Salve pessoal!
Em sequência à
série PARADOXOS BÍBLICOS vamos abordar hoje o arrebatamento em vida de Elias e Enoque como outro
paradoxo nas sagradas escrituras.
É interessante observarmos que tanto Antigo como Novo
Testamento são permeados pela noção de que "A alma que pecar, essa
morrerá" (compare Ezequiel 18:4 com Romanos 6:23 e 1 Coríntios 15:56).
Todavia, a Bíblia relata o caso de dois homens "comuns" que não morreram:
Enoque e Elias. Como assim?
Pois bem, a história de Enoque está no livro de
Gênesis, sendo ele o pai de Matusalém (o homem
que teve a vida mais longa, conforme o relato bíblico, com 969 anos). Veja o
que esse versículo emblemático nos diz:
"Enoque andou com Deus; e
não apareceu mais, porquanto Deus o tomou."
Gênesis 5:24
Essa passagem não garante, mas SUGERE que Enoque foi
levado por Deus para algum lugar em VIDA e não sabemos o que aconteceu com ele
por lá nem se veio a falecer em algum momento. Em Hebreus 11:5 atesta-se a
crença de que Enoque foi arrebatado para a presença de Deus onde estaria vivo
até hoje.
Já a história de Elias está em 2 Reis 2:9-14 e consta
como um arrebatamento testemunhado por Eliseu, discípulo de Elias que se
tornaria também seu sucessor:
"E, indo eles caminhando e
conversando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do
outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho."
2 Reis 2:11
Onde entra a dificuldade teológica? Bem, se Enoque e
Elias não morreram isso quer dizer, pela lógica da Bíblia, que NÃO PECARAM, já
que a Bíblia diz que a morte é conseqüência direta do pecado. Sendo assim,
haveria possibilidade real de o homem não pecar em vida, o que tornaria
desnecessária a morte de Cristo na cruz, e isso é um paradoxo porque Jesus,
sendo Deus, TEVE DE MORRER!
Esse é o ponto de dificuldade. Que respostas
possíveis teríamos nesse caso? Há algumas que vou tentar elencar das mais
aceitáveis para as menos prováveis:
a) A morte de Cristo também teria efeito retroativo,
dando direto a alguns (entre os quais Enoque e Elias) de salvação antes da Cruz
como um tipo de "amostra grátis" da salvação que estaria futuramente
disponível a todos pela morte de Cristo numa ilustração da promessa de sermos
levados a estar com Deus na segunda vinda de Cristo.
b) Enoque e Elias estariam em outros mundos e
voltariam à Terra porque ainda vão morrer: alguns identificam Enoque e Elias
como as duas testemunhas de Apocalipse 11:3-12, muito embora seja mais provável
que as duas testemunhas sejam linguagem figurada representando o Antigo e o
Novo Testamento.
c) Enoque e Elias já morreram: hipótese mais fraca
por falha teológica, já que na transfiguração de Cristo (Mateus 17:1-9)
implicaria numa sessão espírita em que Elias teria aparecido como morto
desencarnado. Há ainda uma dificuldade extra com relação a Moisés ter aparecido
também nesse momento sendo que o relato bíblico afirma que Moisés morreu, isso
está em Deuteronômio 34:5-6 e Josué 1:1-2.
Obs.1: Com relação à morte de Moisés há uma crença
racionalizante entre alguns de que, depois de algum tempo, Moisés teria sido
ressuscitado por Deus como interpretação alternativa de Judas 1:9, embora o
contexto não dê a entender isso diretamente.
d) "Toda regra tem exceção": com todo
respeito à coerência do adágio popular, se é regra como pode ter exceção? A
exceção se dá dentro do sistema fechado, num sistema aberto ou fora do sistema?
O adágio em si pode ser considerado um paradoxo, a menos que a
"regra" em si seja não uma prescrição e sim uma descrição. Então teríamos
casos excepcionais em que Deus não seguiria suas próprias regras.
e) Deus faz o que lhe der na telha: Ora, se Deus
transgredir sua própria lei sem usar de paradoxo (pois o paradoxo seria
aceitável pela lógica para lidar com dilemas difíceis*) então não haveria
necessidade de lei, consequências do pecado ou sacrifícios necessários! Por
conseguinte, isso indicaria que Deus muda, quando a Bíblia afirma que Deus não
muda (Malaquias 3:6 e Tiago 1:17).
Obs.2: Aliás, o que Deus quis dizer com "eu não
mudo" se há passagens que mostram mudança de atitude por parte de Deus
como no livro de Jonas quando Deus decide não destruir Nínive ou mesmo ao
conceder mais 15 anos a Ezequias em Isaías 38:5? A isso se responde com um
"Deus não muda sua natureza, embora possa postergar seu juízo". É uma
boa resposta por ocasião do juízo, mas em que isso é diferente de eu dizer
"eu, fulano de tal não mudo", afinal eu sou eu e não posso existir
sendo outra pessoa. Ou Deus, na verdade, estaria dizendo que não muda de
caráter (embora mude de opinião e eventualmente postergue planos)?
Como harmonizar as histórias de Enoque, Elias e a
aparição ainda de Moisés na transfiguração? Acredito ser sincero reconhecer que
apenas no texto bíblico, sem interpretações, tradições, conjecturas ou
informações de fora da Bíblia isso não nos é possível! Todas as informações que
temos a respeito são hipóteses. Beco sem saída queridos... ou melhor
dizendo: Paradoxo.
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