Imagine então que
deve ter levado algo em torno de 50 anos aproximados para construção e
providência de alimentos. Sabendo que José no Egito preveniu a fome em uma PAÍS
através de depósitos de sementes vegetais não perecíveis armazenadas por 7 anos e conseguiu sustentar não apenas o país mas também regiões vizinhas por 7 anos de fome (Gênesis
41:47-57), sabendo ainda que a arca teve em torno de 50 anos pra ficar pronta e
sabendo que tinha compartimentos de estocagem por, suponhamos, metade de sua
área total, que era de trezentos côvados [133 ou 155 metros], a sua largura de
cinqüenta [22 ou 26 metros] e a sua altura de trinta [13 ou 15 metros] (Gênesis
6:14-16) e que o tempo de permanência na arca foi de 375 dias (Noé entrou na
arca no 600, no 2.° mês, no dia 17 em Gênesis 7:11; E que Deus só lhe deu ordem
para sair da arca no ano 601 de sua vida aos dias 27 do mês segundo em Gênesis
8 :14... Me corrijam se eu estiver errado), logo podemos dizer que NÃO HAVERIA
A MENOR NECESSIDADE DE ALIMENTAÇÃO CARNÍVORA por parte dos 8 únicos humanos
sobreviventes nem nesse período nem até as plantas tornassem a crescer (e
algumas já haviam crescido conforme Gênesis 8:11). É uma conjectura POSSÍVEL.
Não estou dizendo que aconteceu, estou dizendo que é altamente provável...
Desde que se creia na historicidade do Dilúvio Bíblico (há razões geológicas
objetivas para se crer que não apenas houve um dilúvio universal, mesmo
céticos admitem essa espécie de cataclisma, com pontos de divergência do relato bíblico, obviamente). De todo modo, deixei esta referência ao design da arca¹ porque me pareceu viável para comportar
pessoas, animais, celeiros, sistema sanitário, etc.
Esse foi meu
primeiro ponto. Não vou nem entrar no mérito dos problemas com agrotóxicos porque teríamos outro paradoxo: agrotóxicos "poluem" nossos alimentos e é certo que nos fazem mal; enquanto isso a ciência registra aumento da expectativa de vida devido a maior produção de alimentos que só aconteceu com o controle de pragas por meio do uso de... agrotóxicos!
Não estou tentando ser advogado do diabo, nem quero, mas a questão é técnica demais e não é intuitiva o bastante no mundo de hoje para se aceitar sem análise! Se os hindus fossem carnívoros haveria tanta fome naquele país? Fica a reflexão.
http://www.sbbiotec.org.br/portal/biotecnologia/publicacoes/lknbiotecnologia-e-qualidade-de-vida.htm
Meu segundo ponto
é sobre os adventistas que não condenam a alimentação carnívora, todavia condenam alguns tipos de carne. A mais famosa dessa polêmica é a carne suína, por isso vou usá-la como exemplo, embora haja outras.
Sobre esse tema eu apresento 3 argumentos:
a) As condições de higiene e reprodução controlada mudaram as características da carne de porco em relação ao tipo de qualidade da carne consumido de forma inadequada nos tempos primitivos, reduzimos a exposição do animal a agentes patogênicos e sujeira pelo conhecimento que temos de microorganismos e epidemiologia básica. Assim, é perfeitamente válido perguntar: admitindo que as restrições alimentares não fossem meramente ritualísticas e sim motivadas por reais razões de preservação da saúde, elas ainda são válidas hoje? Não me levem a mal, eu não gosto de carne suína, nunca gostei, mas o questionamento é válido. O contexto em que o mandamento foi dado mudou. Ignorar isso seria ignorar a inteligência que Deus deu ao homem de reverter condições naturais desfavoráveis em favoráveis. Os adventistas insistem que a carne de porco sempre foi, é e será inadequada ao consumo e, por mais que eu admita que a ciência erra algumas vezes, não é isso que os nutricionistas dizem sobre o consumo de carne suína, cito um exemplo no link abaixo:
b) A questão
alimentar nunca foi expandida aos gentios, Paulo dá a entender justamente isso em Colossenses 2:16-17, ainda que Paulo próprio se resguardasse na
questão alimentar, sua citação é, no mínimo, paradoxal e reforçada em 1
Coríntios 10:25 (Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência.), muito embora o contexto fale de carnes sacrificadas a ídolos (e esse argumento é repetido por adventistas) tratavam-se de cidades PAGÃS que não se resguardavam de quaisquer tipos de animais a se sacrificar aos deuses! Por acaso há alguma evidência que os gregos guardavam os mesmos
hábitos alimentares que os judeus? Se há tal evidência gostaria muito que
alguém me mostrasse.
