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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O Mito da Reencarnação ☑

Antes de mais nada, convém lembrar aos leitores desavisados que o Proibido Pensar é um blog cristão destinado principalmente à apologética e análise do Cristianismo do ponto de vista lógico (teodicéia). As opiniões aqui expressas tomam por base o Cristianismo e a Bíblia apenas.
Dito isso, vamos à matéria.



Por que os cristãos não crêem em reencarnação?

Reencarnação é a crença pela qual o espírito tornar a encarnar num outro corpo (que não o seu original). É uma crença muito popular, inclusive com ares de intelectual no meio universitário, tendo especial destaque uma vertente chamada kardecismo (baseada nos ensinos de Allan Kardec. Mas existem bases lógicas para tal alegação?

Ao contrário da ressurreição, que é a volta do "espírito" (e espírito no Cristianismo é um conceito vago, podendo significar, dependendo do contexto, desde a pessoa de Deus como em Efésios 4:30, Marcos 1:12 e João 4:24 na "parte a", até "motivação" na "parte b" do mesmo versículo, ou simplesmente "bateria/energia" como em Gênesis 2:7) ao mesmo corpo, sendo a ressurreição de Cristo a evidência principal para os que crêem. Já a reencarnação significa o retorno do espírito a um novo corpo, sucessivamente, rumo a uma evolução "moral".

Biblicamente falando a reencarnação é negada por Jesus (a quem seguimos) na parábola do rico e de Lázaro (Lucas 16.19-31).

Há outras referências, como a de Paulo em Hebreus 9.27 e Pedro em 1 Pedro 3:18, mas achei por bem de citar ao próprio Cristo para que não restem dúvidas nem acusem outras personagens menores do Antigo e Novo Testamento. Afinal, cremos na bíblia em princípio por causa de Cristo. Sabendo que nas religiões reencarnacionistas não há pecado ou julgamento divino, segue-se que Jesus não teria que morrer no lugar de ninguém para saciar a sede de vingança¹ de Deus Pai.

Cristianismo e religiões reencarnacionistas são mutuamente excludentes: O Cristianismo vê a Deus como Criador  (cf. Gênesis 1 e 2), Sustentador da Criação (Atos 17:28), doador da vida e do bem (Tiago 1:17), logo, fora dele não existe vida (Eclesiastes 12:7), restando a quem o rejeita a "perdição eterna", ou seja "morte eterna", ou seja, aniquilação; por isso prega que somos salvos da chamada "segunda morte" ou "morte eterna" através da graça de Deus mediante o sacrifício de Cristo por meio da ressurreição do corpo, ainda por acontecer (1 Tessalonicenses 4:16-18), enquanto as crenças reencarnacionistas alegam que, pela reencarnação, se evolui moralmente, pelo próprio esforço, em direção a um grau superior de perfeição, sem nenhum tipo de julgamento de Deus para o pecado, logo sem necessidade de expiação, perdão ou substituição do pecador (sentenciado à morte) pelo sacrifício do Filho de Deus (logo, para o espírita Jesus não é nem foi o Filho de Deus). 

Então, o que a lógica diz sobre esse assunto?

É provável que a observação do ciclo de cadeia alimentar e dos ecossistemas tenha dado origem a um conceito na filosofia oriental chamado monismo, que se expressa na máxima "um é tudo, tudo é um". Mas peça pra algum colega budista te explicar melhor e vai ver que o lema foi mal pensado. O que eles realmente querem dizer é que "o um está no todo e o todo se compõe pela soma dos 'uns' ".

A ideia de que a vida obedece a um ciclo, como na cadeia alimentar e nos ecossistemas, levaram os antigos a concluir apressadamente que o "todo" e o "um" se constituem da mesma essência em transformação (ou melhor, transmigração). Em se tratando da matéria podemos admitir que estejam certos quando admitimos que há uma unidade material comum a todas as coisas materiais, que alguns se apressaram a chamar de "átomo", outros de "energia" ou "quantum", mas que admitimos ser a informação (algum tipo de bit/energia que seria como uma programação de regras segundo as quais a matéria se organiza e se comporta e que comanda as leis naturais a nível micro e macro).

