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quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Que a Bíblia Não Diz - A Saga da "Estrela da Manhã" (parte 1)

Recentemente, li uma matéria tão incrível que acabei resolvendo postá-la aqui no blog. É o trecho de um livro chamado "O Que a Bíblia Não Diz", de um autor chamado Paulo de Aragão Lins.

O título encerra uma épica lista de artigos que vão desde curiosidades até polêmicas controversas no Cristianismo. Cheguei, inclusive, a encontrar uma resposta satisfatória a uma dúvida pessoal minha já compartilhada há muito no blog.


Por fim, decidi mostrar um trecho do livro que, acredito eu, seja a melhor interpretação para o problemático texto de Ezequiel 28 (que, mesmo em minha limitada visão, nunca me pareceu - o texto por si só - estar falando de Satanás... E descobri que não sou o único que pensa assim):



A BÍBLIA NÃO DIZ QUE SATANÁS FOI UM ANJO DE LUZ E DEPOIS CAIU

Por Paulo de Aragão Lins

"Existem no meio evangélico, ensinamentos que são transmitidos há muito, repetidos por gerações de mestres, recebidos por tradição, os quais jamais foram analisados com o cuidado necessário, à luz das Escrituras.



A tradição tem substituído o texto sagrado em muitas doutrinas. Os ensinadores, com medo de se expor, preferem repetir o que outros mais importantes falaram, dentro da esfera do “argumento de autoridade”.



E o que é argumento de autoridade? É o seguinte: se um homem é importante dentro da sua igreja ou se já fez alguns cursos de nível superior, tudo o que ele diz é considerado verdade por muitos, principalmente se tiver escrito um livro.

Costumo sempre fazer esta pergunta: “Você crê mais na Bíblia ou nos ensinamentos de sua denominação?”.

Muitos respondem, surpresos: “E, por acaso, minha denominação ensina algo que não é ensinado pela BÍBLIA?”. Bem, prezado leitor, apesar de isto parecer quase impossível, vou lhe dizer: todas as denominações que eu conheço ensinam muitas coisas que não se encontram na santa Palavra de Deus. Foram herdadas da igreja católica, que por sua vez herdou dos mitos e narrativas do paganismo.

Não foi por acaso que um dos mais notáveis homens de Deus que já li, Ben Adam, escreveu estas palavras:


“Quando digo que, hoje em dia, para a grande massa do público professadamente religioso, a Bíblia é um livro quase que totalmente desconhecido, estou simplesmente enunciando uma verdade. O estudo da Bíblia, como meio de se procurar conhecer a vontade de Deus sobre alguma particularidade, praticamente morreu; e a leitura devocional das Escrituras sagradas, até mesmo entre os crentes evangélicos, é uma exceção, quando deveria ser a regra”.

Quando apresentamos os textos bíblicos analisados, a surpresa é maior, pois descobrem que a tradição nas igrejas tem, em muitos casos, substituído a Palavra de Deus.




Vamos analisar uma crença que veio do paganismo, foi perpetuada na literatura e nas artes, porém não é ensinada pela Palavra de Deus. Refiro-me à pretensa queda de Satanás.
O ensino tradicional é que Satanás era um anjo bom que vivia no céu, tinha a categoria de arcanjo, era regente do coral celestial, mas um dia, movido de inveja, cheio de cobiça, cheio de vaidade, resolveu insurgir-se contra a autoridade divina, moveu uma rebelião contra Deus, seduziu um grande número de anjos e foi expulso do céu.

Nesta hora houve uma catástrofe tão grande que a terra que havia sido criada por Deus, de maneira tão bela, passou a ser “sem forma e vazia”.

Também ensinam que ele estava no Éden e era perfeito, até que nele se achou iniqüidade. Ora, se sua queda só se deu no Éden, como é que ensinam que a grande catástrofe que destruiu a forma da terra se deu lá no princípio, quando ele caiu?

E se ele caiu lá no princípio da criação, como é que no Éden ele ainda era perfeito?




Outra coisa: como Satanás pôde pecar sem ser tentado? Se alguém, por acaso, o tivesse tentado não teria sido Deus, porque Deus “não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tiago 1.13).
E se alguém mais o tentou, teria que ser um tentador independente de Deus e se houvesse um tentador independente de Deus, então ele sena diabo primeiro, o primeiro Satanás.