c) A circuncisão
também traz benefício de saúde confirmado pela ciência! Vou deixar pelo menos 3
links sobre essa descoberta:
Porém, NOTEM COM ATENÇÃO: PAULO ANUNCIOU A AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE CIRCUNCISÃO DO CRISTÃO! Está
em Gálatas 2:3-5. Na realidade, nos capítulos 2 e 3, Paulo é categórico ao
rejeitar uma pregação de usos e costumes judaizantes no evangelho (deem uma olhada em como ele
repreende os gálatas no capítulo 3:1-3).
Se a circuncisão,
assim como as regras alimentares, tinha razões sanitárias e de saúde e não eram
apenas um sinal tribal/religioso, não sendo a circuncisão obrigatória ao cristão,
o que se segue? Pois sim: segue-se que, do mesmo modo que a circuncisão não nos
diz respeito enquanto cristãos gentios (ou seja, não-judeus), por tabela, conclui-se o mesmo da reforma alimentar! Aí entramos em paradoxo porque a
Bíblia ensina princípios de cuidado com a saúde e a higiene, mas parece não
deixar isso em primeiro plano nos deixando OPÇÃO. Mas isso seria uma
interpretação caridosa. A interpretação não caridosa seria que Paulo contradiz
o resto das escrituras e não pode ser levado a sério, o que seria um grande
problema porque foi o apóstolo Paulo quem estabeleceu as bases da teologia
cristã e delineou as linhas que levariam à institucionalização da igreja nos
séculos seguintes. Daí teríamos que rejeitar ou aceitar com parcialidade as
cartas paulinas como ou "não inspiradas por Deus" ou como "apenas parcialmente
inspiradas", o que derrubaria a unidade doutrinária da Bíblia Sagrada e doutrina
da inerrância.
Logo, quem guarda
as leis de saúde por razões de saúde faz bem. Porém, não se pode dizer categoricamente que quem não o faz está em
falta com Deus! Nem poderia de acordo com os argumentos expostos acima. Num
mundo de pecado o paradoxo é que a santidade não nos é possível (ou Jesus não teria encarnado). O que nos é possível é fazer uma série de
escolhas de menor dano dentro das possibilidades que temos. Ou ao menos é nisso
que eu acredito até que se prove o contrário. Ao cristão que queira defender a abstinência de carne que use o argumento das condições indignas a que os animais são tratados pela indústria de alimentos até o cruel abate, como o fez a banda Tourniquet. Esse é um argumento muito mais forte:
Acho que as coisas ficariam mais fáceis se os adventistas advogassem a reforma da saúde por razões puramente científicas e nutricionais do que tentar pautar a ideia na Bíblia (e, ainda assim, seria um problema já que um dos exemplos mais usados pelos adventistas letrados como Ivair Augusto², adventista farmacêutico e bioquímico, para combater o consumo da carne suína também se aplica a bovina, tida como "limpa" nas escrituras, a saber: a propagação de vírus, rações inadequadas que esses animais recebem hoje, parasitismos como o da cisticercose, dosagens exageradas de hormônios, etc). Não estou certo se a tradição da Igreja Adventista e suas doutrinas distintivas históricas comportam alguma possibilidade de mudança ou abrandamento de posicionamento nesse assunto...
...mas talvez comportem. Afinal, até 1931 (aproximadamente), a igreja adventista negava a trindade³. Leandro Quadros que me perdoe, mas a literatura apologética contra os adventistas, pelo menos até a década de 1940 não estava de todo equivocada. Bom saber que eles viram seu erro nesse ponto.
Sobre a influência dos hormônios animais e a relação entre alimentação rica em gorduras e adolescência segundo pesquisa da revista Pediatrics na pessoa do Dr. Frank M. Biro, do Hospital Cincinnati Children, nos EUA:
COMENTÁRIO EXTRA:
Certa feita eu
conversava com um amigo cristão que tentava largar o cigarro e se culpava pela
dificuldade que tinha em romper definitivamente com o vício. Automaticamente comentei com ele que, historicamente, o Cristianismo não considerava
pecaminoso o ato de fumar até que se provou por A+B que era maléfico à saúde.