O "todo" de que as religiões reencarnacionistas falam não passa de uma abstração que agrupa as coisas segundo um critério mental. Pela experiência sabemos que o que existe de fato é uma interdependência das formas de vida de um ecossistema entre si e entre elementos inanimados que nos permitem um ambiente no qual a vida se espalhe.

O que isso tem a ver com o assunto? Ora, as principais religiões com crenças reencarnacionistas são o hinduísmo, o budismo e o espiritismo/kardecismo... e as 3 tem suas bases no monismo! Portanto:


A refutação lógica da reencarnação se resume a refutar o monismo... E temos bons argumentos contra o monismo presente nas crenças reencarnacionistas:



1 - O ciclo reencarnacionista, que é uma alusão ao ecossistema como sistema fechado, dispensa a existência de um Deus pessoal, Criador e que intervém na história humana, pois o fluxo vital dos seres vivos seria auto-mantido e o universo teria de ser eterno caso a reencarnação fosse real. Em outras palavras, se a hipótese reencarnacionista fosse realidade, o espírito deveria ser necessariamente material e seria passível de demonstração científica ou medição de alguma espécie, as entidades espirituais seriam detectáveis por instrumentos, como no filme Caça-Fantasmas. A ideia de reencarnação surgiu a partir de uma interpretação de cosmos compatível com a da teoria do universo estacionário (universo eterno), que sabemos, pela experiência, ser falsa, já que o universo teve um começo e também terá um final pois perde energia gradualmente pela entropia e, um dia, se esgotará por completo.

2 - Temos também o paradoxo dos espíritos. Se existe reencarnação então como se explica, por exemplo, que a raça humana, hoje composta por quase 7 bilhões de indivíduos, seja tão grande se no início do século XIX, por exemplo. era composta de apenas um bilhão? Temos um lapso de quantidade aqui! De onde vieram os espíritos dos aproximados 6 bilhões de excedentes? As explicações mais comuns dadas para o paradoxo dos espíritos são:

a) A pessoa poderia reencarnar como outra forma de vida (animal ou vegetal) - Mas essa ideia é absurda pela natureza do espírito humano ser racional. Onde teria ido parar sua mente individual, composta de criatividade, linguagem, raciocínio abstrato, memória, vontade, etc enquanto reencarnado, por exemplo, numa mosca?


*Uma variante dessa resposta pode ser usada também para a reencarnação como outro ser humano, já que as características da individualidade da mente parecem se esvair no processo de reencarnação. Se assim é, o espírito que está no corpo, ainda que fosse composto de espíritos de seres ancestrais, seria outro espírito individual.

b) Deus poderia estar criando continuamente espíritos pessoais - Em primeiro lugar, segundo a lógica, Deus não precisaria existir num universo onde a reencarnação fosse real (de sistema fechado e universo eterno); logo, interpretando o conceito de reencarnação como verdadeiro, Deus poderia não existir, o que já vimos em postagens anteriores ser uma afirmação absurda. (vide os tópicos da série "Ateísmo Não Faz Sentido")

c) Os espíritos poderiam ser inumeráveis e estar desde sempre procurando corpos em que encarnar ou estar sempre "disponíveis" para encarnar em corpos - Por si só esta tentativa de explicação já é uma dificuldade pois, nesse caso, não parece haver necessidade alguma de reencarnação. Por que um espírito perfeito teria de se encarnar num corpo material para sofrer dezenas de vidas para voltar a ser um "espírito evoluído"? Ou isso, ou termos de admitir que não há espíritos inicialmente, mas os seres vivos evoluídos a partir da matéria viva do universo devam ir gradativamente se tornando em formas evoluídas ou "espíritos" numa fusão entre o darwinismo e o kardecismo. De fato, me parece altamente provável que Darwin tenha influenciado Kardec, já que eram contemporâneos. Repare a diferença entre a reencarnação hindu e a kardecista: a versão hindu, muito mais antiga que Kardec, não visa a evolução existencial ou moral, mas o Moksha, ou seja, a inexistência, tornar-se um com o universo impessoal, DEIXAR DE EXISTIR ENQUANTO SER QUE PENSA, SENTE E DESEJA.