Não é mais lógico, mais coerente, mais honesto, acreditar no que diz a Bíblia, aceitando a soberania de Deus e submetendo-se à Sua vontade? Você, leitor, está disposto a acreditar mais na Bíblia, mesmo que o que ela disser, seja diferente do que ensinam as autoridades da sua Igreja?

Antes de continuar a ler, deixe-me logo explicar uma coisa muito importante: eu não sou mórmon (aliás, detesto os erros deles), nem sou testemunha de Jeová (também detesto os erros deles), nem tenho compromisso doutrinário com qualquer denominação.

Sou apenas um crente em Jesus Cristo, estudioso das Escrituras, amigo dos pastores e pregadores, mas considerado “herético” por muitos, porque só acredito no que a Bíblia diz.


O próprio Senhor Jesus Cristo afirmou coisa muito diferente do que se ensina hoje sobre Satanás, quando afirmou: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai: ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele...” (João 8.44).

Jesus colocou este arkê (princípio) como o limite. Satanás jamais se firmou na verdade. Nem uma hora, nem um minuto, ou um segundo, Satanás firmou-se na verdade.




Então ele é o diabo desde o princípio. Deus o fez com esta finalidade, para, opondo-se ao seu plano cósmico, eterno, dar opções para os seres criados fazerem uma escolha entre o bem e o mal.

O bem e o mal são criações de Deus no plano metafísico. Se, no plano epistemológico, pragmático, ou, simplificando, na realidade terrena, vemos a tremenda oposição entre o bem e o mal, no plano metafísico ambos convergem para o cumprimento do plano eterno de Deus.

Deus transcende o bem e o mal. Ele é supremo, superior a tal esfera. Não depende das nossas medidas ou julgamentos. Isaías afirma que Deus é o próprio criador do mal. Se ele não fosse o criador do mal, teria que haver um outro Deus que o fizesse, ou então Deus teria que ser aquela entidade dualística ensinada pelo Taoísmo, Hinduísmo e outras crenças: Deus = Bem/Mal.

Veja o que diz Isaías: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, faço todas estas cousas” (Isaías 45.7).

Alguns teólogos, com medo de admitirem algo tão grande e tremendo, dizem que este texto não se refere ao mal ontológico, mas ao mal pragmático, aos males que assolam a terra. Se assim fosse Deus teria dito o seguinte: “Crio os males”.

A primeira epístola de João corrobora e esclarece ainda mais o que Jesus afirmou. Leiamos: “Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio” (1 João 3.8).

Agora, chegou a hora de perguntarmos pela primeira vez: você crê mais na BÍBLIA ou nos ensinamentos da tradição? Para não perder sua posição privilegiada na igreja, você prefere ensinar a mentira ou, simplesmente, esconder a verdade? Prefere ficar calado e ser uma “Maria vai com as outras”, concordando com erro, porque isto não vai lhe “queimar”?

Existe algum exegeta mágico que seja capaz de distorcer estes dois textos, procurando alguma outra explicação para o princípio?

Se foi no início da criação, ou no início da vida dele, ou no início da vida do homem, ou seja lá qual tenha sido, o fato insofismável é que quando Satanás começou a existir, já começou a pecar, porque ele já foi feito com a natureza pecaminosa, para cumprir um propósito.

Tal propósito está inserido, embutido e oculto na economia divina. Não temos qualquer senha de acesso para tal propósito.

Você questionará o Criador por causa disto? Não é melhor aceitar o fato que Deus fez o diabo com a missão específica de assolar a terra, de tentar o homem, de acusá-lo, de cumprir a ira divina sobre as pessoas, famílias e nações?

Veja o que diz um texto proferido pelo profeta Isaías: “Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas no fogo, que produz a ferramenta para a sua obra; também criei O ASSOLADOR, PARA DESTRUIR” (Isaías 54.16).

Os únicos textos usados pelos que advogam que Satanás era bonzinho, são Ezequiel 28 e Isaías 14. Também se referem à citação que Jesus faz em relação a Satanás ter caído do Céu. Vamos analisar cada um deles.

Quando Jesus enviou os setenta para realizarem a obra inicial da evangelização, eles saíram entusiasmados e voltaram mais entusiasmados ainda quando viram o resultado do trabalho realizado.

Eis o que diz Lucas: “E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam” (Lucas 10.17).

Até aquele tempo jamais um demônio havia sido expulso. Era o início de algo completamente novo. Vemos, por exemplo, casos como o de Saul, em que um espírito mau da parte do Senhor vinha atormentá-lo e Davi, tocando a harpa o aliviava, mas não se fala ali de expulsão de demônios.

