E se a conquista da meta não for o mais importante na vida? E se o importante de verdade for o caminho que essa meta te faz percorrer?
Faz algum tempo eu comecei a me dedicar a leitura de literatura política para entender o que diabos estava acontecendo com aquele mundo de normas e comportamentos que eu conhecia e que estava sendo desconstruído tijolo a tijolo. Não leva muito tempo até você começar a perceber que você mesmo está em algum lugar do espectro político, de acordo com seus valores e afinidades... E alguns desses valores nos são caros. E eles tem mais a ver com sua personalidade do que com questões políticas.
Depois de algum tempo (e algumas brigas) acabei percebendo o problema "humano, demasiado humano" da questão (novamente): coalizões políticas são feitas de pessoas e pessoas são corruptíveis e pecadoras.
Pode soar clichê citar a história do quebra-cabeças de duas faces em que consertar o mundo só é possível consertando o homem do outro lado, afinal, grupos são compostos de indivíduos. A sabedoria contida aqui é que "não se muda o mundo a não ser que se mude um ser humano de cadas vez". Portanto, todo coletivismo está fadado ao fracasso.
Pense um pouco em como é complicado ser cristão num meio secular porque as pessoas desacreditam umas das outras e, portanto, desacreditam que a santidade seja possível, e desacreditam de VOCÊ, e isso te afeta, inviabilizando assim a SUA santificação enquanto cristão. Nem por isso a santidade se torna algo ruim ou uma meta que não valha a pena. Veja bem: ser perfeito é impossível, mas melhorar não é! E você sempre poderá melhorar enquanto o alvo for ser perfeito. Sempre haverá algo a aprender, algo a praticar, algo a descobrir, um caminho a seguir... E esse caminho é nobre.
O que isso tem a ver com política? Não se trata de ignorar a política nem se eximir de toda e qualquer participação. Ter uma política justa deve ser nosso objetivo, ainda que impossível. Mas como não cair na ameaça das utopias que tentam fazer o Céu na Terra reformando o mundo e redimindo o homem sem a participação de Deus?
Foi aí que eu percebi que, assim como a salvação é individual e, no final das contas só existe religião de um homem só, o único posicionamento político possível é contrário ao espírito do Estado, ou seja, conforme Atos 5:29: "Mais importa obedecer a Deus que aos homens".
O desejo pela ausência do Estado tem mais a ver com "simplificar a quantidade de variáveis que interferem sobre a vida individual" do que com o "desejo pela desordem" como alguns referem ao usar os termos derivados de "anarquia" pejorativamente. Todos, invariavelmente, temos que limitar a quantidade de dados que iremos analisar antes de poder tomar decisões sem enlouquecer diante dos detalhes. Por exemplo: sempre preferi ter escolhas a não ter; sempre preferi decidir a deixar que o fizessem por mim; e sempre estudei não para mudar o mundo mas para entender a verdade e agir, eu mesmo, de forma justa. Não posso querer mais do que isso sem me tornar um tirano atravessador da liberdade e da responsabilidade alheias.
Como eu pude esquecer tudo isso? Aparentemente porque a anarquia não pode governar... Mas, e daí? C. S. Lewis escreveu na trilogia espacial que "é loucura um ser da mesma espécie governar os demais porque ele não é moralmente superior a eles", porque este não poderia agir com mais justiça que seus iguais. E ele estava certo. O caso é que, não precisamos de fato de um governo no dia-a-dia e não há anarquia no sentido pejorativo quando existe a providência divina.
Eu não quero que as pessoas obriguem umas às outras a fazer nada. Eu quero que elas decidam! Eu quero que elas saibam a diferença entre o bem e o mal e sejam responsáveis por suas escolhas. Eu não quero ter que colocar alguém na incumbência de resolver problemas que eu mesmo não tenho coragem de tentar. Eu quero que minha vida e a dos demais seja auto-responsável. Sejamos francos: o mundo seria melhor ou pior se as pessoas tivessem liberdade com responsabilidade sobre a vida, liberdade e propriedade uns dos outros?
Dane-se que ninguém sabe se é possível ou não uma civilização se manter sem um bando de malucos escrevendo que você só tem direito ao que eles rabiscam em calhamaços de papel às custas das posses que tiram de você à força: seu dinheiro, sua fé, sua dignidade e sua vida... A questão da crença na necessidade ou não da existência do Estado na verdade é: qual dessas crenças me faz mais autoconsciente? Qual me faz melhor? Qual me ajuda a ficar mais perto de Deus?
E daí que a liberdade não possa ser um princípio pra reger a sociedade? A responsabilidade pode.
Toda vez que leio a censura de Deus sobre o pedido de Israel por um rei, toda vez que ouço "Symphony of Destruction" do Megadeth, toda vez que vejo um representante eleito se perverter eu me pergunto como toda essa polarização política me fez esquecer que não se trata de mudar o mundo mas de mudar a si mesmo? É preciso ser mais justo a cada dia.
Mas e os outros que se aproveitam, oprimem, escolhem errado, se corrompem ou acreditam no sistema? ...Nas palavras do próprio Cristo:
"Que te importa este? Quanto a ti, segue-me." João 21:22
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