Além desses dois argumento há ainda a EVIDÊNCIA PSICOLÓGICA:

Não há conhecimento que não seja fruto da experiência: a maioria esmagadora dos fenômenos ditos mediúnicos pode ser explicado pela Psicologia como processos alucinatórios como paralisia do sono ou alucinações de EQM.²


Aliás que seria o espírito? O conceito em si é vago. Geralmente a ideia de espírito se exprime na crença numa entidade pessoal, consciente e imortal humana. Vamos admitir então que:

a) O espírito seja um software que carrega a consciência humana. Se a maioria dos fenômenos espiritualistas de quase-morte tem explicação em processo alucinatórios não devemos crer que o "espírito humano" seja imortal, portanto não deve reencarnar. Da mesma forma, as visões dos mortos podem ser sonhos ou alucinações, logo, espíritos desencarnados não vagam por aí, mas eu posso imaginá-los, entretanto, o fato de eu imaginar algo não o torna rea: a visão ou alucinação é, na melhor das hipótese, um modo de meu cérebro representar aquela pessoa numa situação qualquer. 


Mas se mudarmos o foco? 

b) Se encararmos, por exemplo, a ideia de espírito como "bateria", ele não abriga uma consciência, ele apenas é uma forma de energia que nos faz funcionar. Logo, ainda que essa energia passe pra outra pessoa ou forma de vida ela não carrega nada de pessoal seu antigo possuidor, o que invalida tanto o carma quanto a reencarnação. 

Em ambos os casos a crença espírita teria de ser descartada.


E quanto a ideia de carma que baseia o motivo das reencarnações?

O espiritismo diz que o sofrimento nesta vida resulta de algum mal feito na vida anterior. Se a reencarnação objetiva corrigir moralmente esses erros e ainda há mal no mundo então:

a) A reencarnação não pode resolver o problema do mau, logo, sua razão de ser não poderia ser moral, como ensinam o espiritismo e o budismo;

b) Deve ter havido uma regressão infinita de vidas anteriores porque a sociedade não está tão bem quanto se esperaria, porém se o passado é infinito o presente nunca chegaria, então deve ter havido uma primeira encarnação;

c) A primeira encarnação teria que ser boa, então o mal não foi causado nem pode ser sanado por múltiplas encarnações (e aqui criamos um erro de raciocínio cíclico de "a" até "c").

A ideia de justiça nas crenças que admitem reencarnação também é fraca. que justiça há em se culpar alguém por maus atos cometidos numa vida anterior dos quais a pessoa nem mesmo se lembra?

Era de se esperar que crenças mais antigas que o Cristianismo também tivessem uma teologia ou teodicéia racional que dessem definições mais precisas para seus conceitos e que não apresentasse erros lógicos desse tipo não acham?


Referências:
¹ - O emprego do termo "Vingança" no lugar de Justiça foi intencional, baseado em Romanos 12:19.

3 comentários:

  1. Bom artigo! Mas como você ainda pode crer em Deus ao mesmo tempo em que cita a lei da entropia? Que deus é esse que criaria um universo para chegar ao fim? Qual a pretensão dele? Se divertir como uma criança mimada matando formigas com uma lente de aumento sob o sol?

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    1. Isso é problema de Deus, não meu. O autor escreve a história como quiser, seguindo seu próprio objetivo; é ele quem deve responder a essa pergunta.
      Se a pretensão dele é se divertir como uma criança mimada matando formigas com uma lente de aumento sob o sol, não sei dizer. Talvez sim, talvez não.
      Mas o problema da existência de Deus é a causa das coisas, seu princípio. A entropia só nos mostra que as coisas se desgastam e morrem com o tempo, nos mostrando o fim. O problema de Deus é o começo: Por que existe algo ao invés do nada?
      Seria impossível haver passagem de tempo caso o passado existisse infinitamente. E, havendo passado infinito, nada teria começo nem causa, portanto o dia de hoje nunca chegaria.
      Deus é o princípio do qual as coisas vêm à existência, daí a Bíblia começar com "NO PRINCÍPIO CRIOU DEUS..."

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  2. Excelente! E o que ou quem reencarnaria? Se reencarnamos, deveríamos lembrar das vidas passadas naturalmente. Se não lembramos e a reencarnação de fato existe, o que ou quem reencarna? Porque não faz sentido aceitar a continuidade do eu se esta continuidade foi rompida e as memórias se perderam, então neste caso o argumento de que somos uma alma imortal é absurdo. O que me importa ser imortal se não posso gozar disso?

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