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terça-feira, 27 de agosto de 2013

PARADOXOS RELIGIOSOS: ADVENTISMO (parte 3)

O PARADOXO DO SÁBADO





Salve pessoal!

Hoje falaremos de mais um dos aspectos doutrinários da Igreja Adventista do 7.º Dia que SÃO PARADOXOS BÍBLICOS: A guarda do sábado. Vou tentar demonstrar nesse artigo por que, a meu ver, a questão da guarda ou não do sábado se trata, de fato, de um paradoxo.

Quem acompanha a programação da TV Novo Tempo (que pertence à Igreja Adventista do 7.º Dia)sabe que há uma qualidade excepcional na programação, mas isso não quer dizer perfeição doutrinária. 

O distintivo principal e inicial dessa comunidade cristã é a crença que os nomeia, a crença na validade da observância do 4.º mandamento da Torah a respeito da guarda do 7.º dia como dia de descanso (repare que não se chama igreja adventista de Jesus ou de Deus, nem dos 10 mandamentos, o nome é Igreja Adventista do 7.º Dia, ou seja, é "igreja adventista do sábado").

Em primeiro lugar vamos analisar a lista de argumentos bíblicos à favor da guarda do sábado que os adventistas em geral usam para defender essa doutrina distintiva (o argumento não é meu):

  • Deus abençoou e santificou o 7.º dia em que Descansou para nos dar o exemplo de que, uma vez por semana devemos descansar: Gênesis 2:1-3;
  • O sábado já era guardado cronologicamente desde antes da lei mosaica: Êxodo 16:23;
  • Deus separou o sábado como dia de guarda novamente na Torah estando esta ordenança como o 4.º dos 10 mandamentos: Êxodo 20:8-11;
  • O Sábado foi instituído por causa do homem, não apenas para o judeu: Marcos 2:27; *Jesus guardava o sábado: Lucas 4:16-31;
  • Maria, mãe de Jesus, guardava o sábado: Lucas 23:56;
  • O apóstolo Paulo guardava o sábado: Atos 17:2;
  • O sábado será guardado na Nova Terra (Apocalipse 21): Isaías 66:22-23.

O argumento adventista é que a Lei de Deus é eterna, o sábado era parte da lei, a parte da lei que Cristo teria abolido era apenas a cerimonial  que difere da "lei moral" de Deus cuja sua expressão maior seria o decálogo (10 mandamentos), ou seja princípios imutáveis sobre as quais a "lei cerimonial" ou "sacrificial", bem como todo o resto da Torah, estava baseada, as de natureza diferente da mesma.

Com o advento da morte vicária de Cristo os sacrifícios, que eram da "lei cerimonial/sacrificial" sendo, uma representação do sacrifício de Cristo que um dia sucederia (algo prometido e ilustrado pelo próprio Deus em Gênesis 3 e praticado por Abel em reverência e esperança nessa promessa em Gênesis 4) cessam pelo cumprimento da promessa da morte do Messias que estenderia suas virtudes e sua ressurreição para a vida eterna a todos aqueles que creem, confessarem e lhe obedecerem ao mesmo Cristo que, como os cristãos explicam, "salvou" a humanidade morrendo em lugar dos pecadores.

Dá pra articular o posicionamento adventista com a seguinte citação que encontrei no br.answers.yahoo.com:

Mateus 5:17-18
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir(obedecer).
Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra..
Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele , porém que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.
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Ele veio obedecer a Lei (cumprir todos os mandamentos) foi o que Adão não fez!!!
Jesus está dizendo:- aquele que observar os mandamentos da Lei será considerado grande no reino dos céus.(mínimo nos céus é fóra do céus)
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O Apóstolo Paulo.
Romanos 3:31
Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma ! Antes, confirmamos a lei.
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Romanos 7:7
Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera:
Não cobiçaras (10º mandamento)
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Romanos 7:12
Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom.
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Hebreus 8:10
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor : na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
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Veja que o apóstolo Paulo está repetindo o texto de Jeremias na antigo testamento, o que prova de maneira contundente, não ter havido nem mudança, nem abolição, porque a Bíblia não pode entrar em contradição. Veja o texto de Jeremias.
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Jeremias 31:33
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel , depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.(depois daqueles dias, podemos entender após a vinda de Jesus, mas tb poderá ser a nossa aceitação a Jesus)
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A lei abolida foi a lei cerimonial, a matança dos cordeirinhos, que apontava para Cristo, logo, quando Cristo veio, não precisaria mais essa lei. 


Voltando agora à questão da guarda do sábado: 

O contra-argumento para entender o sábado como um paradoxo bíblico não é meu, eu extraí e adaptei para dentro dessa postagem a partir do original de outro tópico do br.answers.yahoo.com

Alguém pergunta: - Por favor me mostre na Bíblia o versículo que diz pra não guardar o sábado? 

Resposta: Não Obrigatório Para os Cristãos. Jesus, que era judeu sob a Lei, observava o sábado assim como a Palavra de Deus (não dos fariseus) mandava. Sabia que era lícito fazer coisas excelentes no sábado. (Mt 12:12) Todavia, as inspiradas escrituras cristãs declaram que “Cristo é o fim da Lei” (Ro 10:4), o que resulta em os cristãos estarem “exonerados da Lei” (Ro 7:6). Nem Jesus nem seus discípulos faziam uma distinção entre as leis chamadas morais e cerimoniais. Citavam outras partes da Lei, bem como os Dez Mandamentos, e consideravam toda a Lei de igual obrigação para os que estavam sob ela. (Mt 5:21-48; 22:37-40; Ro 13:8-10; Tg 2:10, 11). As Escrituras declaram especificamente que o sacrifício de Cristo “aboliu... a Lei de mandamentos, consistindo em decretos”, e que Deus “apagou o documento manuscrito que era contra nós, que consistia em decretos... e Ele o tirou do caminho por pregá-lo na estaca de tortura”. O que foi ‘abolido’, ‘apagado’ e ‘tirado do caminho’ era a inteira Lei mosaica (Ef 2:13-15; Col 2:13, 14). Por conseguinte, o inteiro sistema de sábados, quer dias, quer anos, junto com o restante da Lei, foi terminado pelo sacrifício de Cristo Jesus. Isto explica por que os cristãos podem considerar “um dia como todos os outros”, quer seja um sábado, quer qualquer outro dia, sem temerem ser julgados por outrem (Ro. 14:4-6; Col 2:16). Paulo fez a seguinte declaração a respeito daqueles que escrupulosamente observavam “dias, e meses, e épocas, e anos”: “Temo por vós, que de algum modo eu tenha labutado em vão com respeito a vós.” — Gál. 4:10, 11. 

Depois da morte de Jesus, seus apóstolos nunca ordenaram a guarda do sábado. O sábado não foi incluído como requisito cristão em Atos 15:28, 29, nem mais tarde. Tampouco instituíram eles um novo sábado, ou “dia do Senhor”. Embora Jesus fosse ressuscitado no dia agora chamado domingo, em parte alguma indica a Bíblia que este dia da sua ressurreição devesse ser comemorado como um “novo” sábado, ou de outro modo. Alguns têm recorrido a 1 Coríntios 16:2 e Atos 20:7 como base para a observância do domingo como um sábado. No entanto, o primeiro texto apenas indica que Paulo instruiu os cristãos no sentido de que, no primeiro dia da semana, pusessem de lado certa quantia, nos seus lares, para os irmãos necessitados em Jerusalém. O dinheiro não devia ser entregue no seu lugar de reunião, mas devia ser guardado até a chegada de Paulo. Quanto ao último texto, era apenas lógico que Paulo se reunisse com os irmãos em Trôade no primeiro dia da semana, visto que partia logo no dia seguinte. 

