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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"O Náufrago" e as raízes da idolatria


Realmente após assistir "O Náufrago" se chega à conclusão de que há filmes e filmes. Sem orçamentos dispendiosos ou apelação sexual, violência, explosões homéricas e efeitos especiais de última geração e com pouquíssimos diálogos este filme consegue ser interessante, dramático e inteligente.
Uma questão dentre todas as outras se destaca no filme: a solidão do náufrago. Em seu total isolamento da civilização e sem ter com quem conversar, acaba fazendo uso de um mecanismo de defesa interessante: a projeção. Toma uma bola de vôlei, desenha nela um rosto (posteriormente lhe improvisa outras modificações como cabelo, pois o seu próprio cresceu ao longo do tempo na ilha) e com ela passa a dialogar. Não dá pra negar que é um mecanismo interessante para manter a sanidade nessa condição atípica.
Há diversos registros de prisioneiros em isolamento apresentarem algum comportamento bizarro estudados pelo meio acadêmico, e até mesmi reality shows fazendo experiências do tipo, mas não vou entrar nessa questão.
Alguns desenvolvem paranóia e outros simplesmente criam jogos mentais para sentir o tempo passar mais rápido. Alguns recitam trechos de livros, escrevem nas paredes, fazem criptogramas, etc.
O que me chama atenção na atitude do náufrago é justamente a simplicidade e universalidade de sua defesa. Todo mundo já falou sozinho em alguma situação de isolamento. Na verdade, recapitulamos o que precisamos lembrar em voz alta mesmo diante de outros e, pelo menos nós que nascemos com audição suficiente para pensar em termos de linguagem falada, pensamos num formato que parece um monólogo. Falamos sozinhos o tempo todo!
O tempo todo também preferimos culpar o próximo a assumir a responsabilidade por nossos erros. Os mais sensatos, após algum tempo, chegam à brilhante conclusão: "Não é você, sou eu!"
Fico imaginando se esse não seria o mecanismo básico que permite a uma pessoa comum também ser idólatra.
O caso é que isso poderia implicar que as pessoas tem um mecanismo para a fé.
Pois bem, pra quem duvida, vejam o seguinte artigo:

g1.globo.com/Noticias/0,,MUL1035585-9982,00-CIENTISTAS+IDENTIFICAM+AREAS+DO+CEREBRO+LIGADAS+A+FE+RELIGIOSA.html

Nas aulas de filosofia, costumeiramente os professores apontam a fase do mito como a primeira tentativa do homem de explicar a realidade pela fantasia, sendo que a fase racional viria apenas com o nascimento da filosofia. Nas aulas de psicologia apontam os mitos como revelando conteúdos psíquicos universais ao homem. As mitologias grega e oriental são as mais conhecidas pelo fato de terem uma moral envolvida nos épicos contos (o que não é um fenômeno universal se estudarmos outras referências como a mitologia nórdica onde os personagens se resumem a um bando de bêbados mulherengos e suas piriguetes agitando geral em altas confusões! Enfim. Com pouca ou nenhuma moral nas histórias).
Admitindo o fato que os mitos mais refletem nosso interior que se relacional aos fatos há de se admitir que talvez a tentativa fantasiosa de explicar a realidade na fase do mito não fosse uma tentativa de explicar a realidade mas apenas uma exteriorização sublimada de nosso desespero existencial. Sendo a única espécie racional do planeta (aparentemente), lidando com um meio natural hostil desconhecido e separados de Deus (nossa figura paterna inicial de quem nunca deveríamos ter nos afastado) o que restou a nossos ancestrais além da alternativa do náufrago? Aplicado nesse contexto, Renato Russo descreveu bem essa situação numa de suas canções ao dizer que "se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo*". Longe do Criador essa parece ser a única opção possível, então o homem, criado por Deus como uma maquete semelhante em atributos psíquicos, racionais e morais a si mesmo, decide recriar o Criador com quem não pode suster um relacionamento (pois não pode ser santo como o Criador). O homem recria um deus (ou deuses) que são imagem e semelhança de suas próprias fraquezas na vã esperança de suprir um relacionamento que perdeu... Assim como o náufrago inventa um Wílson com quem conversar porque a única alternativa é a solidão total e completa, uma solidão devastadora com a qual um ser humano não pode lidar porque não foi feito para estar só (Gn 2:18), uma solidão que lhe levaria ao desespero. E o desespero é o mais próximo que um ser humano pode chegar do inferno sem ter que morrer.

* - Mais uma vez, Legião Urbana

2 comentários:

  1. O filme conclui que o moribundo em questão não quis ampliar sua família aliando-se com a comunidade achada. Antes, prefere de corpo e alma abandodar o conforto natural para a sua metrópole sofisticada.

    A "natureza" do infortúnio diz que aquela não é a casa dele devido a cultura que lhe foi empregnada na alma. Voltar às origens é nascer de novo, coisa que o filme não apóia.


    Tá ai minhas considerações. E parabéns pelo post - muito esclarecedor.

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  2. Salve compadre Joselei!
    Tem certeza q estamos falando do mesmo filme? Me parece não.
    Náufrago lembra? Com Tom Hanks.
    A história é de um cara cujo avião cai e ele (Tom Hanks), único sobrevivente, vai parar numa ilha onde fica sem contato humano por 2 anos. Pra não enlouquecer, já q não tinha ninguém pra conversar, ele cria um personagem de nome Wílson, q é, na verdade, uma bola de tênis.
    O final é triste pq qnd finalmente resgatam ele a vida q ele tinha antes da ilha acabou. A noiva dele casou com outro, o emprego já era, as posses. Termina com ele andando de carro pensando: "E agora?"

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