Ao ser iniciada a batalha espiritual na terra para destruir as obras do diabo, Satanás, o príncipe das potestades do ar, vendo que seu império estava se desmoronando, resolveu descer até ao nível da terra.

Jesus vendo o que acontecera, usou o pretérito imperfeito do verbo e afirmou: “Eu VIA Satanás, como raio, cair do céu” (Lucas 10.18). Não existe, nesta frase de Jesus, qualquer idéia que Satanás era bom e depois tornou-se mau.

Vamos analisar, agora, alguns detalhes importantes de Ezequiel 28, o texto é mais utilizado por exegetas impacientes para tentarem provar que Satanás um dia foi bom e depois tornou-se mau.
Abra sua BÍBLIA, leia com atenção umas duas vezes, no mínimo este texto, até o versículo 19 e depois acompanhe nossa análise honesta e espiritual do texto.

A profecia de Ezequiel é eclética, mística e hermética. A profecia é contra o rei de Tiro, mas, ao mesmo tempo, há expressões que claramente se referem a outro personagem. Quem seria este outro personagem? Você aprendeu que era Satanás; mas, será que era mesmo?

No início tal personagem é apresentado cheio de vaidade e orgulho espiritual, ao ponto de querer ser igual a Deus. No versículo 9 descobrimos que, no momento que ele se apresenta como um Deus, a Palavra diz que ele é homem, e não Deus.

Ora, se ele é homem, não pode ser Satanás porque Satanás é espírito. Se não é Satanás, nem é o rei de Tiro, é alguém muito importante no plano de Deus. Quem?

Na segunda parte do texto, que vai do versículo 11 ao 19, parece que tudo muda por completo. Não podemos mais pensar neste personagem em termos do rei de Tiro. É alguém tão especial que vamos citar todo o texto:

“Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor Jeová: Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus: toda a pedra preciosa era a tua cobertura, a sardônia, o topázio, o diamante, a turquesa, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro: a obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava em ti; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci: no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti”.

Muitas mentes criativas, férteis, conseguiram interpretar este texto como referente a Satanás.


Se o texto fala de Satanás, perguntamos: o que estava ele fazendo no Éden, junto com Adão? Se ele já era mau e estava ali para fazer o homem pecar, como passou um período sendo bom, no mesmo Éden?

Se ele era querubim protetor, ou cobridor, ou guarda, como significa sua função, ou melhor a de um querubim, pois querubim é um guarda, um guardião, ele estava ali guardando o Éden contra o que, ou contra quem?

Contra outro Satanás? Aquele que o fez pecar; aquele que o tentou?

Estava guardando o Éden contra si mesmo? Se não era Satanás o querubim/guarda, quem era o guarda do Éden? A BÍBLIA sempre responde a BÍBLIA, sempre. Leiamos Gênesis 2.15: “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar E O GUARDAR”.

Quem era, pois, o guarda/querubim do Éden? Adão, é claro!

Contra que ou contra quem Adão foi colocado para guardar o Éden? Contra Satanás!

Isto não aconteceu a contento, disto nós sabemos, o que acarretou toda a gama de problemas que vieram pela falta de cuidado de Adão.

E quem era o aferidor da medida? Adão, é claro. Por quê?

O que significa aferidor? “Instrumento de medição; conferido e harmonizado com o padrão; modelo; gabarito; régua; protótipo” etc.

Adão, como o primeiro homem, era o modelo para todos os demais. Como houve falha, Deus enviou outro aferidor, Jesus Cristo.


Jamais Satanás poderia ser aferidor de qualquer coisa boa dentro do plano da criação de Deus.


Nossos primeiros pais viviam nus e não sabiam, ou não viam isto, porque estavam vestidos de luz, vestidos do brilho das pedras afogueadas.

Em linguagem simbólica, não significa que estavam carregados de pedras, mas era uma luz tão bela que dificilmente poderia ser descrita por linguagem humana, o que fez o profeta descrever da maneira mais bela que ele podia.

Adão era perfeito, até que nele se achou iniqüidade."


Extraído de: 
LINS, Paulo de Aragão. O que a Bíblia NÃO DIZ O que a Bíblia NÃO DIZ... mas muitos pregadores e mestres dizem! Editora: Semeadores da Palavra, 2002. Pp 48-54. 
A edição em PDF do livro pode ser lida clicando aqui.

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