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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O PARADOXO DA SALVAÇÃO ☑

Se você não é cristão e veio parar aqui não garanto que vai concordar com cada um dos argumentos, mas toda crença, religiosa ou não, tem base em premissas de linguagem (conceitos), e a linguagem é redutível à lógica.

Falamos de um criador que compõe um universo cheio de regras apenas pelo poder de suas palavras mas, por algum motivo, há coisas ruins e inexplicáveis num mundo que foi, cremos, foi criado bom, daí precisarmos ser "salvos" de diversas coisas. Parando pra pensar, isso não difere muito de um cara que desenvolve um programa no seu computador e depois percebe que o programa tem bugs, ou quando você acaba de comprar um PC novo e, na primeira semana de uso, pega um vírus. Gosto tanto das metáforas de informática que outras vão aparecer em vários pontos aqui.

Antes de falar do Paradoxo da Salvação precisamos ter um panorama geral sobre a religião cristã, sobre o pecado e sobre o julgamento de Deus sobre as ações humanas: há uma moral absoluta na crença do cristão, sendo ela equivalente ao próprio caráter de Deus. No Antigo Testamento Deus expôs seu caráter a partir de um conjunto de leis morais, religiosas e civis conhecida como Torah ou "Lei de Moisés". Um dos pontos da lei mosaica chama atenção, pois ela estabelecia a morte de animais como sacrifício para aplacar a ira da divindade com a conotação de perdão de pecados (a parte do sacrifício, inclusive, é algo em quase todas as religiões antigas). Mas, de onde isso veio?

Na cosmovisão cristã, isso veio de algo prometido e ilustrado pelo próprio Deus em Gênesis 3: Deus mata (um cordeiro, talvez?) para fazer peles e cobrir a nudez de Adão e Eva após o pecado original humano). O mesmo tipo de sacrifício foi praticado por Abel possivelmente em reverência e esperança nessa promessa (você pode ler isso em Gênesis 4: o sacrifício de Abel foi um sacrifício de animal, diferente do de Caim, que ofereceu do fruto da terra quem sabe pensando algo como “já que Deus havia expulsado seus pais do jardim por uma droga de fruta, por que não tentar?”).

Se entendermos as coisas por esse prisma, a morte vem como resposta de Deus ao pecado e, com ela, a necessidade do sacrifício. O apóstolo Paulo vai além e nos mostra que o pecado havia criado uma nova lei natural - a Lei da morte:

"O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei."
1 Coríntios 15:56.

Se essa interpretação estiver certa, a morte só passa a existir a partir do momento que o pecado é introduzido na criação. No Antigo Testamento, instituiu-se o sistema de sacrifícios em que o animal morria, literalmente, no lugar da pessoa que pecasse contra algum dos mandamentos divinos, de modo a ganhar tempo até que o próprio Deus redimisse por completo a sua criação.

Desde então, as pessoas morrem, gerações após gerações, pelos mais variados motivos. Quem pecar morrerá em algum momento (Ezequiel 18:20), assim como uma maçã arremessada ao longe, eventualmente, cai ao chão pela força da gravidade... independente da força do braço que a arremessa.

O sacrifício de animais era temporário até que o Messias viesse, daí cessariam devido ao cumprimento da promessa da morte de Cristo, a qual estenderia as virtudes de Cristo e sua ressurreição a todos aqueles que cressem, confessando e seguindo a Cristo. Assim sendo, dizemos que Cristo morreu em lugar dos pecadores como sacrifício definitivo.

Eis mais um ponto necessário de se explicar ao leigo: a morte de Cristo é um paradoxo! Deus achou uma brecha em sua própria lei para não ter que destruir a humanidade: ao estender as virtudes perfeitas do homem-Deus que morreu sem pecado no lugar dos pecadores, pela ressurreição de Cristo, temos o paradoxo do inocente que carregou os pecados de todo o mundo e ganhou o direito de redimir todo aquele que nEle crê (João 3:16)!

Imagine que Deus seja um programador de computador e no app da Criação, no "software" do nosso mundo, há uma linha de comando que diz:

Todo aquele que pecar morrerá.”
Gênesis 2:16-17 e Ezequiel 18:4, parte B

&

Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.”
Romanos 3:23

E se não apenas o homem foi afetado, mas toda a natureza, recebendo os efeitos da "lei da morte"?

"A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo."
Romanos 8:19-23

A consequência óbvia é que toda a criação deveria morrer, gradualmente, até sua extinção eterna. Inclusive, a mais severa demonstração dos efeitos do pecado no relato bíblico foi o Dilúvio: Se pecar, logo, morrerá (cf. Gênesis 2:17). Simples assim… E, infelizmente, existem muitas formas de morrer.

O que nos leva ao problema de culpar um inocente para preservar o real culpado: uma ideia bizarra, de fato, mas guarda um sentido metafórico quando observamos que os animais sacrificados nos rituais do Antigo Testamento eram (em geral) comidos para manter a vida daquele que come, imagem relembrada e reinterpretada por Jesus no rito da ceia (Lucas 22 e 1 Coríntios 11:23-29).


A ideia de associar alimentação e sobrevivência com um ensino moral é antiguíssima. Mata-se para comer e, pela morte do devorado, o devorador pode viver mais um dia. O esquema é muito simples e universal a nível psicológico: o que explica não apenas o sentido religioso dos sacrifícios do tabernáculo e do templo no Antigo Testamento mas também da santa ceia instituída por Jesus Cristo no Novo Testamento.



Se quem peca, por lei natural, deve morrer, então o que acontece se alguém que não peca de fato chegar a morrer?

Pelas linhas de comando do paradoxo divino, o não-pecador que morre pelo pecado dos outros não só terá sua vida de volta como ganha o direito a outra vida: a daquele por quem ele morreu pois já pagou a consequência dos pecados daquele que realmente teve culpa! Parece vídeo game! 


Dá pra complicar ainda mais a questão: imagine agora que o não-pecador que morresse fosse, em realidade, naturalmente imortal. O que segue daí? Que a nova vida ganha pelo não-pecador ressuscitado também o será! Agora imagine ainda que a pessoa imortal que nunca pecou (porém morreu) fosse, além de tudo, o próprio Criador da vida! Seguindo a ideia de que essa regra é uma lei universal, como uma linha na programação do código-fonte de um software; se, no começo, através do pecado, toda a criação foi corrompida, pelo paradoxo da salvação e sacrifício de Cristo em nosso lugar, o criador cede o direito de fazer novas todas as coisas e estender essa nova vida adquirida (ou, como prefiro dizer, hackeada) pelos méritos de Cristo sobre a criação como quem sobrescreve um arquivo corrompido por um novo, consertando o sistema.

Estranho? Sim... Incoerente? Não! Paradoxal? Com certeza. Verdadeiro? Para todo que crê...

"Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam." 
Hebreus 11:6

"Porque, se a aspersão do sangue de bodes e de touros, e das cinzas duma novilha santifica os contaminados, quanto à purificação da  carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo?"
Hebreus 9:13-14

"Pois onde há testamento, necessário é que intervenha a morte do testador. Porque um testamento não tem torça senão pela morte, visto que nunca tem valor enquanto o testador vive."
Hebreus 9:16-17

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
João 3:16

"Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras."
Mateus 16:27

No próximo episódio: O PARADOXO DO "CEDO VENHO"!

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