Contrariando a lógica que costumo usar de que "se não quer que as pessoas deem atenção, não fale sobre isso" após ter constatado que as pessoas JÁ ESTÃO dando atenção demais a isso resolvi postar meu breve olhar a respeito da onda de sucesso de uma certa canção de um certo cantor irlandês chamado Hozier. A canção é homônima ao nome da postagem, chama-se "Take Me To The Church" que, em português, significa "Me Leve Pra Igreja".
O primeiro contato que tive com essa música foi através de covers de 2 youtubers que eu sigo por conta de fazerem covers interessantes de músicas que todo mundo conhece ao bom e velho estilo do Heavy Metal: Leo Moracchioli e Jonathan Young.
Por mais que pese o talento musical dos rapazes, a técnica de guitarra, e os drives de Leo Moracchioli ou o incomum alcance vocal de Jonathan Young enquanto barítono (inclusive o músico tem alguns trabalhos autorais interessantes), ambos multi-instrumentistas competentes, confesso que me senti esquisito ouvindo a música... e não é aquele esquisito de "não entendi a letra" nem o esquisito de "mas que arranjo de bosta foi esse se o original era melhor?", foi algo mais como "há algo de podre no reino da Dinamarca".
Da última vez que resolvi polemizar sobre música recebi uma chuva de pedradas de fãs do HIM sendo que eu mesmo ouço a banda e GOSTO! Mas não dá pra não achar esquisito usar metáforas teológicas e da demonologia pra (supostamente) falar de amor. Você na verdade acaba falando das duas coisas. O que é complicado sabendo que o HIM já abrigou um integrante que fazia parte do movimento do "satanismo vampírico" e que Ville Valo é ateu. E todo mundo sabe como ateus (com raras exceções) gostam de brincar com religião... E exagerar no ponto... E ofender de propósito... Pra depois dizer, como nosso finado Chespirito: "Foi sem querer... QUERENDO!"
O problemas da canção de Hozier é similar. Sob a desculpa de lutar contra a homofobia nunca por ele vivida, já que é hetero (hã?! O.o), com um clipe muito do pederasta (se não sabe o que é isso, vai pegar o dicionário e depois volta) fica difícil não entender a atitude do cantor como um ataque direto aos valores cristãos. Não sei se foi ideia dele mesmo ou dos produtores no mainstream (que querem pôr sexo em tudo, até em propaganda de pneu de automóvel...) mas o fato é que o marketing envolvendo a canção não condiz sequer com a letra, como constatei na matéria do blog "Caderninho da tia Helo" a quem resolvi citar a nível de análise de letra. Ela (E NÃO EU) diz:
"Confesso que até então eu não sabia quem era Hozier nem tinha escutado Take Me to Church.
(...)
Aí eu fiquei mais curiosa ainda para saber sobre o que é Take Me To Church. Afinal porque o Hozier quer tanto ir para a igreja?
Hozier disse numa entrevista que "A música é sobre afirmar-se e recuperar a sua humanidade através de um ato de amor. É dar as costas para uma coisa teórica, algo intangível, e escolher amar algo que é tangível e real - que pode ser experimentado.... Mas não é um ataque à fé. Vindo da Irlanda claro que existe uma ressaca cultural a partir da influência da igreja. É muita gente andando com peso no coração e decepção e isso passa de geração em geração... A música é sobre isso - escolher um amor que vale à pena amar." (filosofou)
Como Losing My Religion, Take Me To Church não é sobre religião de fato. A música do R.E.M. é sobre obsessão, essa música do Hozier é sobre amor, sexo, e como a pessoa amada pode ser uma religião.
My lover's got humor
She's the giggle at a funeral
Knows everybody's disapproval
I should have worshipped her sooner
If the heavens ever did speak
She is the last true mouthpiece
Every Sunday's getting more bleak
A fresh poison each week
"We were born sick", you heard them say it
My church offers no absolutes
She tells me "worship in the bedroom"
The only heaven I'll be sent to
Is when I'm alone with you
I was born sick, but I love it
Command me to be well
Amen
Hozier começa a música admirando o humor de sua amada. Ela ri em funerais (quem nunca?) e sabe que os outros não aprovam e ele deveria ter a venerado mais cedo. Ela é a boca do paraíso, sua religião e igreja. A cada domingo que fica mais sombrio vem um veneno novo a cada semana significa que ele está cansado do que os outros estão dizendo e pregando.
A sua igreja não oferece absolutos e a adoração é feita no quarto, na cama (ui, ui, ui). E o único paraíso para o qual ele vai é quando está só com ela (me lembrou Locked out of Heaven do Bruno Mars, que também é sobre sexo).
