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sábado, 10 de agosto de 2013

PARADOXO DA MORTE ETERNA ☑


Já postei no blog, tempos atrás, um documentário histórico sobre a origem do conceito de inferno como o entendem os ramos do Cristianismo em geral. Hoje, voltaremos um pouco nesse assunto, pois a forma como a ideia de "morte eterna" é explicada pela maioria da cristandade incorre em paradoxo.

Como no blog já abordamos antes o aspecto histórico, vamos analisar o lado lógico da coisa:

Morte = cessação da existência, certo?
Eterno = pra sempre, certo?

Logo, "morte eterna" deveria ser entendida como "cessar de existir para sempre", certo? Mas então por que a cristandade em geral defende um estado de consciência pós-morte aos que rejeitam a Deus explicando a "morte eterna" como sendo um local onde almas conscientes sofrem uma tortura sem fim? Ora, não se pode torturar o que está morto e se alguém está a ser torturado então em realidade está vivo. Daí se segue que toda alma humana seria por natureza imortal (tanto salvos como perdidos) o que seria clara contradição com:

"Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmos (...)" João 5:26

e

"(...) Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." João 6:52-53 (Jesus falava em alusão à sua morte na cruz do Calvário)

além de

"(...)a qual, no tempo próprio, manifestará o bem-aventurado e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que possui, ele só, a imortalidade, e habita em luz inacessível; a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém." 1 Timóteo 6:15-16

É importante reiterar que a Bíblia não afirma categoricamente a doutrina da imortalidade da alma humana sendo esta um ensino tradicional, aparentemente originário do catolicismo romano e que, por tabela, acabou passando para grande parte das igrejas protestantes sem a devida análise de embasamento bíblico. Se só Deus é eterno por natureza, só nEle se pode ter vida eterna, conforme os textos citados e também de acordo com João 14:6. Como muito bem colocara C. S. Lewis em um outro paradoxo: "Você não tem uma alma, você é uma alma. Você tem um corpo"¹. (Paradoxo divertido, não?)

A hipótese semântica de "morte eterna" sem "morte" é incoerente por natureza! Da maneira como se tem pregado a ideia de "morte eterna" é um estupro ao significado de ambos os termos pois "morte" anula o significado de "eterna" e "eterna" anula o significado de "morte". Me parece que o conceito de "morte eterna" é como o paradoxo do gato com manteiga nas costas! Veja:

Gatos sempre caem de pé. 

Objetos amanteigados sempre caem com a face amanteigada no chão.


Logo, se eu passar manteiga nas costas de um gato e o jogar para cima ele nunca cairá, mas ficará flutuando em looping eterno porque as duas "leis" (gatos caem em pé x face amanteigada sempre cai no chão) se anulam, entenderam? Hahahahahaha!

Enfim, afinal por que a ideia é um paradoxo e não uma contradição? Pelo mesmo motivo que onde há luz há sombras mas não trevas: as duas regras, tanto no caso do gato quanto no da ideia de "morte eterna", as premissas são compreendidas como tendo uma possível coexistência simultânea enquanto que numa contradição uma hipótese exclui a possibilidade da existência com a outra (na contradição se "A" é verdadeiro "O" é obrigatoriamente falso).





Existe a possibilidade de a ideia de "morte eterna" ser fruto de má compreensão da linguagem que Jesus usava devido às muitas figuras de linguagem ou "gírias" da época. Nem sempre o que é dito deve ser entendido em sentido literal. Não poucas vezes Jesus tinha de explicar até aos discípulos e até aos mestres da lei o que ele realmente queria dizer em alguns sermões (exemplos: Mateus 13:10-17 e 15:15-16, Marcos 4:10-13, João 3:8-10 e 14:9, entre outras passagens).

A doutrina da "morte eterna" pode estar baseada em hipérbole, como em Marcos 9:43-48:

"Se a sua mão o fizer tropeçar, corte-a. É melhor entrar na vida mutilado do que, tendo as duas mãos, ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga,
onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga.
E, se o seu pé o fizer tropeçar, corte-o. É melhor entrar na vida aleijado do que, tendo os dois pés, ser lançado no inferno,
onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga.
E, se o seu olho o fizer tropeçar, arranque-o. É melhor entrar no Reino de Deus com um só olho do que, tendo os dois olhos, ser lançado no inferno,
onde " 'o seu verme não morre, e o fogo não se apaga'.

Jesus estava alegandoa imortalidade da alma humana e a eternidade do inferno ou Jesus estava citando uma hipérbole usada pelo profeta Isaías?

"E sairão, e verão os cadáveres dos homens que transgrediram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne." 
Isaías 66:24

Sobre essa questão, quero recomendar a análise sobre o tema que vi em dois locais na web:



Acredito ser importante analisar a ideia de "morte eterna" porque ela me soa comparável a uma união de palavras sem nexo como "triângulo redondo" ou "trevas luminosas", a menos que encaremos como:

a) Jesus usando uma hipérbole pra "tirar um barato" criando uma frase de efeito para seus ouvintes entenderem a gravidade de perder sua existência por não se converterem de seus maus caminhos ("NÃO EXISTE VANTAGEM ALGUMA NA INEXISTÊNCIA");

b) O termo "eterno" aparece em outras situações em que também se fala de "morte eterna" com a expressão equivalente "fogo eterno", todavia quando se menciona "fogo eterno" ou "fogo que NUNCA se apagará" (Jeremias 17:27 e Judas 1:7) a expressão se torna mais clara porque diz respeito às conseqüências eternas do fogo (da mesma forma que uma folha totalmente queimada sofreu os efeitos do "fogo eterno" pois não pode ser trazida de volta depois de queimada", logo, nem o fogo nem a folha eram eternos, mas o resultado da ação do fogo sobre a folha repercute para além do tempo quando esta deixou de existir).

Alguns cristãos argumentam que o inferno é a ausência de Deus: "quem por toda a vida quis estar afastado de Deus, por fim, consegue". Então vamos um pouco além: se só há vida eterna em Deus e o inferno é estar permanentemente separado de Deus, como pode o inferno ser eterno? Fica a reflexão. O único modo de termos um inferno eterno é se Deus estiver lá.


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