Continuação das Refutações às 21 razões católicas para rejeitar o princípio de interpretação bíblica protestante da Sola Scriptura.
Argumento católico: 3. A Bíblia
qualifica a Igreja coluna e fundamento da verdade
Refutação: Argumento
paradoxal ao extremo! Em primeiro lugar se a tradição da igreja é superior ou
está em pé de igualdade com a escritura bíblica, basear essa afirmação na
bíblia é, no mínimo, muito esquisito. Mas vamos deixar esse aspecto de lado,
embora seja suficiente para rejeitar essa argumentação.
O argumento
católico é que a igreja é a coluna e o fundamento da verdade, logo, a igreja, e
não a Bíblia, é que seria a regra de fé e prática do Cristão. Mas de qual
igreja estamos falando? Do templo, das pessoas, da instituição religiosa ou da
instituição sócio-política?
Reparem que Paulo
novamente deve ter perdido o juízo pois Jesus afirmou em João 14:6 que ELE,
JESUS, é o caminho, a verdade e a vida e NINGUÉM vai ao (Deus) Pai a não ser
por ele. A conclusão que resta é que ou Paulo contradisse Jesus ou estava
usando linguagem figurada. Lembrem-nos que o mesmo Paulo que disse em 1
Coríntios 2:16 que nós temos a mente de Cristo afirmou que "todos
pecaram" em Romanos 3:23. Qual das duas afirmações é a verdadeira? De
fato, paradoxalmente, as duas: todos PECAM mas Cristo nos aperfeiçoa pela
renovação da nossa mente, conforme Romanos 12:2. Sendo assim, não temos a mente
de Cristo literalmente, mas pela renovação do nosso entendimento ela se torna
mais parecida com a de Cristo.
Além do mais,
conforme o próprio argumento católico:
"(...) se em
algum lugar de sua história a Igreja ensinou o erro em matéria de fé e moral -
ainda que temporariamente - cessaria de ser esta coluna e fundamento da
verdade."
Ora, o que dizer
a repeito da pregação de vida após a morte católica, que boa parte das igrejas
protestantes herdaram, e que é uma doutrina anti-bíblica?
Compare o ensino
da igreja católica sobre a intercessão dos santos mortos com I Timóteo 6:15-16
que diz que APENAS DEUS é imortal (logo, a doutrina católica da alma humana
imortal seria invenção da igreja), Romanos 6:23 que diz que todo que pecar por
consequência do pecado correrá, Eclesiastes 9:5-6 e Salmos 146:4 que nega a
continuidade da vida após a morte física? Ora, por mais santos que fossem os
santos católicos pelo fato de estarem mortos não podem interceder por ninguém
já que não havia crença na continuidade da vida após a morte nem no judaísmo,
ancestral do cristianismo, nem na fé cristã original. Ademais, o apóstolo Paulo
disse que há apenas 1 intercessor entre Deus e o homem: Jesus Cristo homem
(1 Timóteo 2:5)! Seria Paulo um mentiroso ou foi um erro canonizá-lo na
Bíblia católica?
Argumento católico: 4. Cristo nos
fala para submetermo-nos à autoridade da Igreja
Refutação: O trecho usado é
um dos mais confusos entre as palavras de Jesus, na minha humilde opinião. Veja
bem, claro que "igreja", do grego "ekklesia" queria dizer
assembléia/comunidade. Lembre-mo-nos que a instituição igreja não existia
enquanto Jesus estava vivo para fazer as afirmações de Mateus 18:15-20:
"Ora, se teu
irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu
irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela
boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada. Se recusar
ouvi-los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera-o
como gentio e publicano. Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes na terra
será ligado no céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu.
Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer
coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois
onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio
deles."
Se a igreja
institucional não havia sido formada (apesar de usar um termo que o resto do
Novo Testamento traduz como sinônimo da instituição) Jesus devia estar falando
de qualquer coisa, menos de uma instituição religiosa.