"Eu nasci doente, mas adoro", doente na opinião dos outros que acham que ele e sua amante são imperfeitos. "Me faça ficar bem". 50 tons de Amen.
Take me to church
I'll worship like a dog at the shrine of you lies
I'll tell you my sins and you can sharpen your knife
Offer me that deathless death
Good god, let me give you my life
"Então me leva para essa igreja, já! Vou te adorar como um cachorro no santuário das suas mentiras." (essa frase é genial! cheia de sentimento) "Vou te contar meus pecados e você pode afiar sua faca. Me ofereça aquela morte imortal" (Hozier filosofou que se apaixonar era uma morte, a morte de tudo. é observar a si mesmo morrer de forma maravilhosa, num sentido morte-renascimento. Hozier, amigo, a gente sabe que morte imortal é um orgasmo.)
E aí ele só quer saber de se entregar.
If I'm a pagan of the good times
My lover's the sunlight
To keep the Goddess on my side
She demands a sacrifice
To drain the whole sea
Get something shiny
Something meaty for the main course
That's a fine looking high horse
What you got in the stable?
We've a lot of starving faithful
That looks tasty
That looks plenty
This is hungry work
Nessa parte da música ele relaciona atos pagãos (ele é um pagão dos bom momentos) com o que sua deusa exige, porque ele precisa mantê-la a qualquer custo. Adoração ao Sol, sacrifícios, coisas brilhantes, uma carninha para o prato principal, um cavalo. (O cavalo aqui na verdade significa a arrogância dos outros em julgar, e que sacrificar essa arrogância e julgamento seria ótimo para os fiéis famintos).Ele faz tudo por ela, e não é fácil. (Mas parece saboroso e abundante. Vai fundo Hozier!).
Take me to church
I'll worship like a dog at the shrine of you lies
I'll tell you my sins and you can sharpen your knife
Offer me that deathless death
Good god, let me give you my life
Mas ela o leva para a igreja e dá aquela morte imortal.
No masters or kings when the ritual begins
There is no sweeter innocence than our gentle sin
In the madness and soil of that sad earthly scene
Only then I am human
Only then I a clean
Amen
Quando o ritual começa não tem mestres nem reis (Fica a dica Mr. Grey), e que nada é mais doce e inocente do que o pecado suave. Na loucura e no solo daquela cena terráquea triste. Ele está no céu. Só então ele é humano e limpo. Ele se purifica pelo ato. Sexo poético.
Take me to church
I'll worship like a dog at the shrine of you lies
I'll tell you my sins and you can sharpen your knife
Offer me that deathless death
Good god, let me give you my life
(...)
O cristão não precisa ter problemas com sexo poético, disso o livro de Cantares está repleto. Fazer referência a algo como o sexo enquanto religião é que me perturba. Se você "fica de boa" com isso, pare de ler aqui mesmo e vai viver sua vida... Mas, depois de uma formação em Psicologia e cerca de 5 anos de consultório, me parece vil colocar a sexualidade, qualquer que seja, como um ídolo no lugar da busca por um sentido real na vida, por algo transcendente. Pessoas morrem, entram e saem de nossas vidas, nos decepcionam, relacionamentos acabam e, no final das contas, nada disso preenche realmente a vida das pessoas. E a busca pelo sentido da vida está gradualmente sendo reduzida a FODER o máximo possível.
Não sei se fãs de Hozier gostam de funk, mas em ambos os casos acabam por ensinar exatamente a mesma coisa: Tudo que você realmente precisa na vida se resume a SEXO. Sob a justificativa de apresentar qualquer coisa como "cultura" (inclusive a banalização do sexo e das sexualidades), estamos roubando das pessoas a busca pelo significado da realidade e do sentido da vida enquanto nos entregando a valores rasos e relacionamentos fugazes. E por mais bonito e poético que seja o disfarce da real intenção, a mensagem permanece sendo a mesma mentira que, uma vez frutificada no coração do homem, produz aquilo que Jesus narrou em Mateus 15:19:
"Porque do coração é que procedem os maus intentos, homicídios, adultérios, imoralidades, roubos, falsos testemunhos, calúnias, blasfêmias."