À base do precedente, torna-se evidente que a guarda literal de dias e anos sabáticos não era parte do cristianismo do primeiro século. Foi só em 321 EC que Constantino decretou que o domingo (em latim: dies Solis [dia do sol], antigo título associado com a astrologia e a adoração do sol, não Sabattum [sábado] ou dies Domini [dia do Senhor]) fosse o dia de descanso de todos, exceto os lavradores. 

***

Nota: A argumentação de que o domingo é dia de adoração ao sol, apesar de realmente vir de uma religião antiga de adoradores do sol chamada mitraísmo, da forma como é apresentada pelo adventistas ("Domingo em inglês é Sunday, ou seja 'dia do sol'") é argumento falacioso porque em todos os idiomas, com seus diferentes credos religiosos, havia um dia consagrado às principais divindades¹.
Outra coisa importante de notar é que há usos da defesa sabática fora de contexto na crença adventista. Exs.: Em dois trechos de Mateus quando Jesus diz que passarão os céus e a Terra mas nenhuma palavra da lei (Mateus 5) nem nenhuma palavra dele próprio (Mateus 34) passará, o contexto costuma ser omitido pelos adventistas.

Mateus, capítulo 5:

17 Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.
18 Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.

Ou seja, Jesus estava falando de profecias a se cumprir. No restante do contexto de Mateus 5, após esses versículos, Jesus deixa claro que a obediência ao mandamento sem mudança interior sempre foi nula (não só aqui como em outras passagens, como a do bom samaritano em que um  levita e um sacerdote não socorreram um moribundo para não se tornarem impuros segundo a lei de Levítico, ou seja, obedeceram o mandamento e PECARAM por não prestar socorro nem demonstrar amor ao semelhante). 

Mateus, capítulo 34:
34 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.
35 O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.
36 Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai.
 37 E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem.

Já notaram que muito da pedagogia de Jesus era redirecionar o mandamento para seu cerne (Mateus 5:21-28)? É o centro do mandamento em si é que é moral, não o mandamento propriamente dito, do contrário Jesus não teria resumido a essência da lei mosaica (e, por conseguinte, do decálogo) em Mateus 22:

35 Um deles, perito na lei, o pôs à prova com esta pergunta:
36 "Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?"
37 Respondeu Jesus: " 'Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento'.
38 Este é o primeiro e maior mandamento.
39 E o segundo é semelhante a ele: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'.
40 Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas".

Notem que o versículo 40 atesta que esses dois mandamentos DIFEREM da lei e a embasam: esta é a lei moral e não o decálogo. Como se não bastasse Jesus assim o disse mais de uma vez:

"Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." João 13:34-35

Eis o paradoxo: Não precisamos guardar o sábado, mas não há nada contra observá-lo pois...

A. Quem guarda o sábado não está desagradando ao Deus cristão porque está seguindo o princípio de descanso semanal e separando seu tempo para adoração e serviço diretos a Deus e isso nunca poderia ser condenável (leia Galátas 5:22-23). 

B. Quem guarda outro dia diferente do sábado também não está desagradando ao Deus cristão porque está seguindo o princípio de descanso semanal e separando um tempo para adoração a Deus. 

C. O mesmo princípio que diz para "darmos a Deus o que é de Deus" em matéria de tempo (shabbat) é o mesmo que há em não confiarmos no dinheiro e dizimarmos como um exercício de confiança e desprendimento, prioridades, e de "Amar a Deus acima de todas as coisas". Não precisamos fazer nenhum dos dois, nem dizimar, nem guardar o sábado... mas se obedecermos ao princípio por trás da ordem, no sábado ou não, no dízimo à instituição religiosa (séria) ou nas doações aos pobres, estamos em obediência, mesmo divergindo em doutrinas.

 O que separa o cristão dos descrentes deve ser o amor, não a guarda de dias².
  

Referências:


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