Não seria mais lógico
supor que Jesus estivesse falando da convivência comunitária respeitosa e não
de autoridade espiritual de uma instituição haja visto que o contexto fala de
transgressão x perdão no princípio e a pergunta de Pedro na sequência também
retoma esse tema? Veja os versículos 21 E 22:
"Então
Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu
irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não
te digo que até sete; mas até setenta vezes sete."
Mateus 18:21-22
Não estaria Jesus
apenas afirmando o respeito de Deus ao livre-arbítrio do ofendido e do ofensas
em não conviverem juntos e ter seu litígio publicamente exposto para que se
esclarecesse a separação após uma reconciliação não desejada por uma das partes?
Por favor, me
corrijam se eu estiver dizendo coisas absurdas, mas acho que é esse o tema do
contexto e Jesus está, novamente (aliás, como fazia SEMPRE), usando uma figura
de linguagem.
Argumento católico: 5. A Escritura
afirma que é insuficiente como orientadora
A Bíblia mostra
em 2 Tm 3,17 que o homem de Deus é perfeito, qualificado para qualquer boa
obra. Como percebemos acima, este versículo prova somente que o homem de Deus é
plenamente suprido com as Escrituras; isto não é garantia de que ele
automaticamente saiba como interpretá-la da maneira correta.
Refutação: Erro
de tradução gerando erro doutrinário. Abra uma Bíblia na tradução Almeida
Corrigida Fiel e leia o mesmo texto começando pelo versículo 16:
"Toda
Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender,
para corrigir, para instruir em justiça. Para que o homem de Deus SEJA
perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra."
Logo, o que o
texto está dizendo é, na realidade, o OPOSTO do que o argumento católico tenta
afirmar. O argumento tenta inverter causa e efeito. Daí a necessidade de se ler
a Bíblia em várias traduções diferentes e compará-las.
Os trechos
posteriores do argumento, no entanto, são louváveis! Note que há real coerência:
"Suficiência material significaria que a Bíblia de certo modo contém todas as verdades que o cristão precisa saber; em outras palavras, os materiais estão todos presentes ou no mínimo implícitos. Suficiência formal, por outro lado, significaria que a Bíblia não somente contém todas as verdades que são necessárias, mas que ela também apresenta estas mesmas verdades e um sentido perfeitamente claro e de pronto entendimento. Em outras palavras, estas verdades estariam em uma forma prática tamanha que não haveria necessidade de uma Sagrada Tradição para clarificar e complementar o entendimento da Palavra de Deus com uma interpretação infalível.
Devido a Igreja Católica afirmar que a Bíblia não é suficiente por si mesma, naturalmente ensina que esta necessita de um intérprete. São duas as razões pelas quais a Igreja ensina tal coisa: primeiro, porque Cristo estabeleceu uma Igreja viva para ensinar com Sua autoridade. Ele simplesmente não deu uma Bíblia aos seus discípulos, completa e encadernada, e lhes disse para ir e fazer cópias para a multidão, para distribuir, e deixar que cada um interprete-a do seu jeito. Segundo, a própria Bíblia afirma que precisa de um intérprete.
Sobre a segunda assertiva, lemos em 2 Pd 3,16 que São Paulo escreveu passagens difíceis, cujo sentido pessoas ignorantes e sem formação deturpam, como também fazem para as demais Escrituras, para a própria condenação.
Neste único versículo podemos ver três pontos muito importantes sobre a Bíblia e sua interpretação:
a) A Bíblia contém passagens que não são facilmente compreendidas ou suficientemente claras, um fato que demonstra a necessidade de um orientador infalível e com autoridade suficiente para tornar as passagens claras e compreensíveis [8],
b) não é somente possível que algumas pessoas deturpem o significado da Escritura, mas isto, de fato, já estava sendo feito desde o começo da era da Igreja,
c) distorcer o significado da Escritura pode resultar na condenação de um indivíduo, realmente um destino desastroso. É óbvio destas considerações que Pedro não acredita que a Bíblia deva ser a única regra de fé. Mas há mais.
Em At 8,26-40 lemos o encontro do diácono Felipe com o eunuco etíope. Neste cenário, o Espírito Santo leva Felipe a se aproximar do etíope. Quando Felipe percebe que o etíope está lendo o profeta Isaías, faz uma importante pergunta: será que compreendes verdadeiramente o que está lendo? Mais importante é a resposta dada pelo eunuco: e como poderia eu compreender, respondeu ele, se não tenho guia?