Seguindo esse princípio, eu argumentei:
B - Se um dia desses for demonstrado e amplamente divulgado que a bolacha Trakinas, por exemplo (não gosto dessa
bolacha porque é muito doce, daí eu usar como exemplo), faz mal à saúde o cristianismo institucional dirá que
come-las é pecado.
Não anulei a necessidade de meu amigo parar de fumar, mas a de se martirizar a respeito. Algumas mudanças levam tempo pra acontecer. O próprio Jesus diz em João 15:5 que sem Ele nada podemos fazer, e também está na Bíblia em Filipenses 2:13:
"Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade".
É preciso saber
que há coisas que os cristãos, não apenas adventistas, condenam que a Bíblia sequer fala a respeito.
Exemplos: masturbação, uso de drogas, sexo oral, etc. Cabendo, nesses casos, o
bom senso e alguns princípios bíblicos para nortear o que a cristandade diz a
respeito. Exemplo: a bíblia condena luxúria,
como a masturbação geralmente envolve luxúria acaba sendo pecado por tabela; a bíblia diz que o
corpo é templo e morada do Espírito Santo e que vícios são pecados, logo má
alimentação e uso de drogas é pecado por tabela (bem como qualquer outra coisa
que você não precise pra sobreviver, mas ainda assim não consiga/queira parar de
fazer). Entretanto, há o uso medicinal de drogas, há quem não tenha outra coisa mais adequada para se alimentar ou que nunca tenha sido educado nesse viés... Acho que temos, no mínimo, um pouco de cinza entre o preto e branco das divergências denominacionais nesse assunto.
Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.
Referências:
¹ - monergismo.com/forum/index.php?topic=890.0;wap2
² - http://reformadesaude.blogspot.com.br/2006/01/carne-suna-tornou-se-saudvel.html
³ - http://averdadeacimadetudo.tripod.com/VolI16.htm
Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.
Referências:
¹ - monergismo.com/forum/index.php?topic=890.0;wap2
² - http://reformadesaude.blogspot.com.br/2006/01/carne-suna-tornou-se-saudvel.html
³ - http://averdadeacimadetudo.tripod.com/VolI16.htm
Cara, me desculpe, já fiz esse comentário várias vezes nessa sequência de paradoxos do adventismo. Conheça melhor nossas doutrinas e verá que muitas das críticas que você faz, na verdade, não são críticas. Você está usando o argumento do espantalho: primeiro você coloca argumentos ruins dizendo que os adventistas (todos eles, como se fôssemos homogêneos em nossas explicações) usam e depois combate-os com argumentos superiores.
ResponderExcluirMas isso é muito fácil. Rebater o que um cristão comum diz (que seja um dos senhores que ficam nos bancos, ou mesmo um pastor desapercebido, ou nos desapercebidos blogueiros que você citou) é fácil. Gostaria de vê-lo diante dos acadêmicos, aqueles que de fato pensam e respiram as doutrinas adventistas. Outro problema reside em usar a palavra "paradoxo". Desculpe-me, novamente, nada do que você disse é um paradoxo.
Espero ter contribuído, talvez possa me explicar melhor em outra ocasião. Abç
Olá Roger.
ExcluirCreio que você deve ter notado que respondi seus 2 comentários nas outras matérias da série.
Em primeiro lugar Roger, não são colocados "argumentos ruins" ou contra o adventismo nas introduções das matérias. Para citar um exemplo: nos referimos aqui como CÉLEBRE (ou seja, algo a ser celebrado, festejado, louvado) o empenho dos adventistas na reforma alimentar em prol de uma vida mais saudável e um cuidado correto do cristão para com seu corpo que é considerado "templo do Espírito Santo".
Não se trata também de homogeneizar os adventistas. Repare que desde a primeira matéria ficou muito claro que estamos falando APENAS dos "adventistas do sétimo dia". A tentativa de sintetizar as várias formas de expôr o tema, no caso desse post, da reforma alimentar, para compor a matéria pode ter dado a impressão de ser reducionista, mas uma análise muito específica não é de fórum leigo, mas acadêmico. Note que esse blog é apenas um blog leigo e de "curiosidades", embora volta e meia citemos fontes acadêmicas (todavia não é regra), a depender da situação como na matéria "Refutando Felipe Neto".