Fica aqui registrada a minha revolta cantada pela banda Switchfoot que, aparentemente, pensa o mesmo que eu:
Fontes:
http://migre.me/w8zkV
http://migre.me/w8zls
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ResponderExcluirAcho incrível como a religião e o fanatismo, bloqueiam uma interpretação de texto... É oq mais vejo com filmes, séries, músicas, sempre uma mensagem satanista, uma bolha social perfeita que inventa mil peripécias para dizer que sempre há um significado maligno nas coisas (o pior é que convence, isso que me assista,uma política de controle pura)
ResponderExcluirCara, a cosmovisão cristã é a lente pela qual interpreto o mundo. Não tem ginástica mental aqui, eu simplesmente peguei trechos de uma fã da música interpretando a letra e expliquei que esses valores não são cristãos.
ExcluirSei dos exagerados que vêem o diabo em tudo e não é essa a questão aqui. O problema é quando há, de fato, um conteúdo ruim numa obra e pessoas começam a passar pano porque gostam ou concordam com o que a música diz.
Você realmente acha que o objetivo da vida é meter onde der vontade? Então, vai pro xvideos! Eu não concordo.
Meter e amor não são sinônimos.
Pelo visto vc não entendeu a ironia da canção. A música fala de homofobia pelo viés religioso. A igreja cristã acaba tratando o desejo homossexual como perversão, e para alguém que possui esses desejos o único caminho na igreja é orar para retirar o mal que o "contamina". Então se o homossexual não pode amar alguém do mesmo sexo ele está sujeito a viver uma mentira em prol da "fé".
ResponderExcluirE desde quando eu preciso transar com alguém só porque eu amo? Você está confundindo o significado de amor e sexo e infelizmente essa confusão é senso comum hoje em dia.
ExcluirSe você não acredita na Bíblia é problema seu, vai procurar tua turma! Esse blog é cristão e se Deus é real e diz que duas pessoas do mesmo sexo transando é uma perversão então é perversão e acabou! Quem sabe como a máquina funciona melhor é o fabricante e não você.
Midnight777, é difícil pessoas com posicionamento cristão tão firme quanto o seu. Parabéns!
ExcluirE o pior é que muitas pessoas acreditam que a música é "apenas sobre sexo" e normatizam o assunto.
ResponderExcluirÓtima análise, muito direta e de fácil entendimento, confesso que vi a música achei legal a melodia mas quando vi a tradução (pois sempre procuro por ela mesmo gostando da melodia) achei um tanto estranha e confusa, e até encarei como uma provocação não só a fé de muitas pessoas quanto as igrejas.. entendi bem na sua explicação e continuo desgostando da letra da música.. vendem de tudo hoje em dia, nos é que não podemos nos vender, por coisa alguma!!! Agradecimentos pelo tempo gasto nesse post por todos envolvidos!!!
ResponderExcluirParabéns pela análise amigo.
ResponderExcluirFoi a mesma impressão que eu tive quando escutei a música pela primeira vez. A galera precisa tomar cuidado com essas filosofias. A vida não é só isso!
ResponderExcluirMuito boa a análise, de fato fiquei sabendo que este cantor existia através de um post de uma amiga e como muitos gostei da melodia, mas sempre procuro a letra das músicas internacionais que escuto e é realmente confusa e sem nexo. Sua análise abriu meus olhos perdidos no meio de tanta esquisitice rsrsrs. Parabéns pelo excelente trabalho.
ResponderExcluirNa música, ele torna a mulher o seu ídolo, e diz que a sua adoração é na cama, fazendo prazer carnal que termina quando você ejacula. Ele não fala isso, mas está implicitamente nesse sentido.
ResponderExcluiruma visão realmente mais realista da de muitas que vi até agora... tbm sou cristã e não acredito no "seja feliz a qualquer custo, isso que importa" afinal no fim de tudo isso esse tal " qualquer custo" que tanto dizem vai sair muito mais caro doque estes mesmos imaginam!
ResponderExcluirDeus te abençoe e continue enfim dando sabedoria para discernir essa "normalidade secular" que tem invadido até mesmo o meio cristão!
Eu até gostava dessa música até ver a tradução...achei confusa,sem pé nem cabeça,e senti que não era bom eu ouvir mais,procurei por várias explicações sobre a letra,mas a maioria interpreta como algo "bonito",sua análise foi a melhor,clara e verdadeira.
ResponderExcluirÓtimo
ResponderExcluirTambem simpatizei a melodia da canção porém ouvindo a letra mais compassadamente percebí uma narrativa de ataques injustos e infelizes a valores cristãos. Os valores são perenes ... a música - com sua analogia frustrada - passa , se esvai.
ResponderExcluirÓtima análise, quando fui ver a tradução da música, levei um susto.
ResponderExcluirAchei sua análise coerente e claro q indico!
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