Mesmo que este Felipe (conhecido como o Evangelista) não seja um dos apóstolos, ele fora comissionado pelos apóstolos (cf. At 6,6) e pregou o Evangelho com autoridade (cf. At 8,4-8). Conseqüentemente, sua pregação refletiria o legítimo ensino dos apóstolos. A questão aqui é que as declarações do etíope verificam o fato de que a Bíblia não é suficiente por si mesma como orientadora de doutrina cristã, e as pessoas que ouvem a Palavra precisam de uma autoridade que as oriente corretamente para que possam entender o que a Bíblia quer dizer. Se a Bíblia fosse de fato suficiente por si mesma, então o eunuco compreenderia claramente a passagem de Isaías.
Também há 2 Pd 1,20, que afirma: nenhuma profecia da Escritura é objeto de interpretação pessoal. Aqui vemos a própria Bíblia afirmar de forma inequívoca que suas profecias não são objeto pelos quais o indivíduo deva compreender pelos seus próprios meios. Também é de grande importância que este verso seja precedido por uma seção sobre o testemunho apostólico (vv.12-18) e seguido por uma seção sobre falsos mestres (2,1-10). Pedro está contrastando o ensino apostólico genuíno com os falsos profetas e falsos mestres, e faz a referência à interpretação pessoal como o pivô entre os dois. A implicação imediata e clara é que a interpretação pessoal é um caminho por onde o indivíduo perde-se do autêntico ensino dos apóstolos e passa a seguir falsos mestres."
Comentário do Proibido Pensar: Trechos como Atos 8;26-40,
2 Pedro 1:20 e 3:16 realmente demonstram a falseabilidade bíblica (e aqui uso o
termo falseabilidade no sentido científico do termo). Logo, realmente
precisamos de quem nós ajude a entender a Bíblia. Porém, enquanto a igreja
católica fala em tradição eu prefiro ficar com a arqueologia e a semântica, pois já
demonstramos que o catolicismo ensinou coisas pela tradição que eram contrárias
aos fundamentos do Cristianismo, como foi provado no item 2 da série de
refutações (a saber, na questão da doutrina da virgindade perpétua de Maria).
...E eu ainda não
compreendo em que a Igreja Católica embasa sua doutrina de "infalibilidade" de sua interpretação bíblica como a única oficialmente válida. Se algum católico
puder me esclarecer qual a origem dessa crença, eu agradeço.
Creio que ou a Igreja Católica enquanto instituição ou o autor(es) do texto não estão suficientemente à par do que seja realmente a sola scriptura: não se trata de um princípio de autoridade espiritual e sim de um método de estudo bíblico que implica na não aceitação incondicional do ensino de nenhum mestre supostamente infalível como intérprete. Assim como Descartes desenvolveu seu método de análise racional para alcançar a certeza a partir da dúvida, os protestantes conceberam uma forma de estudo bíblica que abandonasse qualquer interpretação forçada baseada no PRINCÍPIO DA AUTORIDADE de mestres supostamente infalíveis por conta, inclusive, de práticas religiosas sem o devido respaldo do único documento disponível para avaliar questões forenses sobra a origem da fé, que eram e são as escrituras.
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
Romanos 12:1
Logo, a interpretação via sola scriptura não quer dizer interpretação "pessoal" de cada protestante ao texto bíblico, pelo contrário, ela significa levar a juízo um conhecimento único da palavra de Deus mediante exposição da evidência forense escrita e avaliar o ensino dos mestres a partir dessa! A Igreja Católica parece ignorar completamente Atos capítulo 17, versículo 11, de onde se extrai o princípio básico de interpretação da sola scriptura: O ESTUDO BÍBLICO ACESSÍVEL A TODOS. Nesse versículo o apóstolo Paulo diz:
"Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim".
Além de que, não se trata apenas de sola scriptura, há outras 4 solas como princípios complementares que abordaremos posteriormente:
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