2.1 Falácias Formais
1. Falácia da afirmação do
conseqüente: As premissas podem ser
verdadeiras, mas a conclusão é falsa por ser abusivamente inferida,
ignorando-se as outras alternativas. Ex.:
Se
as estradas têm gelo, o correio está atrasado.
O
correio está atrasado.
Logo,
as estradas têm gelo.
2. Falácia da negação do antecedente. Ex.:
Se
as estradas têm gelo, o correio está atrasado.
As
estradas não tem gelo.
Logo,
o correio não está atrasado.
3. Falácia de Conversão: Não respeita as leis da oposição (vide
quadrado de oposições no capítulo a seguir). Ex.:
O
mendigo pede.
Logo,
quem pede é mendigo.
4. Falácia de Oposição: Não respeita as leis da oposição (vide
quadrado de oposições no capítulo a seguir). Ex.:
É
falso que todo o homem é sábio.
Nenhum
homem é sábio.
2.2 Falácias Informais
Falácias informais são falácias cujas
premissas:
a) Não são relevantes para a conclusão;
b) Não fornecem dados suficientes para
garantir a conclusão;
c) Estão formuladas com linguagem
ambígua.
A capacidade persuasiva destes argumentos
reside frequentemente no seu impacto psicológico sobre o auditório. Seguem seus
tipos:
5. Apelo à Piedade (Argumentum ad
Misericordiam): Faz-se apelo
à misericórdia do auditório de forma a que a conclusão seja aceita. Exemplos:
a) Sr. Juiz não me prenda porque, se o
fizer, meus filhos ficarão desamparados! Não posso ser culpado!
b) Não torne o seu filho infeliz, compre
para ele um celular top de linha!
6. Apelo à Ignorância (Argumentum ad
Ignorantiam): Premissa
baseada na insuficiência de
evidências para sustentar ou negar uma dada conclusão. Exemplos:
a) Ninguém provou que Deus existe. Logo,
Deus não existe.
b) Ninguém provou que Deus não existe.
Logo, Deus existe.
7. Apelo à Força (Argumentum ad
Baculum): Consiste em fazer pressão psicológica
sobre o auditório. Os argumentos são substituídos por ameaças. Exemplos:
a) As minhas ideias são verdadeiras, quem
não as seguir será castigado!
b) Ou te calas ou não de dou dinheiro
para ir ao cinema!
c) A força faz a lei.
8. Apelo à Autoridade (Argumentum ad Verecundiam): Quando tentam te convencer usando a
autoridade e prestígio de alguém para sustentar uma dada conclusão.
Ex.: Einstein, o maior gênio de todos o
tempos, gostava batatas fritas. Logo,
batatas fritas são o melhor alimento do mundo.
9. Ataque Pessoal (Argumentum ad
hominem): Coloca-se em causa
a credibilidade do oponente, através de ataques pessoais, de forma a
desvalorizar a importância de seus argumentos.
Ex.: Esta mulher afirma que foi roubada!
Mas que confiança pode merecer alguém que deixou o marido?
10. Apelo ao Povo (Argumentum ad
populum): Apela-se à emoção
ou preconceitos das pessoas, não à sua razão. Exemplos:
a) Querem uma escola melhor? Querem um
melhor ensino? Votem no meu candidato.
b) Claro que esse cara é trombadinha,
mora na favela!
11. Argumento do Terror (Argumentum ad
terrorem): Evocam-se as consequências negativas que podem resultar da não
admissão de determinada tese ou ideia.
Ex.:
Ou nós ou o caos! A escolha é vossa.
12. Falácia da Bola de Neve
(Argumentum ad consequentian): Exagera-se nas consequências (reais ou não)
de um ocorrido.
Ex:. Se seu namorado brigou com você hoje
é porque não te ama, está te traindo e quer te largar.
13. Falácia de ignorância da causa: A conclusão é extraída de uma
sucessão de acontecimentos. Um fato circunstancial é tomado como causa
principal. Exemplos:
a) Depois
do cometa houve uma epidemia; logo, os cometas causam epidemias.
b) O dinheiro desapareceu do cofre depois
do João ter saído da loja. Logo...
c) O trovão ocorreu depois do relâmpago.
Logo, o relâmpago é a causa do trovão.
14. Falácia do Ônus da Prova. Exemplo:
Alguém diz: -Deus existe.
Um ateu replica: -Não acredito nisso.
A pessoa responde: -Então prove que Deus
não existe!