É importante fazermos um exercício intelectual do que o cristão mais simples diz também para crescermos em conhecimento. Se elevarmos toda discussão doutrinária cristã ao nível de especialistas o ônus da demonstração lógica do "porque creio" que todo cristão deve ter segundo 1Pedro 3:15 se torna pesado demais para uma pessoa comum e o objetivo desse blog é despertar as pessoas para pensarem por elas mesmas e buscarem respostas que existem sobre sua fé (mas que alguns não conhecem) sobre os temas aqui abordados.
Para encerrar, gostaria de compartilhar contigo apenas 3 dos significados do termo "paradoxo" segundo qualquer dicionário (encarecidamente, peço que preste atenção principalmente no segundo):
Paradoxo
s.m.
1-Contradição, pelo menos aparente. (Ex.: falo melhor quando emudeço.)
2-Opinião contrária à opinião comum.
3-Filosofia: Contradição a que chega, em certos casos, o arrazoamento abstrato.
Mesmo que a palavra "paradoxo" estivesse sendo usada apenas para definir a crença distintiva do adventismo sobre a reforma de saúde em comparação com outros ramos cristãos que não dispõem dessa crença, ainda assim o uso seria perfeitamente admissível.
Mas há um paradoxo real aqui Roger: tornar a reforma de saúde uma doutrina é comparável a uma situação de dúvida razoável num julgamento se não forem apresentadas provas históricas (fora da Bíblia) que os cristãos gentios eram ensinados a se abster, por exemplo, de carnes imundas diante do que diz Paulo na citação usada no texto: "Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu."
Romanos 14:2-3
Alegar que esse conceito é implícito na Bíblia Sagrada não demonstra a veracidade de uma afirmação, apenas revela algo sobre quem lê a afirmação. Enquanto um lê GODISNOWHERE como "Deus está em lugar nenhum", outro lê "Deus está agora aqui" e, de fato, as palavras estão coladas impossibilitando saber qual das interpretações está correta se analisarmos só o texto (lembra-se do princípio de Sola Scriptura?).
Já que só é possível a um autor escrever do que conhece, se não fui claro o bastante da primeira vez a falta deve estar nos meus conhecimentos ou no modo incompleto como me expressei.
De todo modo, espero ter lançado luzes sobre as reais intenções da publicação dessa matéria.
Um abraço fraterno.
Desculpe-me alongar mais, mas penso um pouco diferente.
ExcluirPrimeiramente, seu conceito de "paradoxo" do dicionário está corretíssimo, mas palavras não são apenas conceitos e muito menos os que constam no dicionário. Um leitor não vai ao dicionário procurar o significado de todas as palavras que você coloca num texto. Ele vai usar as imagens e os significados já pré-concebidos. Pra maioria das pessoas paradoxo não significa "opinião contrária à opinião comum", absolutamente não. Tanto que em literatura, há um esforço enorme para fazer os alunos discernirem entre contradição e paradoxo.
Na Idade Média esse era um extenso debate. Pedro Abelardo, que é quem eu defendo, dizia que as palavras são conceitos, que nos remetem a imagens. Se todas as flores forem extintas do mundo, eu ainda teria o conhecimento do que é uma flor. Recentemente ouvi uma música antiga que tinha a palavra "gay", que significa alguém alegre. Toda vez que a música dizia "gay" eu imaginava um homossexual e não alguém feliz - e esse é o conceito que está no dicionário! "Paradoxos do adventismo", um leitor entende "coisas sem sentido que o adventismo acredita e que merecem descrédito". Você pode não querer dizer isso (e eu me questiono que talvez essa fosse a sua intenção), mas a imagem que o título remete é essa.
Se você escrevesse um texto intitulado "porque acredito que a saúde é pouco importante para um cristão", você estaria defendendo ideias. Mas "paradoxos do adventismo", você está defendendo religião, o que é completamente diferente. Se escrevesse "um profeta está sujeito a falhas" seria muito mais produtivo (e menos ataque) do que "paradoxos do adventismo parte 1284". E assim vai com "porque não acredito em predestinação" ao invés de "paradoxos do calvinismo". Porque dá a impressão de que tudo o que você quer fazer é descreditar a religião contra a qual você está rebatendo e não as ideias contidas em si, afinal, qual seria o ganho de um cristão comum não cuidar de sua saúde - a não ser o ganho de desacreditar na doutrina adventista?
Um cristão comum não apenas ataca a religião alheia (que deve incluir muçulmanos, hinduístas, budistas...) e os pecaminosos homossexuais, prostitutas (sim, nós cristãos somos mesmo muito perfeitos), mas também os da sua própria religião. Os seus textos não foram desrespeitosos, mas seria ótimo se combatêssemos esse mal cristão, esse câncer cristão.
