Recentemente o Proibido Pensar publicou um texto chamado "Doces mentiras científicas". Mas há alguns pontos sobre a ciência que devem ser abordados a partir da educação formal como é feita. No tipo de educação que é ministrada numa sociedade encontramos uma "versão diminuta" dessa sociedade, então do sistema educacional podemos retirar flashes de como serão os indivíduos bons, maus, fracassados, de sucesso, insubordinados e agitadores ou legalistas e tradicionais, sendo os que fogem do padrão um sintoma de certos aspectos e mazelas sociais que a maioria não quer ver.
Assim sendo, não dá pra criticar as tendências e movimentos sociais e as abordagens científicas sem questionar a educação e suas bases.
No referido texto começávamos falando de Karl Popper e da falseabilidade científica:
"Popper argumentou que a teoria científica
será sempre conjectural e provisória. Não é
possível confirmar a veracidade de uma
teoria pela simples constatação de que os
resultados de uma previsão efectuada com
base naquela teoria se verificaram. Essa
teoria deverá gozar apenas do estatuto de
uma teoria não (ou ainda não) contrariada
pelos factos.
O que a experiência e as observações do
mundo real podem e devem tentar fazer é
encontrar provas da falsidade daquela
teoria. Este processo de confronto da teoria
com as observações poderá provar a
falsidade (falsify) da teoria em análise.
Nesse caso há que eliminar essa teoria que
se provou falsa e procurar uma outra teoria
para explicar o fenómeno em análise."
O Proibido Pensar então concluiu dizendo:
Então, basicamente ciência é aquilo que
pode ser contrariado pelos fatos. Em suma
ciência é aquilo que pode ser falseado.
Preciso dizer mais alguma coisa?
Tenha isso em mente da próxima vez que
alguém tentar apresentar argumentos
"científicos" de que entrar em contato
consigo mesmo é o melhor caminho da
felicidade, ou que a matéria inanimada
"pode" gerar vida por si só, ou que Deus
não existe, ou ainda que todas as coisas no
universo são na verdade uma só.
Não estou defendendo a ignorância, estou criticando as instituições estagnadas que ditam as normas de nossas vidas. Mal podemos seguir nossa ideologia a menos que os grupos governantes concordem. Estranhos educam nossos filhos nas escolas, tv e universidades, mas não temos o direito de fazer o mesmo nós mesmos. Paulo Freire já dizia que "Não existe educação neutra." Nem mesmo é possível saber os objetivos desses "estranhos". A maior parte das coisas que aprendemos das instituições são baseadas na lei da autoridade antes de se ensinar os jovens a lógica, a (dedução, silogismos, etc) ou mesmo a experimentação, o que não apenas é um insulto à inteligência do jovem como também faz parte de um processo de acomodação enlatada de saberes aos quais somos condicionados e de que pouco sabemos na realidade. E esse processo produz o dilema do status a nível intelectual, desgosto pelo saber entre os menos dotados e sobrecarga aos ombros de quem tem livre acesso ao saber. Quanto maior a quantidade de variáveis a ser analisada para se tomar uma decisão, maior a possibilidade de se tomar uma má decisão ou não se tomar decisão alguma e simplesmente se abandona o caso. Isso é ser fraco ou inferior? Não. Isso é reconhecer suas limitações.
A educação institucional faz de qualquer um presa fácil já que seu conhecimento só tem valor se vier numa certa formatação ou se vier referendado por uma elite que goze de status de conhecedor de qualquer coisa. Em última análise, nada além da metafísica e da lógica pura pode ser confirmado, pois essas duas se limitam aos mecanismos mais básicos de nosso raciocínio, sem os quais não poderíamos saber coisa alguma. A capacidade de raciocínio lógico é inata e não depende de provas. Sabemos que não pode haver uma mentira verdadeira porque é absurdo e não precisamos desenterrar artefatos, pesquisar em bibliotecas ou obter PHD pra saber disso. É óbvio. Quando levamos em consideração que todo mundo é passível de mentir pelos mais diversos motivos e que isso pode ser usado contra nós nossas crenças deviam se pautar apenas naquilo que todos podem entender e nas consequências desses raciocínio inegáveis. Vide primeiros princípios.
Clarice Lispector tinha algumas palavras a respeito quando escreveu...
"Uma Doçura de Burrice
Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
Aproveite a certeza porque daqui a uns... sei lá... 300 anos as pessoas vão dizer que não foi Clarice que escreveu isso, mas apenas que "a maioria dos historiadores admite que ela pode ter escrito, enquanto para alguns Clarice nunca existiu!"
Vale lembrar que não estamos defendendo a ignorância (pelo amor de Deus, o nome do blog é pra ironizar). Mas temos que admitir que para preservar nossa sanidade precisamos de uma "alienação controlada" cortando os excessos e estimulando o ceticismo pra que as pessoas pensem mais e se preocupem menos com embasamento já que no final das contas tem poucas coisas sobre as quais ter certeza.
Em se tratando de educação, aprender de verdade e aprender a verdade, faça como o Surfista Prateado, siga sua consciência e se guie pelo próprio raciocínio LÓGICO. Ninguém merece ter que pensar unicamente por referências de Galact... digo, dos outros...
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