Ah, paradoxos! O
que seria da vida sem eles?
Um dos paradoxos
mais interessantes da cristandade me parece muito subestimado em debates de
não-cristãos x cristãos quando o foco é a veracidade doutrinária da Bíblia: o
paradoxo do "cedo venho".
Quando Jesus afirmou ser a verdade deve estar em coerência como todos os seus outros ensinamentos e promessas e uma delas diz em Apocalipse 3:11:
"Eis que venho sem demora."
...E assim se passaram 2 mil anos!
Pra
complicar mais ainda, a citação do "cedo venho" não vem
dos evangelhos sinóticos, os 4 primeiros livros do Novo Testamento
que narram a vida de Cristo a partir dos relatos de testemunhas
oculares. Há quem duvide então se há, de fato, inspiração divina
do livro do Apocalipse...
Mas o que seria o paradoxo do "cedo venho"? - você pergunta. A primeira coisa a fazer é olhar a frase abaixo:
1. Essa frase é
falsa.
2. A frase acima
é verdadeira.
Já estão entrando em parafuso? Pois bem, quem pode me dizer se a frase 1 é ou não é verdadeira? Afinal, se a frase 1 for verdadeira isso significa que ela é falsa e se for falsa significa que é verdadeira. Pra piorar ainda mais, a segunda frase alega a veracidade da primeira (o que é totalmente redundante já que se a 1 for verdadeira, logo será falsa e por ser falsa, logo, será verdadeira e assim entramos em looping eterno!). Não se pode considerar o paradoxo uma mentira nem uma verdade. Ele é apenas um paradoxo.
Jesus se auto-proclamou como "o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6), certo? Então, se ele "é a verdade" não poderia mentir, certo? Mas, segundo os critérios que acabamos de ver, ele poderia entrar em paradoxo.
E o que isso tem a ver com a promessa do "cedo venho" de Jesus?
Jesus se auto-proclamou como "o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6), certo? Então, se ele "é a verdade" não poderia mentir, certo? Mas, segundo os critérios que acabamos de ver, ele poderia entrar em paradoxo.
Nós,
cristãos, acreditamos que a Bíblia deve interpretar a si própria,
mas nem tudo é evidente para a cristandade, então não se espante
se nem todas as vertentes cristãs concordarem nesse próximo ponto:
A BÍBLIA NÃO DEFENDE VIDA APÓS A MORTE! Mesmo que isso seja pregado na
maioria das igrejas cristãs de hoje e, ainda que você duvide e prefira confiar na tradição, é possível checar e ver por si mesmo. Em geral, o texto bíblico aborda a morte como um sono e aqui podemos citar: 1 Reis 2:10 e 15:8, 2
Crônicas 33:20, Mateus 9:24, etc... Então, não crer em vida após a morte (exceto que haja ressurreição) é sim uma interpretação viável para um cristão.
Há muitos exemplos por toda a Bíblia da morte encarada metaforicamente como um "sono" do qual só se desperta para o juízo, harmonizando-se com Hebreus 9:27:
Há muitos exemplos por toda a Bíblia da morte encarada metaforicamente como um "sono" do qual só se desperta para o juízo, harmonizando-se com Hebreus 9:27:
"Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo (...)"
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o paradoxo é simples: se na morte não há nada, assim como consta
em Eclesiastes 9:5-6 e Salmos 6:5 e 115:17, disso se segue que a
volta de Cristo demoraria apenas o tempo da vida de cada indivíduo.
Da mesma forma que um celular, ao ter gasto toda sua bateria, é
ligado de novo depois de muito tempo e se "esquece" da
data, já que não havia bateria para acompanhar o calendário.
Assim, para quem viveu 80 anos Jesus demoraria apenas 80 anos pra
voltar; para quem viveu 15 anos, demoraria 15 anos pra voltar e etc.
Ou seja, todos os mortos ressurgem ao mesmo tempo em suas respectivas
idades.
Sendo
o "cedo venho" um paradoxo, Jesus não mentiu. E não, isso
não é o mesmo tipo de "pegadinha" em 2 Pedro 3:8 já que
não lida com a suposta percepção de tempo de Deus mas com duração
da vida humana.
Historicamente
Jesus demora a voltar, mas não demora para cada indivíduo. Pode
parecer ginástica mental, mas é só um paradoxo. Longe de querer
criar doutrinas, estamos apenas averiguando se a cosmovisão cristã
respeita as estruturas lógicas de raciocínio. Acredite nessa
interpretação ou não, você já não tem mais o direito de dizer
que o "cedo venho" é falso, pois está melhor enquadrado
como um paradoxo.
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