Cada religião possui a sua formação própria e sua própria forma de enxergar o mundo. Se entendermos, por exemplo, a reforma alimentar como um conhecimento muito mais amplo do ser humano, o chamado pensamento holístico do homem, tudo ganha muito mais sentido - e temos que considerar também que o cristianismo veio do judaísmo e a maioria do pensamento judaico também é holístico. É isso o que estou querendo dizer, não é preciso apenas saber seus conceitos, é preciso entender os diversos contextos que a crença traz.
Por fim, só esclarecendo o que eu disse no comentário anterior, o "argumento do espantalho" foi usado sim algumas vezes, como na crítica ao argumento de que Deus permitiu aos homens comerem carne no dilúvio, porque não havia plantas. Essa não é uma das razões pelas quais sugerimos a não ingestão de carne. Mas foi usado como um grande argumento. Outra questão que relutei bastante nos outros textos é de que muitas das críticas que você faz ao adventismo não são críticas. Um adventista comum pode se enveredar por alguns caminhos que você citou, mas o ADVENTISMO (como está em letras garrafais no título) - e me refiro aos adventistas do sétimo dia, ora bolas - não acredita no que você disse que ele acredita. Por isso eu já diria pouco útil pelo menos metade dos textos que você publicou, ou então o título deveria ser “avisos relevantes a um adventista”.
ExcluirDesculpe se fui incisivo demais. Mas o título foi infeliz e não sei se esses textos foram realmente agregantes ao público cristão, assim como seus argumentos realmente não abarcam o que o adventismo pensa.
Abraços fraternos recíprocos.
Olá novamente Roger.
ExcluirEu sei que, com exceção dos seguidores do blog, as pessoas que param por aqui não entendem do que ele trata e não acompanham as séries. Peço sua paciência ao ler minha resposta, mesmo porque será a última.
1-Há uma série de postagens sobre lógica, falácias, contradições e PARADOXOS no blog que foi sucedida por uma série de argumentos lógicos que defendem a existência de Deus (que escrevi - citando fontes - para um amigo que começou a estudar lógica e não conseguia ver nenhuma utilidade prática pra isso) que, por sua vez foi sucedida pela série “paradoxos cristãos” e depois por “paradoxos religiosos” na mesma linha demonstrando dúvidas e soluções a que eu cheguei para algumas dessas questões com o único objetivo de TENTAR fornecer POSSÍVEIS RESPOSTAS ante a escassez de material em português sobre o tema A LEIGOS. Eu não fiz esse blog pra debater religião, eu fiz para partilhar MEUS pensamentos com MEUS amigos.
2-Não partilho da ideia de que um texto tenha múltiplas interpretações: a única interpretação correta de um texto é a que o autor dá a ela. Eu lhe fiz saber em meus comentários o que eu quis dizer com o texto, o que te desautoriza (e a qualquer leitor) a entendê-lo de quaisquer outras formas, inclusive a que você alega que o texto significou pra ti.
3-É muito mais chamativo escrever uma matéria chamada “Paradoxos no Adventismo” que “Porque Acredito que a Saúde é Pouco Importante para um Cristão". Caso tenha oportunidade de assistir um documentário chamado “Global Metal” você descobriria uma situação parecida em que o vocalista da banda Slayer, católico praticante, explica a razão de ter nomeado uma das canções da banda como “God Hates Us All”. Parafraseando o que ele disse: “Deus não odeia a todos nós, mas caramba, esse era um GRANDE TÍTULO!” Na série “Os Simpsons”, não me recordo agora o nome do episódio, Homer ajuda Bart a se candidatar a presidente de classe contra Martin Prince e em um de seus cartazes há estampado o que, traduzido seriam os seguintes dizeres: (em letras bem grandes a palavra) SEXO. (logo abaixo em letras menores) Agora que consegui sua atenção, vote em BART. Enfim, essas situações de usar um título apelativo são um recurso midiático tão comum que não deveria sequer estar sendo debatida.