Obs.: O mesmo raciocínio é também usado
pelos ateus, mas ao contrário.
15. Falso Dilema: Apenas são apresentadas poucas
alternativas, sendo omitidas as possibilidades restantes.
Ex.: O Joaquim é genial ou idiota. Como
não se revelou genial, é pois idiota.
16. Perguntas capciosas: A pergunta funciona como uma armadilha
para quem responde. Qualquer resposta do tipo sim ou não, prejudica o sujeito.
Exemplos:
a) Já
parou de roubar na escola?
b) Vocês ganharam fazendo batota ou
subornando o árbitro?
c) Continuas tão egoísta como eras?
17. Múltiplas perguntas: Consiste em confundir o adversário
com várias perguntas de modo a que não seja possível uma única resposta, ou
levando-o a contradizer-se. Qualquer debate político, religioso ou sexual na TV
serve como exemplo disso.
18. Petição de Princípio (Petitio
Principii): Considera-se
como provado algo que se pretende provar partindo de uma premissa que é a
própria conclusão. Exemplos:
a) Toda a gente sabe que os pastores são
corruptos. Por isso não faz sentido tentar provar o contrário.
b) O Alcorão é indiscutível porque é a
palavra de deus.
18.1. Raciocínio Circular
a) Por que o benzodiazepínico faz dormir?
Porque é sonífero!
b) O que é a História? Uma ciência que
estuda fatos históricos.
19. Ignorância da Questão: A questão em discussão é ignorada,
concentrando-se em detalhes irrelevantes.
Exemplo: Ao longo dos tempos têm sido
cometidas inúmeras injustiças. Muitos inocentes têm sido condenados. E este réu
é um rapaz simpático, trabalhador e estimado por todos.
20. Falácia do Espantalho:
Consiste em atribuir a outra pessoa uma opinião que ela não tem (ou deturpar o
que ela disse) de modo que seja mal entendido pelos outros. Ex.: Você é
cristão, portanto é homofóbico.
21. Enumeração Incompleta:
Atribui-se ao todo aquilo que só está provado em alguns casos particulares.
Exemplos:
a) Este aquela laranja são amargas. Logo,
todas as laranjas são amargas.
b) Aqueles homens ali não prestam. Logo,
nenhum homem presta.
22. Falsa Analogia: Tirar
conclusões de um caso para outro semelhante, sem ter em conta as suas
diferenças. Ex.: As aves voam. Os
morcegos voam. Logo, os morcegos são aves.
23. Falácia de premissas falsas: Premissas
ambíguas levam a confusões,
neste caso entre gênero e espécie. Exemplo: Os animais são irracionais; o ser
humano é um animal; logo, o ser humano é irracional.
24. Falácia do Não Consequente (Non
Sequitur): A conclusão não é
justificada pelas premissas. Exemplos:
a) Demorei bastante lendo o assunto para
a prova; logo devia ter obtido uma boa nota.
b) Fulano trabalhou com Einstein, logo
fulano é um cientista.
25. Falácia do acidente: Confunde-se o essencial com o
acidental e vice-versa. Exemplo: Estudar
na véspera do teste não dá resultado. Portanto, todo o estudo é inútil.
26. Falácia da definição.
Exemplo: "Aborto não é assassinato
porque o feto não tem identidade civil".
Esta definição prepara o interlocutor
(quem ouve) para admitir que o aborto não é um meio de matar na medida que
define como humano apenas alguém que tenha documento de identidade civil
(Certidão de nascimento, RG, CPF, NIS, NIT, etc).
27. Falácias verbais: Estas e outras falácias do mesmo tipo são
resultantes do uso ambíguo das palavras. Exemplos:
a) É estúpido perder tempo com palavras.
A guerra é uma palavra. Logo, é estúpido perder tempo quaisquer guerra.
b) O touro muge. Touro é o nome de uma
constelação. Uma constelação muge.
c) Os pés têm unhas. A cadeira tem pés.
Logo, A cadeira tem unhas.
3. Como evitar as confusões originadas
pelas falácias?
- Prestar maior atenção à linguagem evitando utilizar termos
ambíguos (de duplo sentido) e esclarecer o sentido exato dos conceitos
usados numa discussão.
- Prestar atenção à possível falsidade ou indução ao erro nas premissas.
- Respeitar as regras de inferência lógica.
Referências:
³O tópico sobre paradoxos é da autoria de
Jean de Oliveira, psicólogo, CRP-03/9178.
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