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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Charles Darwin, Full Metal Alchemist e a Essência das Coisas



Um dos filmes mais interessantes que tive a oportunidade de assistir recentemente foi "Criação", a história da vida de Charles Darwin e, consequentemente do processo que o levou a escrever "A Origem das Espécies". Ainda hoje há quem tenha no livro de Darwin uma das idéias individuais mais brilhantes de todos os tempos... Será?

Sempre parto do princípio de que o autor e a obra são um único sistema. Se todas as vivências e aprendizados que temos numa dada fase constituem as partes que formam o todo de uma ideia (e essas idéias podem ser registradas num livro, numa música, pintura, etc), então nossas idéias e as experiências anteriores que dão base a essas idéias formam um todo, certo?

Darwin, apesar de ter observado, por anos a fio, espécimes animais e estudado sua fisiologia, era também um homem perturbado pela perda de sua filha favorita (Anne Darwin) e pelas implicações anti-religiosas que sua teoria evolutiva trazia. Era atormentado pela crueldade da natureza, onde tantas espécies morrem para servir de alimento a outras, uma natureza que só permite ao mais adaptado sobreviver. Podemos analisar esses dois aspectos dos terrores de Darwin.

Em primeiro lugar, o que diz "A Origem das Espécies"? Diz que, a natureza é um campo de batalha, logo, apenas os mais aptos sobrevivem. Que tipo de aptidão é descrita por Darwin? Aptidões físicas oriundas de alterações randômicas que ocorram ao longo de gerações na estrutura dos corpos animais ao herdar características de seus progenitores e ancestrais. Se acaso, alguma dessas alterações fornecer uma vantagem a um ser em algum meio, então esse ser sobrevive. Para Darwin, havia duas repercussões principais dessa premissa: 

1 - A primeira é que, ao longo do tempo essas alterações poderiam tornar uma espécie animal em outra mais evoluída, assim sendo, seria possível que todas as espécies animais tenham um ancestral comum; 

2 - A segunda é que esse fator seria excludente da necessidade de um Deus organizador. Será? Em primeiro lugar. Para que uma hipótese (uma ideia que busca explicar um fenômeno) ser considerada científica, essa hipótese deve ser passível de reprodução por experiências, mas as experiências apenas demonstram que as pequenas mutações randômicas geram multiplicidade racial, nunca transformação de espécies - ao propor uma solução para o problema estipulando períodos de milhões e bilhões de anos, torna-se impossível reproduzir e acompanhar um experimento de modo a demonstrar que a hipótese é possível, ou seja é uma desculpa ilógica para um raciocínio errado que pulou à frente da evidência, logo, tal proposta não pode ser científica, se encararmos a ciência como subproduto da lógica. Em segundo lugar, a ideia não abala em nada a possibilidade de criação original, então é logicamente irrelevante usá-la para justificar que Deus seria desnecessário na natureza. É um argumento tolo.

O segundo ponto está na crueldade presente como necessária a preservar a ordem natural - as mortes necessárias pra alimentação, pestes, inimigos naturais, parasitas, etc. Todos esses aspectos da sobrevivência são muito bem expostos sob um lente filosófica no já citado anime FullMetal Alchemist por meio da noção de "troca equivalente" - se a morte de um ser provê nutrientes pra que outros vivam, então a troca de uma vida por outra é equivalente. 

Mesmo a noção de justiça perpassa esse conceito, já que, pensamos que a punição deve ser equivalente ao dano e a recompensa equivalente ao esforço, e quando assim não acontece chamamos injustiça pois algo desequilibra a balança das coisas. 

Em FullMetal Alchemyst vemos muito o cenário da alquimia (precursora da química, mas um tanto envolta em crendices míticas) onde a pedra filosofal, com a qual seria possível quebrar as leis naturais sem desequilibrar a balança de "troca equivalente", carecia de vidas para ser produzida. Essa crueldade necessária para a ordem na natureza atormentava um pai que perdeu a filha. Nesse ponto cabe pensar que tipo de Cristianismo existia nos tempos de Darwin, já que o sacrifício de Cristo parte da ideia de troca equivalente, de um mundo que precisa do mal para contrastar com o bem e da morte de uns para que outro vivam. Cristo carregou essa ideia na carne pois, sem sua morte nós não poderíamos viver em paz com um Deus santo. A metáfora da ceia é que quando se come, aquilo que morreu, animal ou vegetal, passa a vida que tinha para nós. Ao comungarmos com o sacrifício de Cristo, uma parte dele vive em nós, por isso somos chamados "cristãos" (em grego, "cristão" significa "pequeno cristo"). Deus Pai odeia o pecado e já havia destruído sua criação no dilúvio, segundo o relato bíblico, e o faria/fará novamente... (Apocalipse 20:12-15).

Como pecado e Deus são mutuamente excludentes, ou Deus nos destrói ou deixa uma parte dele dentro de nós mediante o sacrifício de Cristo. Nossa aceitação do mesmo, mediante arrependimento nos permite receber o "Espírito Santo". Os cristãos do tempo de Darwin não tinham coragem ou conhecimento de admitir que Deus fez um mundo sabendo que a queda aconteceria, ciente do pecado e da morte e que teria de dar um jeito pra que a cadeia alimentar limpasse uma parte da sujeira. Darwin não sabia disso. Deus fez um mundo onde os que morrem são devorados pelos que vivem, de outro modo não há vida. Assim se fez necessário o sacrifício de Cristo para nos "alimentar". Essa é a essência das coisas.


Descanse em paz Charles!

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