4-Minha própria conclusão é um paradoxo em looping quando se compara Levítico 11 com Colossenses 2:16-23 (entre outros exemplos) e é bíblica. Aliás, estamos falando de uma religião pautada na Bíblia como base, mas não tenho certeza se você checou as referências bíblicas citadas. O adventismo em geral utiliza material de suporte fora da Bíblia em Ellen White, na ciência e em material de foro antropológico para expressar os motivos da reforma de saúde ser um de seus (me perdoe a palavra) dogmas. O cerne do questionamento não é a invalidade da reforma alimentar, mas da dificuldade em sustentá-la como DOUTRINA RELIGIOSA se nos valermos APENAS DA BÍBLIA, como o faz um cristão comum. Se o corpo é templo do Espírito Santo é óbvio que deve-se ter cuidado com o que se come. O problema é até onde isso é um conselho válido pra quaisquer épocas dado o avanço da ciência ou ainda se isso não recai na categoria de distintivos tribais que Israel tinha com povos pagãos.
5-Não estou defendendo as ideias de Pedro Abelardo, mas as minhas. Não creio que as palavras de quaisquer pessoas tenham mais peso que as conclusões de minha experiência pessoal quando obedeço a princípios lógicos. Palavras evocam imagens? Sim, mas repito: a única interpretação correta de um texto é o que o autor quis dizer. E no meu caso, eu estou vivo e disponível a esclarecer as suas dúvidas, diferente de Pedro, Paulo, Moisés, etc. Eu estou desfazendo as imagens que provoquei em você ou em qualquer próximo desavisado que caia aqui no blog. Se um leitor se nega a entender aquilo que o autor está dizendo que argumento resta ao autor?
6-“Paradoxos no Adventismo” é o nome da série, como você deve notar, os textos são razoavelmente independentes nos temas e possuem subtítulos.
Excluir7-Você alega que os textos não foram desrespeitosos e fala de “imagens” nos significados das palavras e esquece que o texto como um todo também cria uma “imagem” que, igualmente ao primeiro caso, pode diferir da real intenção do autor. Exemplo: ao ler seus comentários eu também poderia interpretar seus repetidos argumentos como você me faltando com o respeito enquanto autor por não concordar com as ideias que expus. Acho que você leu o texto esperando ser desrespeitado e não como o que ele realmente é: um monte de palavras com seus significados ordenados numa sequência. Apenas isso. Você poderia ter interpretado o texto como “talvez seja melhor eu usar o argumento bíblico como complemento ao falar da reforma de saúde e não como sua base”, mas você escolheu interpretar como alguém tentando desacreditar sua religião. Afinal, são suas palavras: “eu já diria pouco útil pelo menos metade dos textos que você publicou” e “não sei se esses textos foram realmente agregantes ao público cristão”. Dependendo do que ocorresse no dia de uma pessoa, essa palavras poderiam ser tidas como bem fortes para comentar um texto que levou dias e cansaço pra ser concluído.
8-Não concordo que tenha sido usado o famoso argumento de “falácia do espantalho” ao me referir ao uso de alimentação carnívora no pós-dilúvio porque em nenhum momento foi dito que esse era um argumento adventista para quaisquer circunstâncias que rondaram seus pensamentos. Esse argumento só foi citado para ilustrar um “como assim basear a sugestão de não comer carne na Bíblia?” assim como eu poderia pôr isso em dúvida com outras situações como o pecado começado ao comer uma fruta, ou quando Deus rejeitou a oferta de vegetais de Caim e aceitou o sacrifício animal de Abel, a inauguração do sistema sacrificial do templo (pois a carne era ingerida), entre outras passagens que põem em dúvida tentar basear a abstinência de carne na Bíblia. Lembrando que você não citou nenhuma outra situação de “argumento do espantalho” e muito menos a fez sob o modo de silogismo para demonstrar seu ponto, o que facilitaria o meu entendimento de um possível equívoco.
9-“O texto não abarca o que o adventismo professa” conforme suas palavras, mas, ainda citando sua fala, “palavras são conceitos que nos remetem imagens” e o adventismo passa muitas vezes uma imagem que corresponde ao quadro que pintei com na matéria... e não só a mim, do contrário eu nunca teria dedicado meu tempo a escrever sobre o tema. Logo, creio que deveria meditar no adventismo como um todo que inclua aqueles que não entendem direito em que creem, mas fazem parte da massa... a menos que você não os considere adventistas sinceros. Ainda que lhes falte mais instrução e correção para que textos como o meu não mais circulem na internet, eles ainda são adventistas enquanto tiverem essa confissão de fé.
10-Espero não tê-lo ofendido, mas se eu fosse você usaria a canção do clipe acima para defender a reforma de saúde. Acho um argumento muito mais adequado. Teus argumentos não me levam a concordar contigo. Ponto final.