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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

PARADOXOS BÍBLICOS ☑


Já sabemos que um paradoxo pode ser caracterizado como uma contradição aparente, mas não real, entre argumentos ou um problema lógico sem solução. No capítulo anterior falamos um pouco sobre os paradoxos de Zenão. Eis agora outro clássico exemplo, o paradoxo do Barbeiro:

"Suponha-se que exista uma cidade com apenas um
barbeiro do sexo masculino. Nesta cidade, todo
homem se mantém bem barbeado, incluindo o próprio barbeiro.
Todos os homens dessa cidade fazem exatamente uma de duas coisas:

1. Ou se barbeiam ou
2. Frequentando o barbeiro

Outra maneira de definir isso é: O barbeiro é um
homem da cidade que faz a barba de todos
os outros, e somente dos homens que não
barbeiam a si mesmos. Tudo isso parece
perfeitamente lógico, até que se coloca a questão
paradoxal:

Quem barbeia o barbeiro?

Esta questão leva a um paradoxo porque, de
acordo com a afirmação acima, ele pode ser
barbeado por:

1. Ele mesmo, ou
2. O barbeiro (que também é ele mesmo)

No entanto, nenhuma destas possibilidades é
válida, porque:

1. Se o homem barbeiro barbear-se a si mesmo, então
ele mesmo não deve barbear a
si mesmo (pois não poderia ser barbeiro).

2. Se o homem barbeiro não barbeia-se a si mesmo,
então ele, o barbeiro (que é ele pŕoprio) deve barbear a si
mesmo."






Paradoxos são muito divertidos e encantam os estudos de lógica, mas nosso bom senso sabe que muitos problemas existem apenas nas ideias, não em realidade. No caso do barbeiro, o mesmo poderia tanto se barbear como se barbear num barbeiro de confiança da cidade vizinha, deixar a própria esposa barbeá-lo, etc.

E o que isso tem a ver com a Bíblia?

Bem, me corrijam se eu estiver errado, mas me parece que a Bíblia está repleta de PARADOXOS.

Não me entenda mal! Não pertenço a nenhuma vertente teológica que advogue a posição de que a Bíblia possua erros doutrinários: não penso dessa forma, nunca pensei. Só quero deixar claro que, atualmente me parece que a Bíblia possui seus paradoxos (inclusive na questão da obediência a Deus) tendo mais tons de cinza entre o preto e branco que é pregado nas igrejas.

Veja alguns exemplos das próprias escrituras:

*Em Levítico (o livro todo): Deus institui o sistema sacrificial e os rituais do templo, mas em Oséias 6:6 Deus reprova o sacrifício e diz que seu real desejo era a obediência.

*Em Êxodo 20:13 há o famoso mandamento "Não matarás", mas o mesmo Deus ordena em Números 31 um morticínio (entre outros registrados na Bíblia).

*Em Mateus 15:8-9 Jesus diz que o povo louvava a Deus com os lábios, mas estava com o coração longe dele.

*Por último, em Tiago 1:27 há a menção que resolvi transcrever na íntegra:

"A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e
imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em
suas dificuldades e não se deixar corromper pelo
mundo."

Pra mais alguém pareceu que Deus está mais interessado em praticar o amor cristão que em obedecer regras?

Há uma discussão a esse respeito também com a questão se deve ou não um cristão ser militar/policial? Por conta da regra do "não matarás", obviamente. Outra questão seria a do 4.º mandamento estar ou não em vigor (a guarda do sábado), em que a situação é a mesma e ainda há a questão da dieta apresentada em Levítico 11 na qual, entre outras coisas, a carne de porco (atualmente a mais consumida no mundo*) é declarada imunda e imprópria para alimentação. Então eu pergunto: É possível transgredir um mandamento para obedecer outro? Aliás, se as transgressão de um mandamento incorre na obediência de outro, ainda é transgressão?

Parecem paradoxos, certo? Parecem paradoxos porque SÃO PARADOXOS!

Há um trecho emblemático no Antigo Testamento em Êxodo 1 que ilustra o que quero dizer: as parteiras hebréias, às quais faraó havia ordenado que matassem os filhos dos hebreus (escravos no Egito), MENTIRAM para preservar a vida das crianças (isso é narrado antes da história de Moisés).

Prestes atenção: A Bíblia não relata a "opinião" de Deus a respeito da atitude das parteiras. Mas ela registra o fato nos deixa um paradoxo. Vale mentir pra não matar? Lembrando que isso não tem nada a ver com o fato dos 10 Mandamentos terem sido dados por escrito depois. E é na própria Bíblia que se argumenta nessa linha:

"Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis;"
Romanos 1:19-20

"(...) pois mostram que as exigências da Lei estão
gravadas em seu coração. Disso dão testemunho
também a sua consciência e os pensamentos deles,
ora acusando-os, ora defendendo-os.) Isso tudo se
verá no dia em que Deus julgar os segredos dos
homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho." 
Romanos 2:15-16

Paulo falava que não é possível estar alheio a Deus e sua existência e atributos (e aqui inclui-se o caráter de Deus) em sua criação e em nossa própria mente.

Em diversos tópicos da fé cristã, como o estado do homem na morte, salvação, perdão, caridade, juízo divino, e até assuntos mais sutis como as profecias há vários pontos que não são tão claros. O número de igrejas cristãs diferentes que o diga!

Seria um paradoxo que um Deus que não muda de caráter tenha tornado algumas leis obrigatórias no Antigo Testamento como opcionais ou mesmo revogadas no Novo Testamento?

Fica a reflexão.

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